Wednesday, November 19, 2008

Os Abandonados, de Nacho Cerdà


Um agente funerário despe, viola e mutila o cadáver de uma vítima de acidente de viação e leva o coração desta para casa, para alimentar o cão. Assim foi a electrizante curta-metragem de estreia de Nacho Cerdà, em 1994 (Aftermath), que fez correr o boato de tratar-se de um verdadeiro snuff.

Os Abandonados é a sua primeira longa-metragem. É uma história de fantasmas numa casa assombrada, algures num bosque situado nos confins da Rússia rural (ainda que filmado na Bulgária, nomeadamente na capital, Sofia). Escrita inicialmente por Karim Hussain (Ascension) para um projecto que não arrancou, o argumento foi reescrito por Cerdà e Richard Stanley (Hardware, Dust Devil).

Apesar de contornar alguns dos traços mais típicos do género, a história está longe de ser original. Afinal, quantas vezes vimos alguém fugir durante horas de um determinado sítio, apenas para regressar, sem saber como, ao ponto de partida? Mas, se Cerdà descurou o elemento narrativo, deu-lhe um cunho pessoal assente numa eficiente gestão do suspense, através de uma fotografia cuidada e com uma apetência fora do comum para jogar com sombras.

Inquietante mesmo quando não acontece nada, Os Abandonados é uma experiência sensorial intensa, com imagens de inegável beleza e alguns sustos inesperados. É pena apenas que as questões levantadas sejam muito mais interessantes do que as respostas banais que chegam no desfecho.

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