Saturday, January 5, 2013

Massacre no Texas 2, de Tobe Hooper



Massacre no Texas, de 1974, chocou o mundo. Terror no sentido mais arrepiante e gélido da palavra, perseguiu a audiência com um intenso e incómodo suspense durante os primeiros quarenta minutos, atingindo um sadismo sem limites quando a marreta (para abate de bovinos de duas patas) e a serra eléctrica (para o subsequente desmembramento do gado) entram em acção. Filmado sem meios técnicos, com uma banda sonora inteiramente concebida pelo aproveitamento de ruídos mecânicos ensurdecedores e um guião simples e prendado, é um dos mais marcantes slashers de sempre e, na medida exacta de nervos e brutalidade, único até na carreira de Tobe Hooper, o seu realizador.
 
A reforçar o mito urbano, que subsiste até à data, de que Steven Spielberg teria, efectivamente, filmado Poltergeist (1982) e Tobe Hooper produzido, ao contrário do que indica a ficha técnica (estando uma aposta na origem da troca), o currículo deste está cheio de laxistas e inanes filmes série B, Z e até despedimentos de funções, com as últimas décadas a tarefar na televisão.
 
No intervalo entre Massacre no Texas e a sequela, o cinema de terror ganhou Michael Myers (Halloween, 1978), Jason Voohees (Sexta Feira 13, 1980) e Freddy Kruegger (Pesadelo em Elm Street, 1984), pelo que o guião se decidiu pela antítese do original. Em vez de incubar o suspense até este saltar do ovo a brandir a motosserra, assiste-se a um grand guignol que tresanda a amadorismo, com a segunda metade do filme passada nos túneis de uma mina a abarrotar dos despojos barrocos de Versailles, sem que cenários e acção se casem no menor envolvimento emocional. Onde o primeiro filme era visceral, este agoniza em seco. O orçamento parece ter sido gasto na transformação da mina num parque temático infernal, onde os actores se dedicam a uma dança mais patética do que macabra, fazendo da intencionada descida à demência um histérico festival de berraria (razão pela qual se cunhou o termo scream queen para as donzelas de bons pulmões) e conversa fiada (o líder do clã dispersa-se em cansativos monólogos sobre a dificuldade de arranjar carne de qualidade).
 
Apesar de Caroline Williams e Bill Moselley darem conta do recado, Dennis Hopper é o tipo de cepo que escolheu mal a profissão, a par do realizador que o escolheu. Gunnar Hansen não regressa como Leatherface. Aliás, cada sequela tem um actor diferente neste papel, se descontarmos o remake (2003) e a prequela (2005), onde Andrew Bryniarski reprisa, o que já não acontecerá em Massacre no Texas 3D. É Bill Johnson a cumprir o fado, não exagerasse um pouco no jogo de ancas com que acompanha o ritualístico erguer da motosserra. John Larroquette também não regressa como o icónico narrador (retornando apenas para os mencionados remake e prequela).
 
São tantas as coisas erradas com Massacre no Texas 2, que convém começar pelas notas positivas. Os efeitos prostéticos de Tom Savini, a tensão na minitour da estação de rádio (com o pormenor do cabide coça-placa na cabeça), Leatherface colocar um rosto dissecado sobre a cara da namorada, o avô a deixar cair, anti-climaticamente, o martelo de abate e a heroína a brandir a motosserra no desfecho. Também não é muitas vezes que se vê uma heroína, prestes a ser dilacerada, gritar, incisivamente, “Pára, vamos falar sobre isto”.
 
Entre os defeitos, a narração inicial mal coincide com a passagem das letras no ecrã, demasiado rápidas para a voz que as acompanha; o primeiro crime tem lugar numa ponte e a cena do crime, de manhã, é filmada numa ponte arquitectonicamente diferente; e o tempo que o personagem de Dennis Hopper perde a cortar tábuas na mina. Na mediocridade, porém, acaba por ser melhor sequela do que as seguintes (Massacre no Texas III e IV).
 
The Texas Chainsaw Massacre 2 1986