
Até aqui, tudo bem, porque William Lusting consegue imprimir algum suspense às cenas de stalking e homicídio, mas aos 49 minuto de duração, o filme faz uma curva para o imponderável. O Maníaco vê uma mulher tirar-lhe uma fotografia, no Central Park, e descobre onde ela mora. Vai visitá-la ao seu duplex e começam a conversar, já que ela é fotógrafa profissional, e chegam a sair para jantar duas vezes. Mas ela é muito bonita e sofisticada e ele é um monstrengo com ar bexigoso, gorduroso e mal vestido. Acreditar que ela sairia com um desconhecido com este aspecto (já para não falar de deixá-lo entrar em sua casa) tira toda a credibilidade ao argumento.

O final, então, é inacreditável. Mas que fartote. O Maníaco leva a fotógrafa ao cemitério onde a mãe está enterrada, de noite (há uma máquina de fumo branco a dar ambiente), tenta matá-la mas ela agride-o com uma pá (esses coveiros distraídos...) e foge. Ele então entra em espiral esquizóide, a mãe sai da campa para estrangulá-lo, volta para casa e os manequins ganham vida (são as mulheres que ele escalpelou) e matam-no. A seguir é de manhã e a polícia vai a casa dele, de arma e punho, com certeza alertada pela fotógrafa, e dá com ele ensanguentado, deitado na cama. Guardam as armas, olham em redor e fecham a porta, quase com delicadeza, ao saírem. Claro que o maníaco abre os olhos antes do ecrã escurecer e os créditos finais subirem. Mas o que é cómico é que os polícias nem sequer verificaram se ele estava vivo, nem vasculharam a casa, limitaram-se a entrar, vê-lo deitado e saíram.

Quanto a motivação, Hitchcock já explicara em
Psico que a culpa é sempre das mães, e aqui não se foge à regra. O Maníaco passa metade do tempo a falar sozinho, dizendo idiotices que não chegam nunca a fazer sentido, mas lá são introduzidos os indícios suficientes para que se perceba.

Joe Spinell tem uma longa carreira de papeis de bruto (Rocky I e II, O Padrinho I e II) mas aqui tem um dos seus únicos papeis de protagonista. William Lustig (mais conhecido pela trilogia
Maniac Cop) voltou a usá-lo em
Vigilante (num papel secundário). Spinell faleceu em 1989 de ataque de coração, precisamente quando se preparava para filmar
Maniac 2, para o qual conseguira financiamento ao fim de anos de angariação. Existe uma curta-metragem de 10 minutos, que foi feita com o intuito de interessar patrocinadores. Como curiosidade, O
serial killer John Wayne Gacy, na prisão, elegeu-o para o interpretar no cinema.

Os efeitos especiais de
Maníaco estão a cargo do lendário Tom Savini, mas nota-se que lhe pagaram muito pouco pelos seus préstimos, e talvez o pequeno papel que representa como Disco Boy (pela idade dele, deveria ser Disco Man, mas enfim) fizesse parte do pagamento. A título de exemplo, a primeira vítima é esfaqueada na garganta, mas apesar de a faca fazer sangue, o pescoço não apresenta nenhum golpe conforme a faca passa de um lado ao outro. Tom Saviny parece não ter envelhecido um dia desde 1980 – Robert Rodriguez é um fã do seu trabalho e deu-lhe dois pequenos papeis em
Aberto Até de Madrugada e
Planeta Terror.

A música é da autoria de Jay Chattaway, que nos anos 80 fez inúmeras bandas sonoras de filmes de terror. O seu underscoring é agradável, mas quando é suposto trabalhar o suspense, agride mais os ouvidos do que o maníaco.
Maniac 1980
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