Nos tempos que correm, cabe perguntar da necessidade de fazer remakes. O cinema de terror tem-nos feito em catadupa: “A Casa de Cera”, os japoneses “The Ring” e “Ju-On”. John Carpenter teve direito a dois este ano: "Assalto à 13ª Esquadra" e "O Nevoeiro".
O nome de John Carpenter liga-se indelevelmente ao cinema de terror dos finais de 70, época em que, diz-se, revolucionou o género (foi o que se disse de Kevin Williamson com a trilogia “Gritos”, e onde está ele agora?). A contribuição de John Carpenter consistiu apenas em dar ao conceito de suspense uma elasticidade impensável, que ia de uma ponta à outra de um filme; praticamente não era preciso haver história, mas tão só a inesgotável iminência de perigo, quase nunca cumprida, mas sempre a acenar como a cenoura no cordel à frente do burro. E beneficiou do ímpeto iniciado pela banda sonora de Mike Oldfield para “O Exorcista” para aprimorar a sensação de medo através das teclas do piano e de ruídos electrónicos.
Os seus filmes mais famosos foram “Halloween”, “Christine O Carro Assassino”, “Príncipe das Trevas”, “Escape from New York” (“Nova Iorque 1997”), “Assalto à 13ª Esquadra” e “O Nevoeiro”. Quanto aos remakes, “Assalto...”, de Jean-François Richet, soube aproveitar os ingredientes do original e moldá-los a contento, actualizá-los, alterar peripécias e até alguns pontos-chave. “Massacre no Texas”, a título de curiosidade, é outro exemplo de um remake bem sucedido.
No enredo d“O Nevoeiro” original, o navio onde seguia um grupo de leprosos, que comprara uma ilha deserta na Califórnia para terminar sossegadamente os seus dias, é atraído contra as rochas por um truque daqueles que supostamente iam vendê-la. A cobro de um espesso nevoeiro, dão a ideia de que a costa está ainda distante e o navio afunda-se. Os quatro responsáveis adquiriram a ilha com o ouro roubado aos leprosos e agora chegou a hora da vingança, sobre os descendentes dos fundadores da ilha. A única alteração deste remake, ainda para mais estúpida, pois exclui o nevoeiro que dá título ao filme, é que os fundadores pegam fogo ao navio ainda a alguma distância da costa. Tudo o resto é cosmética e até o novo efeito do nevoeiro, que agora está lá só porque sim, é tecnicamente inconsistente. Se Carpenter se queixara em 1980 que tinha sido construída uma cidade em miniatura e utilizada uma máquina de fazer fumo para provocar o nevoeiro, com resultados insatisfatórios, vinte e cinco anos depois não se melhorou nada. Falta de dinheiro, talvez, ou de cuidado?
Nada na história faz sentido. Porquê 100 anos depois (para além de ser um número redondo)? Porquê a coberto de um espesso e inexplicável nevoeiro? Porquê contra os descendentes que não têm culpa nem conhecimento dos actos dos bisavós? Bem, uma das prorrogativas do cinema de terror é poder deixar por responder mais do que aquilo que soluciona. Mas aqui não há terror nem sequer uma lógica interna. Se a vingança dos leprosos era de sangue, contra os descendentes de quem os matou pelo fogo, porque é que não o fazem na mesma moeda (ninguém é queimado vivo), discriminam as vítimas (nem todos os herdeiros são perseguidos e mortos e há vítimas que nada têm a ver com as famílias de quem se querem vingar). E o nevoeiro em que se movem, qual o seu significado, aqui? Morreram queimados, não enevoados.
As personagens são todas planas e praticamente nem se pode dizer que haja protagonistas. Há um jovem pescador e a sua namorada que acaba de regressar ao fim de seis meses, uma locutora de rádio e as suas famílias. Nenhum deles contribui com nada interessante. Penso que até pode ser considerada uma desilusão a existência de sobreviventes no final. E, por falar em final, aquilo que o argumentista Cooper Layne supôs ser uma reviravolta inesperada, é apenas imbecil. Uma das descendentes dos assassinos revela-se a cara chapada da mulher do líder dos leprosos e parte com ele, não na direcção do pôr-do-sol, mas do... pois claro... nevoeiro.
Tom Wellig e Maggie Grace são actores que vêm do pequeno ecrã, ele de “Smallville” e ela de “Perdidos” (um pouco ao jeito de “Ju-On”, cujos protagonistas eram Sarah Michelle Gellar de “Buffy” e Jason Behr de “Roswell”). Não é com este filme que iniciarão carreira em cinema. Selma Blair, então, está lá a fazer tão pouco como Erika Christensen fizera em “Flightplan”.
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