A abordagem de Rob Zombie a Halloween é mais uma reinterpretação do que um remake. No filme original de John Carpenter (1978), Michael Myers, com seis anos de idade, assassinava a irmã mais velha com uma faca de cozinha, era internado num hospital psiquiátrico e, quando o seu processo ia ser revisto enquanto adulto, fugia no carro que iria transportá-lo e ia concluir a matança à localidade onde antes habitava. Consta que foi John Carpenter que sugeriu a Rob Zombie que personalizasse a história e este tomou o conselho à letra, debruçando-se sobre o período não abordado anteriormente, a adolescência.
Mas, de que serviu humanizar um personagem que simboliza a encarnação do Mal? O lar de anónima e feliz classe média do original deu lugar a uma disfuncional família de white trash, a escola é um lugar de tensão e frustração, matar pequenos animais parece um mero escape à realidade. Depois do crime (agora transformado em plural) vem o internamento, mas o pequeno Myers invoca insistentemente que não se lembra do acto e quer voltar para casa. Depois reserva-se ao mutismo durante 15 anos, período durante o qual vai recheando o seu quarto de máscaras de papel maché.
Entretanto, vai crescendo até ficar tão alto como os oleosos cabelos compridos e bastante imponente para quem nunca fez exercício na vida. Quando o vemos em adulto, perguntamo-nos se não estaremos perante Sean Connery nO Rochedo. Evade-se após uma cena absurda em que dois contínuos arrancam uma paciente do quarto dela, a levam para o quarto de Myers e a violam na cama dele. Bem vindos ao universo de Rob Zombie, sem tirar nem pôr.
Na parte final, Michael finalmente coloca a máscara do Capitão Kirk e vai repetir os passos que deu em 1978. Mas, se no original as vítimas são meras adolescentes de um liceu local (o filme até esteve para intitular-se The Babysitter Murders), Rob Zombie adiantou otwist sobre Laurie Strode que só chegara na sequela de 1981, mas depois fez o xerife abrir a boca e estragar a lógica do mesmo (caso contrário, o total secretismo do acto invalidaria que Michael Myers tivesse dele conhecimento).
Em conclusão, o novo Halloween muda para pior tudo aquilo em que mexe. Humanizar Michael Myers apenas serviu para que a segunda metade parecesse pertencer a um filme diferente. No filme original, os seus crimes eram inumanos pelo total vazio emocional; na nova versão, ele é apenas fruto de um mau ambiente familiar e as explicações subvertem a aura maligna que o caracteriza. Como se não bastasse, o famoso (e arrepiante) tema musical de John Carpenter ouve-se pela primeira vez numa ocasião deveras inadequada, desperdiçando completamente o seu efeito (e a remistura de Tyler Bates é bem pior do que a de, por exemplo, Danny Lux em H20).
Comparativamente aos filmes anteriores de Rob Zombie, este é o mais convencional. Filmado com segurança e linearidade, fica claro, em retrospectiva, um desejo de aceitação pela indústria, mas também as suas limitações no campo narrativo. Brutalidade sangrenta e linguagem ordinária não são sinónimo de terror.
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