Monday, November 5, 2018

Midnight Special, de Jeff Nichols

Jeff Nichols, depois de três filmes com os pés assentes na terra e um barco em cima de uma árvore após um furacão, decidiu fazer a sua versão de ET: O Extreterrestre (1982), que misturou com Starman (1984), ambos a quererem regressar a casa, exactamente como o protagonista de Midnight Special (2016), com aspecto de criança mas óculos de mergulho em seco para confundir. Michael Shannon e Joel Edgerton protagonizam com intensidade, Kirsten Dunst continua sólida. No mesmo ano, e com mais sentimento, Nichols escreveu e realizou também Loving (2016), com Edgerton e Ruth Negga.

Concluído num orçamento de 18 milhões de dólares da Warner Bros e com direito sobre a montagem final, Jeff Nichols arrancou uma criança especial às mãos de uma seita religiosa e com ela rumou ao ponto onde as coordenadas retiradas aos seus sermões indiciavam algo importante. Não se pode dizer que o resultado corresponde às expectativas, mas o certo é que a viagem é estranha e curiosa.

Midnight Special 2016

Into The Forest, de Patricia Rozema

Drama pós apocalíptico no cimo de uma montanha, sendo que o armagedão se cinge à súbita ausência de electricidade e petróleo, dois bens essenciais sem os quais a vida, tal como a conhecemos, chegou ao fim. Uma família de três e, entretanto, de dois tenta sobreviver cercada de verde, porque a natureza é menos selvagem do que a urbe e a paisagem é mais bonita. Fica o alerta de que a polícia e o exército não funcionam sem energia e quem reconhecer o actor Michael Eklund (The Divide, 2011) sabe que vai voltar com intuitos impróprios, ou não sofresse ele do mesmo typecasting que Sean Bridgers (The Woman, 2011). Adaptado do livro de Jean Hegland pela realizadora Patricia Rozema e com Ellen Page e Evan Rachel Wood nos principais papeis. Há nudez por parte de ambas, porque quando tudo o resto falha, há que apelar ao mais básico, mas nem assim se recomenda. Uma ideia interessante, mas muito mal concebida.

Into The Forest 2015

O Primeiro Encontro, de Denis Villeneuve

Próximo do slogan “ir para fora cá dentro”, os encontros imediatos de grau não violento têm, usualmente, a finalidade de permitir, através da óptica extraterrestre, um ilusório “olhar de fora para dentro”. O visitante mais inexpressivo até à data chegou em 2001 (1968) e, desta vez, arredondou os contornos e traz polvos dentro. São quase duas horas a assistir ao processo de aprendizagem de uma nova escrita e o primeiro contacto extingue-se na concretização da máxima de que o pensamento humano está limitado às suas próprias barreiras linguísticas, algo que pode ser ultrapassado caso adopte uma nova, neste caso de caligrafia circular, abrindo-se a percepção sensorial à não linearidade do tempo e, consequentemente, à consciência do futuro com a mesma exactidão que o passado. A implicação é a de que, de algum modo, isto irá potenciar igualmente a unidade, a compreensão e a paz entre as diversas culturas. E sem banda sonora de John Williams.
Na senda de filmes como Encontros Imediatos de Terceiro Grau (1977) e Contacto (1997) – se tivesse aguardado menos de dois meses, os três filmes teriam estreado com 20 anos de diferença entre si – o alcance filosófico é o de que a harmonia pode substituir a desconfiança entre fronteiras desde que a partilha seja honesta e total. E, porque Insterstellar (2014) foi buscar buracos negros para mascarar o paradoxo da predestinação inspirado por Terminator(1984), Arrival (2016) tenta desencantar uma fonte paralela à da econometria aplicada tendencial, dispensando o tempo histórico linear e as linhas cíclicas, apostando num novo entendimento que tem tanto de falacioso que de tendencioso: é a linguagem que limita a cognição, acreditar dissipa os limites ao conhecimento como um percurso, a Terra não é redonda, mas plana, e num dia de céu azul vemos toda a extensão da nossa existência, do nascimento à morte, o melhor é não irmos ver aquele filme ao cinema porque já o vimos em streamming, daqui a três meses, e não vai melhorar.
Depois de uma enérgica ode à testosterona (Sicario, 2015), uma contemplativa melodia de progesterona. A comunicação com extraterrestres ficou por conta de Amy Adams e Jeremy Renner acompanhou-a para cumprir a quota do homem branco, que já havia um negro e um judeu no posto avançado. Denis Villeneuve trouxe-os para a sala de aula e até se perceber que a protagonista tinha visões do futuro graças ao léxico alienígena, o mistério alimenta a curiosidade, mas o surrealismo final é uma afronta à inteligência e à gnose matemática. Baseado no livro de Ted Chiang Esta É A Tua Vida, onde a oferta extraterrestre não era a revelação de uma língua unificadora, mas a distribuição por diferentes nações de equipamentos técnicos concretos que facilitariam a sobrevivência humana desde que os seus líderes aprendessem a partilhar os conhecimentos.
Arrival 2016