Wednesday, November 19, 2008

A Invasão, de Oliver Hirschbiegel


É a quarta versão de Invasion Of The Body SnatchersBaseado no livro de Jack Finney (1954), o tema era, mais do que uma invasão de extraterrestres, a intrusão do governo americano na vida dos seus cidadãos. Em plena era McCarthy, a caça às bruxas e o medo do comunismo tinham-se aliado ao pânico do nuclear, em que as guerras já não eram travadas frente a frente, mas com uma simples bomba capaz de aniquilar milhões. As pessoas tinham de andar na linha, porque senão poderiam ser apelidadas de simpatizantes soviéticas, com tudo o que isso acarretava: ostracismo, desemprego, devassa da vida privada. Jack Finney introduziu a vertente extraterrestre apenas para poder levar água ao seu moinho, de dentro para fora. A primeira adaptação cinematográfica (A Terra Em Perigo, 1956) ficou a cargo de Don Siegel, mas até hoje é o remake de Philip Kaufman (A Invasão dos Violadores, 1978), que soma mais elogios. Em 1993, Abel Ferrara foi literalmente obrigado a realizar um novo remake (Violadores: A Invasão Continua), por obrigação contratual, mas esse filme estava mais preocupado com efeitos especiais do que com os aspectos politico-sociais do romance original.

Em 2004, a Warner Bros contratou Dave Kajganich para escrever um novo remake ao filme de 1956. Considerando-o suficientemente original, o filme passou a intitular-se apenas A Invasão, mas foi alterado para The Visiting para que não se confundisse com a série televisiva Invasão. A série foi entretanto cancelada pela ABC e o filme repescou o título. O realizador Oliver Hirschbiegel foi contratado para realizar e Nicole Kidman e Daniel Craig para protagonistas. Durante as filmagens no Outono de 2005, Craig tornou-se James Bond (o facto de Jeffrey Wright, o pior Felix Leiter de sempre, ter entrado em Casino Royale, pode ter tido a ver com uma amizade criada com Craig no set de A Invasão – onde Wright também demonstra estar-se borrifando para o seu papel). Mas, em vez de estrear no verão de 2006, a WB torceu o nariz à montagem do realizador e chamou os irmãos Wachowski para uma reescrita maciça, e as cenas destes foram realizadas por James McTeigue, que já dirigira V de Vingança, produzido por eles.

Pelo que se sabe, o realizador Oliver Hirschbiegel (A Queda, 2003, sobre as últimas horas de vida Hitler, com Bruno Ganz), dispensou praticamente qualquer efeito especial, cingindo-se a posições de câmara invulgares, para criar medo e tensão, e muito do seu filme era alegoria política, desnudando a apatia social e a insegurança pós 11 de Setembro. Infelizmente, só saberemos até que ponto esse resultado valeria a pena se houver uma edição em DVD com o mesmo, porque depois de os irmãos Wachowski rescreverem pelo menos um terço do filme, aquilo que chega ao público é vergonhoso. Antes de mais, porque se trata de um terceiro remake, e não se verifica o menor propósito ou objectivo nesta aposta extremamente simplista de capitalizar numa árvore que já deu frutos, ainda para mais quando tem de competir com a versão de Kaufman, considerada um dos melhores remakes de sempre do cinema. Cortou-se no dom da palavra e substituiu-se com fugas a pé e de carro, espalhafato dirigido a um público que se quer que continue sonâmbulo, sem ver para além das palas que se lhe ajuda à cabeça.

Nicole Kidman parece ter sido invadida pela praga subcutânea alienígena antes mesmo desta chegar à Terra. Os seus lábios estão inchados e os seios invulgarmente rubicundos, fazendo acreditar numa desnecessária cirurgia plástica. De resto, o filme é um bocejo de ponta a ponta, apesar do seu ritmo acentuado de cena inútil para cena inútil. O twist final é tão abrupto que choca, mas unicamente pelo seu moralismo de pacote. Num filme tão apagado, é o final apropriado. Para que se possa dormir à noite. O ser humano é umas lástima, viva o ser humano...

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