Wednesday, November 19, 2008

Live Feed, de Ryan Nicholson


Com ar de projecto estudantil, Live Feed é um festim gore de muito baixo orçamento, com um guião rascunhado num guardanapo de hamburgueria (sujo de ketchup) e efeitos especiais da loja dos 300. Mistura torture porn e snuff, com a acção a decorrer num cinema pornográfico (filmado num cinema aberto ao público, a equipa tinha de esperar que os clientes saíssem para começar a filmar) onde um grupo de cinco turistas americanos em Hong Kong (supõe-se) é torturado, mutilado e assassinado por um gigante de fardamenta S&M, enquanto um chefe local da Yakuza e os seus lacaios assistem e aplaudem.
Live Feed é extremamente gratuito na sua exploração da tortura, tendo gasto em latex e sangue falso o que poupou em iluminação, direcção de fotografia e numa câmara de jeito. Sem preocupação com enquadramento, direcção de actores ou história, Ryan Nicholson limitou-se a filmar entusiasticamente a pobreza de elementos. O resultado é amador, mal ensaiado, mal representado e mal gerido, numa fórmula de fracasso difícil de igualar.
Escrito e produzido por Ryan e Roy Nicholson, a dupla vem do ramo da maquilhagem e das próteses de efeitos especiais, ao qual Ryan se dedica desde 1993 e Roy desde 2003. Esta é a sua primeira longa metragem (82 minutos), tendo-se estreado em 2004 com 44 Minutos de violação e vingança em Torched. A dupla já completou um novo filme em 2008 (Gutterballs), a funcionar no mesmo género.
Se o argumento não fosse tão preguiçoso, teria melhorado a introdução e a apresentação dos personagens, para que o cinéfilo se interessasse com o seu destino em vez de os ver apenas como carne para canhão. Logo no início, o grupo, constituído por dois casais e uma amiga, fica chocado com dois cozinheiros que estripam um cão vivo à sua frente. A porta seguinte é de um cinema pornográfico e decidem entrar, apesar da veemente recusa da sino-americana do grupo (aparentemente, os outros já estavam refeitos da visão do cão degolado e acharam que ver um filme pornográfico num cinema degradado era um programa divertido). O cinema tem quartos VIP e é num desses quartos que um dos casais tem imediatamente sexo, apesar do quarto ser imundo (VIP em chinês deve ter outro significado), sendo que o casal seguinte pratica a mesma actividade numa casa de banho onde há baratas do tamanho de cascas de noz a passear no chão e a subir-lhes aos pés (estando ela de sandálias).
E, se com esta inacreditável tolerância ao ascoroso por parte dos protagonistas o argumento ainda não perdera total credibilidade, há ainda lugar para um sub-enredo sobre um japonês que vem vingar o assassinato do seu irmão (um polícia infiltrado nessa organização Yakuza). Quando ele revela que «as máfias chinesa e japonesa vão juntar-se para dominar a Ásia, a Rússia e depois o Mundo» perguntamo-nos se ainda estamos no mesmo filme.
Além de risível, o argumento é incongruente. O cinema tem um circuito interno de vídeo que permite que se assista na tela e nas televisões dos quartos VIP à projecção dos crimes, mas quando uma das vítimas esfaqueia continuamente um dos captores, ninguém está a assistir. Os polícias que chegam no final levam consigo a sobrevivente, sem se darem ao trabalho de verificarem a área ou vedarem o local do crime para que as provas não sejam contaminadas.
O filme, a tentar aproveitar a onda de torture porn iniciada em 2005 por Saw e Hostel e imitada por meio mundo (até Roland Joffé, realizador de A Missão e Terra Sangrenta, dirigiu um argumento de Larry Cohen no género, intitulado Cativeiro), inclui no menu a necrofagia (com certeza inspirados pelo novo fôlego do Massacre no Texas desde 2003), com uma cena que lembra o final de O Cozinheiro, O Ladrão, A Mulher Dele E O Amante Dela (uma obra-prima de Peter Greenaway de 1989), mas de resto não passa de um aborrecido, grosseiro e caseiro projecto de dois técnicos de efeitos especiais que nem sequer sabem fazer sangue falso convincente, ora a espichar como água ora espesso como alcatrão.
Live Feed (Unrated) 2006

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