A falta de imaginação continua a grassar por Hollywood e repetir e copiar é a melhor forma de andar para a frente sem dar o braço a torcer. Ou se vai roubar ao filão oriental (“Ringu”, “Ju-On”), ao passado americano (“The Omen”, “Terror nas Montanhas”, “A Casa de Cera” ), à banda desenhada (“V de Vingança”, “Uma História de Violência”) ou aos musicais (“Rent”), mas a originalidade fica à porta. O exorcista, aparentemente, trouxe outro filão à carga. Depois de uma prequela (“Exorcista – O Início”), mais dois demónios a exorcizar à vontade: “O Exorcismo de Emily Rose” e “An American Haunting” (a chegar ainda este mês).
A nova versão aproveita só a trama dos primeiros vinte minutos do original de 1979, ou seja, a parte em que a babysitter era assediada por telefonemas de um estranho. Esquecendo-se a parte da caça ao estranho, centra-se este filme na parte do suspense. Infelizmente, e ainda que se dedique apenas a isso, nem por um instante consegue instilar o menor susto ou temor. Em vez de criar uma atmosfera inquietante, estica até ao limite do insuportável o número de chamadas, acende luzes que deviam estar apagadas e ouvem-se barulhos que afinal são o eterno gato preto a passear pelo cenário. Aborrecido ao ponto de provocar tédio comatoso, o filme é absolutamente nulo. O realizador não sabe tirar partido de nenhum dos elementos ao seu dispor, e o argumento tem mais inconsistências do que um queijo suíço. John Carpenter, no seu clássico de 1978, Halloween, filtra o suspense de forma exímia com a sua forma de filmar; durante a primeira hora do filme, o assassino infernal Michael Myers não mata ninguém, mas estamos o tempo todo prontos a saltar da cadeira. Simon Wincer não aprendeu com Carpenter como dar vida ao tempo morto.
A casa que serve de palco é um espanto. Junto a um lago ou rio, paredes de vidro com dois andares de altura, interiores à chinesa reforçados por portas de abrir para os lados, jardim interior, decoração fria mas intensa, iluminação que obedece ao movimento. Está longe de ser um ambiente claustrofóbico, de tão grande. E o realizador perde-se nele, pensando apenas em como seria bom que aquela casa fosse sua. Moral da história: dêem-lhe uma casa nova... e substituam-no.
Camilla Belle (um nome demasiado presunçoso) faz de babysitter. Ganhou visibilidade ao lado de Daniel Day Lewis, em “A Balada de Jack e Rose”, de 2005, mas é de “Os Amigos de Dean” que talvez a recordemos, enfiada numa T-shirt branca de alças e ar rebelde. Tem um palminho de cara e um corpo bem composto, mas em “Chamada de Um Estranho” faz parte da apatia e não da atracção. Sem direcção de actores, ela limita-se a debitar as poucas frases que o argumento lhe dá, sem o menor sentimento, e as suas caras de “ai que borrada que eu estou” são enjoativas e nada convincentes. Deve ter achado que, desde que Paris Hilton entrou na “Casa de Cera”, ter alguma preparação como actriz era absurdo. A beleza que destila dela em “Os Amigos de Dean” passa aqui completamente despercebida (o ar de betinha não lhe fica nada a matar). Quando tira o casaco de malha notam-se algumas curvas interessantes, mas mesmo assim não há qualquer química.
Uma nuance em relação à casa é situar-se longe de tudo, no meio dos bosques, e nem a babysitter sabe realmente a morada – o pai dá-lhe boleia até lá e ela precisa de ler uma nota do pai para poder dar indicações à polícia – mas, ainda assim, uma amiga dela aparece lá de surpresa, fresca e leve, com indicações dadas por uma outra amiga, que ainda sabia menos onde a casa ficava. Esta amiga, ao ir-se embora, fica com medo do vento (acabara de gozar com o receio da babysitter, mas...) e receia sair do carro para ir tirar uns ramos que apareceram junto ao portão. Mas, afinal, não ia ter de sair do carro para abrir o portão? O sistema de segurança electrónico da casa é tão inoperacional que é ridículo – a amiga entra na casa dizendo que a garagem estava aberta e o alarme não soa. O estranho entra na casa e não soa o alarme. Os miúdos abrem uma janela e fogem parede abaixo, não soa o alarme. A babysitter, na escola, é corredora de fundo, mas quando imaginamos que esse treino lhe vai ser útil numa perseguição com o estranho, afinal só serve para uma corrida no bosque, sem ninguém na peugada (correu só para chegar mais depressa).
Em suma, é um filme decorativo, sem suspense ou inquietação, mal representado e sem qualquer objectivo. Responde apenas à pergunta “Quantas vezes pode uma babysitter atender o telefone com a mesma ansiedade?” Aparentemente, as que forem precisas.
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