Os franceses David Moreau e Xavier Palud chegaram a Hollywood com um único trunfo na algibeira. Em Eles (2006), tinham sido capazes de manter o suspense durante setenta minutos, com uma história de um casal aterrorizado na sua própria casa por um ou mais vultos indistintos. Quando lhes foi entregue o remake de O Olho, a fasquia era, obviamente, alta. Mas, ao contrário do filme dos Pang, Eles era um filme simples, feito com a prata da casa, sem ambientes estilizados ou grandes efeitos de câmara e nem um efeito especial. Os franceses não estavam preparados.
O Olho é, antes de mais, um remake com vergonha de o ser. Tem consciência de que o filme original correu mundo (até estreou em Portugal), mas não sabe como melhorá-lo. O argumentista deGothika e de Serpentes A Bordo coçou a cabeça e começou por misturar a ordem de algumas cenas-chave, quando da forma asiática faziam mais sentido. Ao pensar numa profissão a dar à protagonista cega, recordou-se de Blink (1994), em que Madeleine Stowe também recupera a vista através de uma operação à córnea e, voilá, não foi preciso procurar mais: violinista. As mulheres cegas devem ter propensão para os instrumentos de corda, pois até Uma Thurman já foi uma violoncelista cega em Jennifer 8 (1992). Sem uma única ideia consistente com que contribuir, um Sebastian Gutierrez bêbado e frustrado deve ter apanhado na televisão A Profecia das Sombras(2002) e não foi de modas: para além de acrescentar a O Olho o ingrediente das premonições, chegou ao cúmulo de decalcar a parte final, apenas substituindo a ponte por uma estrada fronteiriça.
O Olho dos irmãos Pang era um filme para os sentidos, visual e auditivo, transmitindo sensações de insegurança para além do óbvio. David Moreau e Xavier Palud também tinham conseguido isso com o seu Eles, mas os efeitos especiais vão apanhá-los desprevenidos. Sem conhecimentos nesta área, não imprimem uma orientação firme e a equipa técnica gere-se unicamente pelas restrições do orçamento; o resultado final é amador e pelintra, sem o menor impacto. Com a maior parte das visões a acontecerem quando a protagonista acorda na cama, este remake mais parece um Pesadelo Em Elm Street sem Freddy. Como mais ninguém vê o mesmo que a protagonista, é como se acontecesse em sonhos; mas até em Elm Street as feridas ocorridas nos sonhos marcavam realmente a carne, enquanto que em O Olho desaparecem quando ela acorda (e se ela dorme de olhos fechados, como toda a gente, qual é a relevância dos olhos?).
Concordarão com a afirmação de que, de entre os recentes remakes,The Ring – O Aviso (outro de 2002) é dos poucos que foi melhor do que o original (Ringu 1998), e isso porque na versão americana o casal principal era normal em vez de ele ser medium (como forma de saltar sobre plot holes), O Olho comete o pecado oposto. Logo na sequência de abertura se grita e lê em graffitis a palavra Bruxa, sendo óbvio que é suposto ligarmos essa cena ao que vem a seguir, especialmente quando Jessica Alba grita “Estes olhos não são osmeus olhos”.
A cena do restaurante chinês não refere nem uma premonição nem algo visto pela bruxa, mas a um evento passado e sem ligação à bruxa ou à violoncelista. Parece, literalmente, uma cena de outro filme, conduzindo à clara conclusão de que o argumento estava ainda em fase de esboço quando foi filmado.
Em suma, O Olho é um remake sem fôlego, sem uma história consistente e com actores sem brilho. Jessica Alba não sabe mostrar emoções (nunca soube) e Alessandro Nivola nem sequer é empático (o seu personagem diz na cara da protagonista que não acredita nas suas visões e que ela tem de adaptar-se sozinha, mas depois dá-se a trabalhos para ajudá-la, sem uma justificação). Parker Posey, já considerada a rainha do cinema indie, só se vê de relance (de irmãs como ela está o inferno cheio).
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