Wednesday, November 19, 2008

Trinta Dias de Noite, de David Slade


Sam Raimi esteve para realizar Trinta Dias de Noite, mas optou por produzir e a cadeira de armar passou para David Slade, responsável por Hard Candy. Fica assim por saber-se o resultado que o realizador de Evil Dead obteria, mas depois da pobreza de três Homens-Aranha, talvez não fosse muito melhor. Infelizmente, isso não quer dizer que Slade tenha sido bem sucedido.

Em primeiro lugar, havia uma graphic novel de sucesso para adpatar, e para isso juntou-se um dos seus autores, Steve Niles, com um argumentista de confiança de David Slade, Brian Nelson (guionista deHard Candy) e Stuart Beattie (guionista da trilogia Piratas das Caríbas). Para além das alterações de mera cosmética, todas elas para pior, apagou-se um dos sub-plots do livro, relativo a Nova Orleans, para não desviar a atenção.

Muito sinceramente, o livro Trinta Dias de Noite não é nada de especial. Para além de uma invulgar opção estética que rapidamente se banaliza, tem um conceito, uma premissa, e esgota-se nisso. Uma cidade que fica sem sol durante trinta dias é o local ideal para um bando de vampiros poder alimentar-se durante um mês sem ter de preocupar-se com o sol. É quanto basta para se poder criar uma história de sucesso, seja em BD ou no cinema. A partir desse pequeno lampejo de originalidade, ou que passe por originalidade, só é preciso saber gerir o tempo, para que as emoções pretendidas fluam.

O tempo é o primeiro problema de Trinta Dias de Noite. E não me refiro à neve e ao frio, refiro-me à passagem de 30 dias em hora e meia. Como passam os dias? Um grupo de sobreviventes esconde-se num sótão sem comida e de repente aparece num canto do ecrã a indicação de Dia 7. Fogem para uma mercearia local e a indicação seguinte é Dia 18. Não faz sentido nenhum. Numa aldeia minúscula, com raids de vampiros que cheiram o sangue dos humanos, era impossível passar-se uma semana sem peripécias ou perigo de vida. Se se passasse tudo numa ou em duas noites, ainda vá que não vá...

Os vampiros chegam às primeiras horas da primeira noite de noite (passe a expressão) e segue-se a devastação. De uma assentada, pulando com a ajuda de cabos e com dentes postiços que deixam os actores que os usam com a boca sempre aberta (os dentes aguçados são tão compridos que não cabem numa boca fechada), matam três quartos da população. Não seria suposto fazerem prisioneiros, para poderem alimentar-se diariamente, devagar? De que serve ter 30 dias se a intenção é um sprint?


Nas cenas dos ataques, abusa-se tanto dos guinchos (e ruídos ensurdecedores por parte da banda sonora repelente), tornando-as mais agressivas aos ouvidos do que aos olhos. Dos vampiros propriamente ditos, tomamos um deles por líder unicamente pelo facto de ser o único que conhecemos como actor (Danny Huston), por dar ordens e só ele falar. Os outros apenas grunhem e guincham, e têm sem excepção uma aparência mais de zombies do que de vampiros, tirando o pormenor dos dentes afiados (a dentição inteira, não apenas os caninos); aparte os momentos em que dão saltos gigantes puxados por guindastes apagados na pós-produção, não são capazes de esticar as costas e têm expressões animalescas, que é o melhor que encontro para não as referir como embrutecidas ou imbecis.

Para quem está habituado à nobre delicadeza de Drácula, estes seres são um passo de gigante atrás. Chegaram num navio que ficou preso no gelo do Alasca (terão atravessado o Atlântico sem serem abordados por nenhuma polícia marítima?), a alguns quilómetros da localidade, mas a aldeia nem sequer tem um farol (qualquer cidade costeira tem um, precisamente para que os navios não embatam em terra).

No comic, os vampiros raciocinam e travam diálogos entre si e até com o protagonista humano. No filme, só um fala, através de uma língua estranha suportada por legendas (será romeno antigo da Transilvânia?), com um discurso pobre e mal articulado, e andam todos de boca aberta, respirando como asmáticos (por não espaço no maxilares para os dentes postiços).

E o que dizer da cena de abertura sobre uma pilha de telemóveis destruídos e queimados, que não chega a ser explicada, nem no livro nem no filme? É suposto ter sido uma medida de segurança dos vampiros? Roubarem todos os telemóveis sem ninguém dar por isso? Mas as pessoas não os trazem naturalmente consigo, nos bolsos das calças ou dos casacos?

No fundo, a adaptação é sofrível e os vampiros são sombras desprovidas de carisma. Os sobreviventes humanos não têm substracto. Josh Hartnett nada traz à trama e de Melissa George só se repara nos dentes de quem chuchou anos a mais. A conclusão da invasão é idêntica em livro e filme, e é idiota em ambos veículos: um vampiro milenar e bem alimentado nunca seria derrotado por um principiante que provara apenas uma ampola de sangue de vampiro. Se o segredo dos vampiros está no sangue, o deste filme está à vista.

30 Days of Night

1 comment:

  1. Gostei desse filme. Gore? Muito! Mas acho que tem muito suspense também, não acha? Gostei sim! Vale a pena ver.

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