Wednesday, November 19, 2008

O Génio do Mal, de John Moore


Para toda a acção há uma reacção, e se o filho de Deus deu origem ao calendário ocidental, o segundo milénio pertenceria ao filho de Lúcifer, o Anti-Cristo. Para aproveitar a data, 06-06-06, mais conhecida por corresponder ao profetizado “número da Besta”, fez-se à pressa este remake do primeiro filme de uma trilogia que começou em 1976 e terminou em 1981 (e teve ainda uma quarta parte em 1991, feita para a televisão, com Damien a reencarnar numa menina, Delia, e um documentário geral das filmagens, editado em 2001).

A história segue em grossas pinceladas a trama original, mas Gregory Peck e Lee Remick não têm paralelo no inexpressivo Liev Schreiber (com a mania de que é alguém desde que adaptou e realizou “Everything is Iluminated”, com Elijah Wood) e em Julia Stiles, competente e envelhecida, mas sem garra.

Com dois filmes sofríveis no currículo (“O Voo da Fénix” e “Behind Enemy Lines”), John Moore continua sujeito à mesma crítica. Tecnicamente, “Omen” avança sem grandes solavancos, mas o ambiente inquietante e os arrepios na espinha que deveria provocar foram totalmente esquecidos. Resta-nos a presença maior de Mia Farrow, deslumbrante como maquiavélica preceptora de Damien (mãe adoptiva de 14 crianças, é natural que se sinta aqui à vontade). A melhor cena de David Thewlis (que para sempre ficará na nossa memória por causa de “Naked”, de Mike Leigh) é quando ele perde, literalmente, a cabeça.

Mas, se Liev Schreiber é o pior substituto possível para um actor, Seamus Davey-Fitzpatrick (o miúdo que representa o filho do Diabo) deve ser o pior mimo do mercado, e digo “mimo” porque praticamente não abre a boca. Escolhido por razões insondáveis, tem mais ar de doente terminal do que de malévolo.

Um pormenor bem talhado graficamente verifica-se na abertura, quando, na ficha técnica, os “T” são substituídos por cruzes e os “O” por “6”. Mas as gaffes são mais do que muitas. O jornalista descobre um padrão nas suas fotos que evidencia quando alguém vai morrer, simbolizado por uma lança de luz, e teme vir a morrer em breve porque um auto-retrato mostra o mesmo efeito; mas não tira uma foto a Thorn, com quem vai à caça da solução, para ver se este tem mais hipóteses de sobrevivência (seria natural que o fizesse, pelo sim pelo não). Há um único mastim a proteger o Anti-cristo, mas num cemitério abandonado algures em Itália aparecem dois ou três (é desproporcionado). Thorn viaja para todo o lado à procura de uma resposta, mas tem de ir de Roma a Jerusalém para encontrar o antropologista que guarda o estojo da única arma capaz de matar o anti-Cristo (o antropologista fica à espera que Thorn vá ter com ele, e reitera que se Thorn não agir todo o mundo perecerá, mas não fez um gesto para ir ter com Thorn). Thorn regressa de avião com o estojo dos punhais no colo – eu sei que ele é embaixador, mas só a mala diplomática é que não é revistada!

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