Tuesday, October 28, 2014

O Coleccionador de Olhos 2, de Jen e Sylvia Soska

O Coleccionador de Olhos é um filme de 2006 que não merecia uma sequela, nem o público que a mesma, a acontecer, fosse ainda pior do que o original. Derek Jacobs, Kane para os fãs da WWE, volta a interpretar o brutamontes imbecil que, no original, arrancava os olhos às vítimas e, agora, nem isso faz, deixando o título descabido. Os eventos seguem imediata cronologia, com os cadáveres do primeiro filme a chegarem à morgue, juntamente com o cadáver do assassino, que se revela familiar de Michael Myers, tanto pela invencibilidade quanto pela escolha de usar máscara, aqui uma coisa de plástico transparente que atrás afivela como um instrumento de masmorra. As novas vítimas serão três trabalhadores da morgue e dois casais encomendados como carne para canhão.
Gregory Dark, realizador de filmes pornográficos e responsável pelo original, dá lugar às gémeas góticas Jen e Sylvia Soska, que granjearam alguma fama com American Mary (2012), mas a boa vontade esgotou-se. A história é básica, as mortes genéricas, o suspense nulo. Danielle harris, a Lacey Chabert do terror, uma scream queen com tantos anos disto que já devia estar afónica, finalmente parece uma mulher e não uma miúda embirrante (vale o que vale). Katharine Isabelle é outra que o cinema constantemente unta de sangue de xarope e, como foi American Mary para as Soskas, regressou para o mais horripilante overacting. Greyston Holt, que parece um irmão mais novo de Ken Marino, tem tamanho para dar luta a Kane, mas não dura um segundo.
O mais absurdo é o labirinto em que se transforma a morgue, chegando ao ridículo de Kane, que nunca ali esteve, se orientar melhor do que quem ali trabalha. Os sobreviventes, fugindo dele e sabendo, pela lógica, que o deixaram para trás, continuam a caminhar com medo de poderem encontrá-lo pela frente. E, assim que elegem um esconderijo, nunca se coíbem de fazer barulho. Como único elogio, o departamento de guarda-roupa está de parabéns na selecção dos soutiens com efeito pushup, pois nunca se viu tanta fartura em pratos tão económicos.
See No evil 2 2014

Housebound, de Gerard Johnstone

Comédia de terror neozelandesa que explora os clichés todos, misturando a filha rebelde, o vizinho tenebroso, o fantasma que se cobre com um lençol, actividade paranormal, pessoas que habitam entre as paredes, o psicólogo que não ajuda, a pulseira electrónica que não deixa a protagonista sair de casa, a investigação policial e o drama familiar. 
Escrito e realizado por Gerard Johnstone, Housebound teria ganho com uma montagem mais amiga do ritmo, contornando a saturação. Como está, não é má nem boa, entretém. Apenas fica por entender como é que um tribunal ordena que uma mulher de 29 anos (apanhada a roubar uma caixa Multibanco com explosivos) seja entregue ao cuidado da mãe e do padrasto, num castigo domiciliário de 8 meses com pulseira electrónica, sem que isto seja do interesse ou sugestão da ré ou dos familiares envolvidos, sendo que ela já não habitava com eles antes do sucedido. Ou, então, a actriz Morgana O’Reilly é, evidentemente, madura demais para o papel.
Housebound 2014

The Town That Dreaded Sundown, de Alfonso Gomez-Rejon

Quando Ryan Murphy, produtor e argumentista de Glee e de American Horror Story, se cruzou com uma cópia de The Town That Dreaded Sundown (1976), perguntou a Alfonso Gomez-Rejon, um dos realizadores das duas séries, se estava interessado em dirigir o remake. Nesse momento, houve esperança. Depois envolveram Roberto Aguirre-Sacasa, um argumentista de Glee e do remake de Carrie (2013).
O original A Cidade Que Receava O Anoitecer é um dos primeiros slashers norte-americanos, anterior a Halloween (1978) e a Sexta-feira 13 (1981), um filme de culto de Charles B. Pierce, realizador autodidacta estreado em 1972 com um modesto falso documentário de terror, feito com financiamento local e a participação de familiares e amigos, que ninguém quis distribuir até o próprio alugar o cinema da avenida e enchê-lo durante três semanas; o filme acabou por fazer 25 milhões de dólares (A Lenda de Boggy Creek, 1972). Mais tarde, veio a trabalhar com Clint Eastwood por diversas vezes, como cenógrafo e argumentista (arrogando-se até a autoria da frase «Go ahead, make my day»). O slasher baseava-se no caso verídico de um serial killer nunca apanhado, que vitimou oito pessoas em redor de Texarkana, cidade fronteiriça entre o Texas e o Arkansas, em 1946. Graficamente violento, o filme contrapunha a investigação de um ranger aos homicídios e a reconstituição dos mesmos, que reduziu para cinco, por restrições de agenda.
O primeiro comentário a fazer ao remake é que, não obstante apresentar-se como tal, é, tecnicamente, uma sequela, visto incorporar na narrativa não só os factos descritos no filme original (1976), como excertos deste são vistos pelos novos personagens. A trama situa-se em 2013, onde um assassino volta a matar, seguindo o figurino e a sequência do homicida encapuçado de 1946. Com base em registos antigos e alguma especulação, a heroína investiga.
The Town That Dreaded Sundown (2014) pode queixar-se do baixo orçamento e do estúdio lhe ter cortado 15 minutos (como está, tem 84 minutos), mas a montagem foi feita com prata da casa, neste caso Joe Leonard, regular da série Glee e, assim sendo, independentemente da distribuição da culpa, há que lamentar o resultado final, um vulgar e limitado slasher de qualidade directa para vídeo. Para além de alguns enquadramentos interesses e efeitos de fotografia invulgares, mais sensíveis no início da película, fica o chorrilho de clichés, o bocejo da matança e um final de arrancar os cabelos pela cretinice. Se a ideia geral já foi usada pelo mediático A New Nightmare (1994) e pelo obscuro Hills Run Red (2009), entre outros, o desfecho com explicações imbecis decalcadas de Scream (1996) esgota a paciência. Em retrospectiva, não estamos sequer perante um filme de terror, porque lhe falta a atmosfera tétrica e incómoda, o frio na espinha, o salto na cadeira, mas de um policial sonso, onde prolifera o amadorismo. A banda sonora do sueco Ludwig Göransson também não convence porque, se funciona no ruído industrial que acompanha o assassino, perde-se na leveza das cenas mais calmas, esvaziando a inevitável tensão.
The Town That Dreaded Sundown 2014

The Scribbler, de John Suits

Uma das actrizes principais da primeira temporada de Arrow e secundária na segunda (Katie Cassidy), duas actrizes de Buffy Caçadora de Vampiros (Eliza Dushku e Michelle Tratchenberg), dois actores de 4400 (Billy Campbell e Garret Dillahunt) e uma estrela porno com uma bandolete de orelhas de coelho (Sasha Grey). Michael Imperioli e Gina Gershon tomam conta das crianças.
Numa primeira análise, The Scribbler parece prometer um pouco de Identidade Misteriosa (2003) e Pesadelo Em Elm Street 3 (1987) /Bad Dreams (1988), ao introduzir uma paciente com múltipla personalidade num edifício cheio de doentes mentais que são eliminados um a um mas, no final, está muito mais próximo do remake de Toolbox Murders (2003) ou Amityville: Nova Geração (1993) – onde, curiosamente, há também uma personagem chamada Suki. Qualquer relação entre a maquineta cheia de fios e cabos que vai sofrendo alterações e o pesadelo cyberpunk Testsuo (1989) é mera coincidência.
Dan Schaffer é o autor da obscura graphic novel de 2006 e John Suits é o não menos obscuro realizador/produtor de muito baixo orçamento e talento de Breathing Room (2008). Juntos, reduzem The Scribbler a um exercício de incompetência. Uma jovem esquizofrénica, sujeita a tratamentos de choque para suprimir as suas identidades suplentes, é enviada para uma casa de recuperação para continuar o tratamento sozinha. Trata-se de um edifício de 13 andares, que deveria estar cheio de gente, mas do qual só conhecemos a meia dúzia que se vai estatelando do telhado para a entrada, e só lhes conhecemos o aspecto físico, porque não passam de figurantes. De cada vez que a heroína se sujeita ao tratamento, sofre falta de memória e alguém “salta” do telhado, para que se suspeite da culpa de uma das suas personalidades, supostamente a escrevinhadora (scribbler), que mais não faz do que rabiscar nas paredes mensagens invertidas; ou que se passe tudo na cabeça dela e as vítimas sejam as suas duplas. No final, assiste-se a uma luta de artes marciais entre a heroína e a vilã, tão risível quanto surpreendente, como se ambas se tivessem ligado à matriz e, subitamente, I know kung fu.
The Scribbler 2014