Friday, September 18, 2015

Prom Night, de Nelson McCormick

A história é contada em duas penadas ainda o filme vai no adro: professor do liceu é despedido por se mostrar demasiado afectuoso sem consentimento de aluna e mata-lhe a família antes de ser condenado a prisão psiquiátrica, de onde escapa para se vingar da sobrevivente. Eventos ocorrem durante a noite do baile de formatura, que excepcionalmente tem lugar num grandioso hotel e onde os formandos podem hospedar-se.
Terror de pacote tirado do fundo do caixote do lixo e exibido ainda numa bola amarrotada. Personagens de cartão, um assassino de cartilha e bandas de pastilha elástica a empurrarem-se umas às outras para encherem o espaço com demasiados decibéis. Atirada para uma acção simplória e mal construída, a audiência não tem a que se agarrar e por isso até com as mortes se aborrece.
Prom Night é um remake só de título, sendo que, ao contrário do original, nunca se questiona a identidade do homicida, que aqui anda de cara à mostra mas se comporta como um típico mascarado (Freddy ou Myers), aparecendo e desaparecendo conforme lhe apetece. De notar que anda às voltas de um hotel a matar gente com um canivete e nunca se suja.
Brittany Snow e Idris Elba são quem tem mais tempo de antena, mas é possível apontar outros rostos conhecidos: Kellan Lutz, Ming-na Wen (SHIELD), Jessica Stroup (Beverly Hills 90210), Dana Davis (Franklyn & Bash), Joshua Leonard (Blair Witch Project), James Ransone (colega de Idris Alba em The Wire) e Jonhathon Schaech.
Prom Night 2008

Lugares Escuros, de Gilles Paquet-Brenner

Foi com base no testemunho de Libby que o irmão foi condenado por ter morto toda a família. Hoje, graças à insuficiência financeira e ao mecenato de um grupo de investigadores de domingo, acha que a sua memória pode tê-la traído. Se, em Mad Max: Fury Road (2015), Charlize Theron e Nicholas Hoult procuravam um lugar da sua infância onde ela tinha sido feliz, em Dark Places o destino é um tempo que ela tentou esquecer. Lugares Escuros arrasta-se demasiado em contemplações do rosto da actriz e contrabalança tanto a actualidade com flashbacks que nos questionamos como pôde a protagonista confundir situações tão óbvias. Entretanto, anda para lá um serial killer que vende seguros de vida às suas vítimas. Baseado num livro de Gillian Flynn, a autora de Gone Girl, encenada por David Fincher em 2014. 
Dark Places 2015

Crimes Ocultos, de Daniel Espinosa

O pressuposto propagandista é o de que, durante o regime de Estaline, a União Soviética estava proibida de ter crimes, sob pena de abafar todos os processos que apontassem nesse sentido, os quais nem sequer seriam investigados, para não levantar suspeitas de que pudessem existir. O inglês Tom Rob Smith baseou o livro Child 44 no assassino em série ucraniano Andrei Chikatilo, conhecido como o Estripador de Rostov, cujos 56 crimes ocorreram entre 1973 e 1990, mas transferiu-o para o período pós 2ª Guerra Mundial, porque o bigode de Estaline (falecido em 1953) era mais farfalhudo do que o dos seus sucessores. A própria máxima «No paraíso não há crime» é, obviamente, absurda.
Com actores vindos de todo o lado menos da Rússia (ingleses, suecos, australianos, franceses e libaneses) e pronúncias para todos os gostos, o filme é uma papa de sub-enredos arrastados e desinteressantes, parecendo apenas concentrar-se na investigação policial quando nada mais funciona e, por essa altura, nem isso funciona. Subserviente e com a credibilidade de uma produção norte-americana, o filme fracassou na bilheteira, com um orçamento de 50 milhões de dólares e um retorno de apenas 3,3. Tom Hardy, Noomi Rapace, Gary Oldman, Joel Kinnaman, Jason Clarke e Vincent Cassel, numa ou noutra encarnação, já todos contracenaram uns com os outros, mas não deviam desistir dos seus empregos diurnos.
Child 44 2015

O Canal, de Ivan Kavanagh

Cinco anos depois de um casal se ter mudado para a casa onde é feliz, o marido descobre que o imóvel encerra dentro das suas paredes um historial de uxoricídios que remonta ao início do século passado e está o caldo entornado, a esposa adúltera é empurrada para o canal mais próximo. Haverá fantasmas à solta ou só na cabeça do protagonista, que não distingue realidade de folclore e nem a excelente direcção de fotografia evita o fiasco. Hannah Hoekstra e Antonia Campbell-Hughes são os únicos pontos favoráveis deste projecto de terror psicológico irlandês, mas um olho que espreita de uma fenda na parede e uma morta que sai do canal com o cabelo sobre a cara são oportunidades de gritar plágio, Ju-on e Ringu referências demasiado óbvias para o que já não comportava a menor originalidade e volta a carga com a dita guedelhuda a rastejar do estuque na direcção de um homem que grita, a orientar-se certamente pelo que ouve, porque os cabelos, mais uma vez, não a deixam ver.  
The Canal 2014

Cop Car, de John Watts

Duas crianças divertem-se com o carro da polícia que encontraram abandonado, enquanto o sheriff se esforça por reavê-lo. Da bagageira, uma surpresa para todos os envolvidos. Apesar de alguma conveniência no showdown, o desfecho consegue ser electrizante e, ainda que em aberto, concluir a parte persecutória com uma providencial vaca no caminho. Boas presenças, enquadramentos felizes e Kevin Bacon sempre de parabéns por entremear papeis heróicos e viciosos.
Cop Car 2015

A Noite Fatal (Meia-Noite Fatal), de Paul Lynch

Uma brincadeira cruel de quatro crianças de dez anos conduz à morte de outra, acidente transformado em crime pelo consequente pacto de omissão de auxílio. Seis anos mais tarde, a data coincide com o baile de formatura de liceu onde estudam os perpetradores, os dois irmãos da vítima e o pai destes é director. Aparentemente, está também uma boa noite para vingança.
Prom Night despoletou três sequelas (1987, 1990 e 1992) e um remake (2008), todos irrelacionados para além da efeméride, mas não passa de um tímido e económico slasher que marca o único ano em que, a par de The Fog e Terrror Train, Jamie Lee Curtis foi tri-scream queen (entre Halloween, 1978 e Halloween II, 1981). Para os fãs que tiveram de aguardar mais três anos pela sua nudez de cortar a respiração (Trading Places Love Letters, 1983), já Jamie era hipnótica. E ainda oferece uma bem executada coreografia completa na pista de dança, de envergonhar qualquer John Tavolta com a febre de sábado à noite (1978).  
Apesar do suspense de gestão modesta e tarefeira, o guião não deixa de apresentar vários suspeitos com que distrair da atonia: há um contínuo que dizem que espreita as alunas nos balneários, um violador esquizofrénico e desfigurado que se evadiu do hospício (seis anos antes foi internado sob acusação de ter morto a menina do episódio de abertura) e ainda (ou isto sou só eu) a curiosidade do nome de Leslie Nielsen aparecer à frente do elenco, quando o seu papel é bastante secundário; sendo certo que o actor já tinha carreira desde 1950 e a idade é um posto, Jamie Lee Curtis é a incontestável protagonista. A ajudar à suspeita, o assassino usa uma balaclava e, nessa tarde, uma foi confiscada a um estudante e deixada no gabinete do director (Nielsen). Cabe aqui lugar a um grande spoiler, apenas porque historicamente relevante, mas a evitar por quem pretender assistir à película: num invulgar twist de argumento, 1980 é o ano em que dois slashers têm uma mulher de meia-idade como assassina, em ambos a vingar-se da morte de um rebento (o outro é Sexta Feira 13). Sem querer lançar falsos testemunhos, Prom Night estava concluído muito antes de Sexta Feira 13, tendo inclusivamente sido contactada a mesma distribuidora, mas que acabou preterida porque outra ofereceu mais salas onde estrear Prom Night.
O cenário do baile de formatura não é novo, com Carrie (1976) a precedê-lo e, ao menos, a ter uma maldade suficientemente elaborada; aqui, a má da fita (a tinhosa que convenceu os outros a guardarem segredo) congemina apenas substituir, no último instante antes da nomeação do rei e rainha da noite (estranhamente pré-seleccionados), o rei (que é seu ex-namorado) pelo bully da escola, com a mera finalidade de estragar o momento. 
Como de costume, as actrizes que fazem de alunas de liceu já têm idade para estar a terminar um curso superior e, pior do que isso, vestem-se como senhoras de idade. A polícia olha para o cadáver de uma menina de 10 anos completamente vestida e que nitidamente caiu de um primeiro andar e presume imediatamente poder tratar-se de uma vítima de acto sexual perverso. A brincadeira que a vitima parece um vulgar jogo de escondidas que termina com uma criança a procurar as outras enquanto grita kill kill kill, não se percebe como é que isto pode assustar alguém ao ponto de cair de uma janela nem porque é que, se a vítima já sabia que não gostavam dela, decidiu juntar-se-lhes. O assassino (para quem tiver saltado o spoiler) utiliza primeiro um estilhaço de vidro que retirou do espelho da casa de banho das meninas, que partiu durante a tarde, depois uma faca e por fim um machado (tendo acesso aos dois últimos ítems, quem é que andaria a transportar um frágil pedaço de espelho durante horas?).
Prom Night 1980

Ex Machina, de Alex Garland

Após o seu romance A Praia ter sido adaptado (por John Hodge) para Danny Boyle (2000), o escritor e o realizador colaboraram em 28 Dias Depois (2002) e em Sunshine (2007). Seguiram-se os guiões de Never Let Me Go (2010) e Dredd (2012) antes de Ex Machina, estreia de Alex Garland atrás das câmaras. É a aventura de um jovem programador convidado a avaliar o comportamento da mais recente aposta em inteligência artificial do seu patrão, um cientista milionário, e as consequências da semana de contacto com a mais bela criação humana, que tanto poderá ser uma criança curiosa em corpo de mulher como uma manipuladora prisioneira de aparência angelical.
Infelizmente, a concretização proposta por Garland é unidimensional, previsível e tarefeira, deixando uma indelével, flagrante e desencorajadora sensação de déjà vu. Em poucos dias, não só o virginal avaliador de cabelo de cenoura se deixa seduzir pelo andróide, como se questiona se não será ele a máquina testada. No final, atropelam-se noções de simbiose e futilidade feminil em sede da necessidade de liberdade ou objectivo básico de fuga.
Ex Machina reduz-se a uma sonolenta variação do que parece um episódio da Quinta Dimensão e remonta, afinal, à terceira temporada de Star Trek (1969), apostando tudo no encanto de Alicia Vikander e numa vulgar estética de esterilidade. Os membros translúcidos da figura mecânica são interessantes, mas esgotam-se depressa. Constantes citações e referências à alegoria da caverna de Platão, ao Prometeus de Mary Shelley e a Openheimer e à sua bomba atómica são absolutamente redundantes.
Ex Machina 2015

Quarentine 2 Terminal, de John Pogue

Para evitar paralelismo com Serpentes a Bordo, a sequela de Quarentena não se intitula Zombies a Bordo e aterra em menos de meia hora, para se situar onde foi buscar o subtítulo: um terminal de carga ou hangar, em que um grupo de baratas tontas vai sendo mordida e zombificada. Sem meios, nem vontade, não se faz nada e este é um claro exemplo de incapacidade de esticar os valores de produção.
Quarentena (2008) é o apressado remake norte-americano do espanhol Rec (2007), filme de terror que se demarcou pela utilização de POV e conta já com três sequelas em terra de nuestros hermanosQuarentena 2 tem trama diversa, com John Pogue, guionista de fracassos como U.S. Marshalls (1998), Rollerball (2002) e Ghost Ship (2002), a reunir as incompetências de realizador e argumentista e a dispensar o recurso ao POV. Em sua defesa, Quarentena, de John Erick Dowdle, já era mau.
Mercedes Mason, a protagonista, não tem estado parada desde então: a integrar actualmente o elenco do spin off de The Walking Dead (imaginativamente intitulado Fear The Walking Dead, 2015), passeou-se por diversas outras séries e foi titular em The Finder e 666 Park Avenue. Josh Cooke é outro que tem feito pela vida: Dexter e Hart of Dixie são dois créditos a seu favor. Para a posteridade, fica a cena em que uma hospedeira de bordo é mordida na boca mas a passageira estudante de medicina de serviço (que até já trabalhou para o exército, como vem a calhar mais adiante) envolve-lhe a cara toda com uma toalha e amarra-lha à cabeça com um cachecol (para quê cobrir-lhe o rosto, impedindo-a de ver e de respirar, se a ferida se cingia à área maxilar?).
Quarentine 2 The Terminal 2011

Prisioneira, de Atom Egoyan

Servindo-se de um mecanismo narrativo que lhe é usual, Atom Egoyan encena mais um filme sonolento sobre rapto, perda, sobrevivência e pedofilia, desenvolvendo a trama em três linhas temporais que se sobrepõem com tal constância que dificultam a sinalização cronológica ao ponto de distraírem daquilo que poderia ser um drama muito mais intenso. Lamenta-se também a diluição do horror dos crimes contra a infância numa personagem que, apesar de raptada por uma rede pedófila, parecer ter apenas contribuído com histórias narradas para um site e como angariadora de mais vítimas, não tendo sofrido abusos sexuais durante os oito anos de clausura.
 Com Ryan Reynolds, Scott Speedman, Rosário Dawson e os actores que transitaram do seu filme anterior (Condenados, 2013) Mireille Enos, Kevin Durand e o habitual Bruce Greenwood, Prisioneira é um filme que demora a arrancar e ainda mais a encarrilar, entretanto recupera mas deixa dúvidas de continuidade e lógica. A comissária na carrinha está viva ou morta; durante quanto tempo esteve sequestrada? Os objectos que iam sendo colocados no quarto de hotel, eram-no pelo raptor; com que propósito; a pedido da prisioneira? De que interessa apresentar um polícia como o mais exímio observador de detalhes, se não volta a aparecer? Música de Mychael Danna, compositor de todos os filmes de Egoyan.

The Captive 2014

Condenados, de Atom Egoyan

Três crianças assassinadas, três adolescentes acusados. Dentro e fora do tribunal, ouve-se falar em ritos satânicos, mas o evidente laxismo do juiz e a grosseira negligência da investigação policial levam a questionar de um envolvimento de elites nesta farsa legalista de laivos conspiratórios. Contudo, o final da trama aponta apenas para uma generalidade aura de incompetência e estica o dedo aos pais como algozes. 
Atom Egoysta opta por uma realização ultra-discreta e aposta no lento desenvolvimento da trama, mas esta é tão ténue que esgaça ao menor manuseamento. Para além dos actores típicos de Egoyan (Bruce Greenwood e Elias Koteas à cabeça), Colin Firth protagoniza e Reese Witherspoon mostra-se muito em baixo de forma. Alessandro Nivola, Dane Dehan e Kevin Durand merecem menção, este último apenas porque se destacará muito mais no filme seguinte do realizador, Prisioneira (2014).
Devil’s Knot 2013