À partida, havia aqui material para uma boa promessa. Sexo e tortura. Desde os loucos anos 70 que o cinema de terror precisa de pouco mais. Brian DePalma, por exemplo, foi um cultista do género, praticando o explícito tanto quanto a época lhe permitia (com “Body Double”, de 1984, por exemplo, mistura voyeurismo, pornografia e um homicídio com um berbequim gigante). “Massacre no Texas”, dez anos antes, é ainda hoje dos filmes mais chocantes no que toca a cenas de tortura, e não é por acaso que uma moto-serra nunca mais foi vista com os mesmos olhos. E por toda a década de 80, multiplicou-se a criatividade no homicídio cinematográfico. O próprio Quentin Tarantino (produtor de “Hostel”), nunca dispensou uma torturita ou duas em cada um dos seus filmes.
Proliferaram as oficinas de efeitos especiais, nascendo nomes de culto equiparáveis aos dos realizadores mais famosos. Saltam à memória nomes imortais como os de Tom Savini, Stan Winston e o próprio Greg Nicotero (outrora parte dos KNB – Kurtzman, Nicotero & Berger) criador das próteses e maquilhagem de “Hostel”. Ultimamente o seu trabalho pode ser reconhecido em “Serenity”, “The Hills Have Eyes - Remake”, “Crónicas de Nárnia” “A Ilha”, “Terra dos Mortos”, “Amityville Horror”, “Sin City”, “Kill Bill – Vol.1 e 2”, mas a sua técnica remonta aos anos 80, época em que esteve envolvido com nomes como Wes Craven, John Carpenter, George A. Romero e Sam Raimi (os belos tempos do experimentalismo).
Quantas fitas não se fizeram em que os primeiros cinco minutos apresentavam as vítimas e nos restantes 85 minutos apenas se lhes ia limpando o sebo uma a uma (“Sexa Feira 13” e suas dez sequelas, “Halloween” e as suas sete sequelas, “Palhaço Assassino”, sei lá quantos mais), sendo que o seu único mérito, se tanto, se situava na inovação dos métodos de carnificina? “Hostel” capitaliza na publicidade a dois temas: sexo e tortura. Se no que toca a sexo o filme é mais discreto do que o “Porky’s” ou qualquer dos três “American Pie”, esperava-se que compensasse pela tortura. Infelizmente, nada mais falso. Falta inspiração a todas as cenas e originalidade às formas de tortura. Fazer furinhos nas pernas e tronco de uma pessoa (simplório – que tal atravessá-las como no já mencionado “Body Double”?); cortar dois dedos (muito mais impressionante no remake da “Casa de Cera”); lábios costurados (já estavam no cartaz e numa cena de um filme intitulado “Mute Witness - Não falarás” de 1994); cortar o tendão de aquiles (no já mencionado “Casa de Cera”); arrancar um olho (até podia funcionar, se não estivesse tão mal feito!).
Clive Barker, escritor e realizador de “Hellraiser” e “Nightbreed”, poderia ter sido uma grande ajuda, como consultor. Especialista em dor e castigo, até desenhou distorcidos e torturados personagens famosos dos mais conhecidos contos infantis de Hans Christian Anderson (e outros) para colecções de bonecos de Todd McFarlaine (“Twisted Tales”).
Assim, o que sobra a “Hostel”? Já de si, é difícil engolir que três adultos de férias pela Europa, dormindo de hostel em hostel, partam ao desconhecido para um país de leste cuja língua não falam, só atrás de miúdas. Reconheça-se, só um otário imagina que as de um sitio qualquer são melhores ou diferentes do que as do resto do mundo.
Poder-se-á ao menos contar com um pouco de suspense que cative? Bem, no meio de toda a previsibilidade, este enfadonho, fastidioso, simplista e desinteressante objecto de porno-horror consegue funcionar como fantochada, uma pequena sátira ao género. O final do tipo «nenhum dos maus se livra sem uma vingança exemplar» ainda chega a provocar um sorriso menos amarelo. Se tanto.
De qualquer modo, o anterior filme de Eli Roth, "Cabin Fever", não auspiciava nada de bom. E com este novo projecto, para além de não ter progredido na carreira, arruinou-se todo o turismo na Eslováquia.
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