Wednesday, November 19, 2008

Massacre do Texas – O Início, de Jonathan Liebesman


Como em tudo, há talhos bons e talhos em que tentam vender-nos gato por lebre. Outros também que dizem vender carne fresca quando ela já foi descongelada inúmeras vezes.

Há uma razão para fazer sequelas, e essa vale também para as prequelas. É vampirizar para rentabilizar. Contudo, isso pode conseguir-se de duas formas: mantendo os elementos-chave e introduzindo pontos novos, havendo assim lugar para surpresas (a saga “Pesadelo em Elm Street” nunca se repetiu, mas o mesmo não se pode dizer de “Halloween” ou “Sexta Feira 13”), ou limitar-se apenas a baralhar e voltar a dar. O pior é quando nem se baralha, e esse é o caso de “Massacre do Texas – O Início”.

A produtora New Line teve de pagar mais três milhões de dólares do que esperava (aos detentores dos direitos de autor: o realizador Tobe Hooper e os dois produtores do primeiro filme) para manter a franchise no estúdio, porque a Dimension Films estava interessada em adquiri-los. Mas se não pretendiam apresentar uma única ideia nova e a palavra de ordem ia ser repetir (repetir, repetir...), mais valia terem entregue o ouro.

A lista de decalques não só é extensa, como parece interminável. Se a presença da família Hewitt (dantes chamavam-se Sawyer, mas o remake de 2003 mudou-lhes o nome) era inevitável, e algum ênfase à residência Hewitt fosse de esperar, talvez fosse escusado colocar a cena de clímax no matadouro local (como acontecera no remake) ou abusar tanto da serra eléctrica (nos outros filmes, muitos outros utensílios serviram para cortar carne). E, como é terror para adolescentes, lá estão eles a servir de vítimas avulsas, a despachar ao longo da fita.

E não só. O pretexto do xerife usar o distintivo para atrair as vítimas à residência Hewitt já fora usado no remake, o facto de Leatherface arrancar a pele da cara do namorado da protagonista e usá-la a cobrir o próprio rosto também estava no remake, a protagonista ser amarrada a uma cadeira à mesa de jantar e aos gritos foi imagem de marca nos primeiros dois filmes.

O filme diz ser o início, e se bem que começa com um nascimento em pleno matadouro (cena plagiada ao recente filme “Perfume”, baseado num romance de 1985 – aí, a mãe era uma feirante que dá à luz em pleno chão da feira) presumivelmente de Leatherface, não parece ser a primeira vez que a família Hewitt come carne humana ou sequestra adolescentes da estrada para consumo próprio, já que não há um único momento em que debatam o assunto como atroz e desumano, mas é encarado pelos cinco familiares como normalíssimo (temos uma miúda amarrada à perna da mesa cheia de sangue no vestido, o que lhe aconteceu? Ah, deixa lá, vamos lavá-la antes de cozinhá-la). Dito isto, é o início de quê?

Ficamos a saber que o xerife Hoyt não é o xerife Hoyt e como o velho da cadeira de rodas perdeu as pernas (e se a perda de uma das pernas pode fazer um nadinha de lógica, o corte da outra perna é mais um exemplo de péssimo guionismo). Desta vez, as vítimas de serviço são dois casais de jovens. Os dois rapazes são rapidamente reconhecíveis por saírem de duas séries juvenis recentes (Tru Calling – O Apelo e O.C. – Na Terra dos Ricos) e Jordana Brewster era a carinha laroca de “Velocidade Furiosa”e “Annapolis” – infelizmente, ela não tem nem um décimo do corpo de Jessica Biel (protagonista do remake) e as calças de cintura descida deixam-lhe à mostra dois pneuzitos laterais; para não dizer que a actriz foi mal escolhida, digamos apenas que o guarda-roupa não foi o adequado.

Houve muitos cortes na montagem, para que o filme obtivesse uma classificação de idade inferior, que permitisse a entrada de público mais novo no cinema e aumentasse a receita de bilheteira, o que prova que o cinema continua a ser um negócio, e a perder com isso. É flagrante o corte na sequência em que o xerife vê Jordana Brewster, ela aparentemente entrega-se sem luta, mesmo sabendo que será torturada e morta (porque já viu os outros). Nem sequer a vemos ser agarrada, é vista logo a seguir amarrada a uma cadeira. Mas nada justifica erros como o de Dean (um dos jovens) ser preso numa armadilha de ursos (uma algema com dentes aguçados) e mas mais tarde ser visto a correr, quando deveria ter ficado com o tornozelo esmagado.

O realizador já tinha dirigido uma curta metragem de 16min intituladda “Rings”, que funcionava como um elo entre os filmes Ring e Ring II e o desastroso “Darkness Falls” (uma história ridícula, com falhas de objectividade e sem um único susto), mas nada fazia prever esta tristeza. Visualmente, o filme tem boa qualidade e a fotografia não sai beliscada, mas era preciso muito mais do que isso. Especialmente gente competente a escrever. Clichés a seguir a clichés, tenham dó...

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