Monday, April 27, 2009

Espírito do Mal, de David S. Goyer

Filme tão decepcionante quanto o argumentista/realizador. David S. Goyer é o nome por trás dos argumentos de Implacável – Death Warrant (filme com Jean-Claude Van Damme) e Nick Fury: Agente da SHIELD (David Hasselhoff), mas também de Crow II, Dark City, Jumper, da trilogia Blade e do reboot de Batman (Begins e Dark Knight). Atrás das câmaras, assinou recentemente os fracassados Blade 3 (2004) e Invisível (2007).

Espírito do Mal é mais um filme de terror produzido por Michael Bay, que parece produzi-los em série, não se cingindo aos remakes de clássicos de que tem sido pródigo, exemplos dos quais são Massacre no Texas (2003), Sexta Feira 13 (2009) e Pesadelo em Elm Street (2010).

A credibilidade de Espírito do Mal é afectada logo aos 20 minutos de duração, pela frase «Jumby quer nascer já». Não só o nome Jumby é ridículo para um monstro, como a frase (inclusa em alguns cartazes publicitários) entrega logo todo o mistério. A sofrer de falta de juízo e de imaginação, pouco ou nada sobra a este óbvio exercício de ineptidão. Mistura um menino fantasma com memórias de Auschwitz e atira-lhe para cima com um exorcismo judaico (porque a alma penada não é católica).
Os espelhos são portais (apesar da entidade aparecer em todo o lado, quer haja espelhos quer não), as crianças corrompíveis (a que propósito é que o filho dos vizinhos funciona como mensageiro da entidade e não sofre o menor trauma ao ser atropelado?) e o espírito consegue, aparentemente, possuir toda a gente sem a menor dificuldade, menos a protagonista, que é quem ele realmente quer. A explicação de que é mais fácil possuir gémeos não colhe dividendos, pois todas as evidências apontam o contrário. Além disso, se o espírito ainda tem o aspecto do menino que possuiu durante o período nazi, isso significa que em sessenta anos não possuiu mais ninguém? Mas na fase final do filme passa de corpo para corpo como quem respira.

Odette Yustman (sósia de Megan Fox, já vista em Cloverfierld) é muito bonita e olhar para ela é um prazer, mas também cansa. Cam Gigandet é o eye candy para o público feminino, mas o appeal do bad boy de OC e Twilight já faz bocejar. Gary Oldman e Carla Gugino são dois nomes totalmente desperdiçados. Ela, pelo menos, safa-se em poucos segundos, sem sequer abrir a boca, mas Oldman é um rabi que não acredita em dybuks (o título judeu para o demónio em questão) e tem de dirigir um exorcismo para expulsar um .

Espírito do Mal é indescritivelmente mau. A história é intragável, as reacções dos personagens não são credíveis, os efeitos especiais são caseiros (a cabeça do velho a rodar parece ser feita em stopmotion capture com uma fotografia da cabeça) e o realizador nem sequer é capaz de estabelecer uma atmosfera inquietante. A música de Ramin Djawadi começa com algum ímpeto, mas desinteressa-se das imagens ao mesmo tempo que o público.

The Unborn 2009

Shutter, de Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom

História de fantasmas que se revelam através de sombras e brilhos em fotografias, mas cujo artifício perde credibilidade quando o fantasma se materializa dispensando a câmara escura. Como qualquer conto deste tema, a narrativa é simples e assenta mais na concretização de uma atmosfera inquietante do que num conceito lógico, e por isso há situações forçadas e incoerentes (houve ou não atropelamento?). Manifesta eficiência em termos de clima, apesar de não imprimir propriamente medo, devido à falta de originalidade das estratégias. O final é péssimo para um filme terror mas excelente para uma comédia.
A dupla de realizadores tailandeses, motivada pelo sucesso deste filme, reincidiu no género em 2007, com o estereotipado Alone. Shutter teve um remake indiano em 2007 (Rivi) e um americano em 2008 (Shutter).
Um erro técnico: o protagonista usa uma máquina fotográfica digital Canon EOS mas revela as suas fotos numa câmara escura – o que é impossível com máquinas digitais, que não têm rolo de película para revelar; e abrir a porta da câmara escura durante a revelação é algo que um fotógrafo experiente também não faz, sob pena de destruir os negativos.
Shutter 2004

Shutter, de Masayuki Ochiai

Remake americano do filme tailandês homónimo de 2004, mais uma história de fantasmas com um pressuposto tão risível como avisos de morte em cassetes de vídeo, telemóveis e electrodomésticos avulsos. Desta vez, o fantasma toma forma em fotografias, mas o artifício é traído quando se materializa fora desse espartilho.

Com os japoneses Taka Ishise a produzir (o mesmo de Ringu e Ju-On) e Masayuki Ochiai, a realizar (Infection), a acção é transplantada para o Japão, a par do que ocorreu com de Ju-On, para onde se muda um casal americano. O fio condutor é fiel ao do original, sendo apenas de cosmética as alterações mais óbvias. Admissivelmente, os eventos traumáticos que justificam a vingança penada são mais coerentes.
Rachael Taylor começa a florir. Em Transformers era demasiado pimpona e em Bottle Shock demasiado pita, mas em Shutter deixa evidenciar talento e beleza (recusou participar em Transformers 2 porque, cito, «é uma coisa que já fiz»). Joshua Jackson preferiu dar provas contrárias, tornando evidente que não leu o guião nem sabe o que é esperado do seu personagem. Megumi Okina, a actriz que no Ju-On original era perseguida pela fantasma é agora a má da fita. James Kyson Lee (o amigo do Hiro Nakamura da série Heroes), Espécie de Lost in Translation com fantasmas, Shutter tem uma excelente direcção de fotografia e pode até revelar-se instrumental para o turismo nipónico. A banda sonora de Nathan Barr também contribui, ele que já compôs para o turismo da Europa de Leste em Hostel e Hostel 2 e para o turismo rural americano em A Cabana do Medo, todos de Eli Roth.

O título Shutter («objectiva») refere-se à captura de imagens de fantasmas em fotografia («spirit photography»), e são as pistas encontradas em fotografias onde o espírito se manifesta que conduzem a investigação.

O argumento de Luke Dawson tenta tirar partido da história original e também da diferença de culturas, mas rapidamente se embrenha em incongruências e na tentativa de reproduzir sustos saídos do manual de instruções. Como a produção apostou num público de idade PG-13 (Maiores de 13 Anos), o nível de intensidade é muito baseado em coisas que não se vêem e a alma penada tem aspecto humano e não de cadáver. Dawson tem uma predilecção idiota por portas abertas para evitar enguiços (ir à procura de um fantasma num edifício de escritórios não tem o que enganar, é só subir de elevador e avançar pela porta do escritório em questão, que por sorte até está vazio; ou quando se quer entrar no apartamento de um amigo ocupado em cometer suicídio) e comete ainda outros erros: não soluciona a acusação de namorada obsessiva (pelos flashbacks, não vemos nenhum indício que o corrobore), e, se o fantasma já sem manifestara nos EUA, porque é que não estragou nenhuma fotografia nem fez peso lá?

Shutter já tinha originado um remake indiano, Sivi (2007).

Shutter 2008

O Motel 2

Quando não se pode andar para a frente, anda-se para trás. Vacancy 2 é a prequela do filme de 2007 com Kate Beckinsale e Luke Wilson. Sem nomes conhecidos e apenas a rechonchuda Agnes Bruckner a dourar a pílula, a fita não deixa de ter algumas surpresas, como exercício de baralhar e voltar a dar. No original, um casal descobria que, ao dar entrada num motel perdido no meio de nenhures, estava a fazer parte de um snuff film em que seriam vítimas em tempo real. Na prequela, é dada à cabeça a informação de que 200 gravações foram feitas antes do desmantelamento da rede e que estamos prestes a assistir aos eventos da primeira.

Claro filme de baixo orçamento e concebido directamente para vídeo, Vacancy 2 é apenas uma curiosidade, mas conta com o argumentista do primeiro filme (Mark L. Smith) para manter a continuidade. A opção é realista, pelo que não se espere grande originalidade nas mortes nem situações over-the-top, mas a coerência da história é suficiente para que o objecto não seja um total desperdício de tempo. Eric Bross, tarefeiro que realizou On The Line em 2001 e Vampire Bats em 2005, não desmerece e Jerome Dillon (dos Nine Inch Nails) trata da envolvência sonora.
Vacancy 2: The First Cut 2009

Tuesday, April 7, 2009

Underworld: A Revolta, de Patrick Tatopoulos


Desengane-se quem esperava rever Kate Beckinsale de vinil preto. Estamos perante uma prequela, anterior ao nascimento da sua personagem, a estrear na realização o especialista em efeitos especiais Patrick Tatopoulos e a manter Danny McBride na escrita.
Ainda havia leite para espremer nesta vaca? Infelizmente, a produção encolheu os ombros e Tatopoulos ligou o piloto automático. A história é épica, retratando o período em que os lobisomens se livraram do jugo dos vampiros, mas é filmada em pequena escala, revelando-se demasiado modesta para convencer. Os cenários são pobres, a fortaleza singela e os figurantes em número embaraçante. Se o compararmos com a fornada típica da série B e Z que sai por ano directamente para DVD ou com os trabalhos do realizador que todos adoram odiar (Uwe Boll), claro que estamos um patamar acima, mas Len Wiseman (realizador dos tomos anteriores) teria feito muito melhor.
Michael Sheen tenta rivalizar a sua prestação com a de Frost/Nixon(do mesmo ano), mas Bill Nighy está pior do que nunca e Rhona Mitra sabe que não foi escolhida pelas suas qualidades shakespeareanas. Ainda assim, ela é uma sucessora digna de Beckinsale: foi a primeiraTomb Raider de carne e osso, já enfrentara lobisomens emSkinwalkers, o monstro Grendel em Beowulf (1999) e todo o tipo de escumalha humana em Doomsday (2008).
De qualquer modo, o produto final é suficiente para acentuar a mitologia e manter acesa a chama Underworld, ao ponto de desejar-se o regresso da dupla responsável pelo seu sucesso, Wiseman e Beckinsale, num quarto filme.
Underworld Rise Of The Lycans 2009

The Lazarus Project, de John Glenn


Um filme sonâmbulo e autista. Sonâmbulo porque se limita a divagar e autista porque não compreende o seu público (ou simplesmente não há público para ele). O filme assenta num mistério tão rasteiro e óbvio que não só se adivinha o final demasiado cedo, como se começa a pensar em formas de melhorá-lo... e não se encontra nenhuma. Sonoplastia e vultos à distância é base para muito pouco, até um argumentista mediano saberia que a insistência num suspense de migalhas tem de ser equilibrado com um contraponto interessante. Em The Lazarus Project há apenas vazio.

Primeiro trabalho atrás das câmaras do argumentista de Olho de Lince. Onde esse filme tinha acção caótica, este não tem nenhuma. Paul Walker é tão inexpressivo que só não foi nomeado para os Razzies de Pior Actor porque o filme é demasiado low profile. Ramin Djawadi, o compositor da série Prison Break e de filmes como Blade Trinity e Homem de Ferro, poderia ter aproveitado a oportunidade para ensaiar variantes inéditas de música perturbadora, mas limita-se a limita-se a improvisar em cima das imagens uns bocejos próximos dos Tomandandy.

The Lazarus Project 2008

Asylum, de Richard E. Ellis


Um completo cliché de aborrecimento e falta de credibilidade. O novo dormitório da universidade foi um hospício para jovens nos anos 30, fechado quando os pacientes mataram o director, um médico com predilecção por lobotomias. Claro que isso não parou o médico...

Se este breve resumo parece uma mistura de Pesadelo em Elm Street 3 com Espelhos e Gritos, as notícias não melhoram. Apesar de já ser absurdo o suficiente que uma universidade tenha sido construída no mesmo espaço que um asilo com um passado escandaloso, o grupo de protagonistas não podia ser mais plano: seis estudantes que vão ficar na mesma ala do dormitório, todos estereotipados: a irmã do suicida, o geek introvertido, o musculado que era gordo, a menina-do-papá que era abusada pelo papá, a latina que era agredida pelo namorado e o drogado em recuperação. O médico está lá para matá-los um a um, com one-liners do tipo «Dá-me o teu sofrimento», que não ficam atrás dos diálogos imprestáveis. Há muito mais adolescentes no edifício, mas o médico fica-se, aleatoriamente, por estes. A explicação? Os outros são meros figurantes.

Sarah Roemer, a beldade de Disturbia, é a melhor coisa que o filme tem, e Mark Rolston (o médico) poderia ser a pior, se o restante elenco não lutasse pelo seu lugar. Mas o responsável pelo fracasso é o realizador Richard E. Ellis, o mesmo que não conseguiu fazer descolar Serpentes A Bordo (2006) e não levou a lado nenhum afranchise Final Destination (2, em 2003).

Filme feito a correr (os atrozes efeitos especiais não enganam) e pejado de clichés (electricidade deficiente, aparições nos espelhos, os personagens e o passado que volta para assombrá-los), não é capaz de instilar o menor suspense nem susto. Chega a confundir os medos dos personagens: há um que tentou salvar o irmão mais novo de morrer numa piscina, mas quem o médico tenta afogar num poliban é outro que nunca teve a fobia da água. O irmão da protagonista tinha-se suicidado na mesma faculdade o ano anterior, mas não é traçada nenhuma relação com o médico. Os disparates proferidos por este são constrangedores de tão ineptos; longe vão os tempos áureos de Freddy Krueger.

Asylum 2008