“Coisa Ruim” passa-se no meio rural português e alimenta-se do folclore de meter medo, mas mantendo sempre a guarda levantada do cepticismo em relação ao tema, até ao clímax final. Esse cepticismo leva a que o filme nunca chegue a inquietar e o desfeho revela-se assim tão absurdo que torna risível todo o projecto (até “O Exorcismo de Emily Rose”, outro a beber do “Exorcista” original, conseguia reunir mais consenso).
A história de Rodrigo Guedes de Carvalho é banal. Pior do que banal, é uma estafada revisitação de mais de seis décadas de cinema de terror e estranha-se que, depois de absorver tantos filmes, a esponja não largue mais do que uma gota ou duas. É o milagre Fairy, ou da falta de originalidade?Uma família urbana instala-se numa velha casa no campo (“Amityville”, minha gente) e descobre que antepassados seus foram responsáveis por um crime bárbaro que envolveu a violação e imolação de uma mulher e três crianças. A acção desenvolve-se lentamente e de modo solto, com diálogos entre párocos e agnósticos, pequenos relatos supersticiosos à mistura e sem esquecer um exorcismo e uma sessão espírita. Tenta-se criar a ideia de medo do desconhecido e do inexplicável, mas é aqui que inquina a construção. Fica-se pela intenção e a reacção ao susto é o bocejo.
Há muita coisa que fica por explicar e ajudava clarificar. Xavier (Adriano Luz), o pai de família, é a razão porque se mudam para o casarão na terrinha, e a ideia é mudarem de ares, mas só ele parece interessado nisso (a mulher e os filhos ainda não aderiram à ideia). Mas porque insiste ele tanto? Não se sabe. Talvez o tédio, o stress da cidade. Qual a profissão dele, como vão fazer para subsistirem, pois não parecem endinheirados? Xavier é biólogo, diz-se, e passeia pelos montes num jipe a ver paisagens, mas ver paisagens qualquer um vê... A mulher não trabalha e a filha adolescente, que já é mãe, não se sabe se estuda. Os três pastorinhos, que só o filho mais novo, Ricardo, vê (porquê ele?), são três miúdos imóveis à moda vitoriana (quem disse que as estátuas metem mais medo que os vivos?). Lena (Manuela Couto) ouve o marido chamá-la, mas ele afinal não está em casa – porque havia a alma penada de imitar-lhe a voz?)
No comments:
Post a Comment