Por essa razão, é com grande surpresa e agrado que se assiste a este pesadelo situado no interior não especialmente inspirado de uma gruta onde habitam criaturas carnívoras não especialmente amigáveis (como seria de esperar).
As personagens são todas femininas. Um grupo de amazonas (diga-se em abono da verdade, que mais parecem manequins do que amazonas) reúne-se todos os anos para um fim de semana radical. O ano passado foi rafting, este ano é descer uma gruta nas montanhas Apalaches. Foi a escolha da impetuosa Juno, e só tarde demais as outras se apercebem de que se enfiaram numa gruta inexplorada e ainda sem nome. Assim sendo, as equipas de salvamento que foram postas de sobreaviso de nada servirão, já que foram notificadas de uma expedição num local diferente.
Sarah, outra das aventureiras, perdeu o marido e a filha num acidente de viação e ainda está combalida. Se, a princípio, temos seis amigas radicais numa gruta misteriosa, após um desmoronamento bloquear a única saída conhecida da gruta e uma delas ter partido a perna em resultado de uma queda, descobrimos que elas não estão sozinhas. A gruta é habitada por criaturas humanóides e carnívoras, que se movem na escuridão com extrema rapidez e atacam quando menos se espera. É a partir daqui que o filme se torna naquilo que esperávamos desde o início. As seis mulheres são carne para canhão. Mas saber qual, quando e como não deixa de ser cativante. Para além do elemento de terror físico e da tensão que lhe está inerente, há ainda a ter em conta um factor inesperado, que se revela através do pingente do fio de pescoço de Juno. Elucida algumas insinuações e precipita o final.
As sombras estão bem filmadas, a voltagem é bem gerida e os momentos de gore perfeitamente enquadrados. Durante algum tempo, vivem-se realmente as atrocidades e o terror da gruta. O único mal reside nas criaturas em si, homens e mulheres despidos, cobertos de pó e com máscaras de látex assustadoras, mas nada originais. Lembram a versão homem-morcego do “Drácula” de Francis Ford Coppolla (na cena em que Dracula é cercado no leito de Mina Harker) e também o monstro anfíbio do primeiro episódio de sempre dos X-Files e mais meia dúzia de cópias desta máscara popular desde então. E terá de desculpar-se o pormenor absurdo de as criaturas, cegas por existirem na escuridão da gruta e terem de orientar-se pelo som, serem também surdas o suficiente para não identificarem uma vítima quando estão em cima dela, só porque esta susteve a respiração – e, assim que a criatura dá um passo para longe delas, as heroínas voltam a mexer-se (logo, a fazerem barulho) e não são notadas.
Como conclusão, e desculpando-se pequenas incongruências, a simplicidade da ideia e falta de originalidade da história, temos uma gestão electrizante do espaço fechado e das vidas encerradas dentro, algo ao estilo de “Aliens” versus “The Thing” versus “Carrie”...
Por último, é curioso que “Dog Soldiers” fosse sobre um grupo de homens numa floresta onde há lobisomens e “A Descida” seja sobre um grupo de mulheres numa gruta cheia de criaturas carnívoras.
Wednesday, November 19, 2008
A Descida, de Neil Marshall
Com o filme “Dog Soldiers”, o nome de Neil Marshall foi catapultado na sua Inglaterra de origem, considerado pela crítica local como um regresso à grande forma do cinema de terror, nomeadamente do tema dos lobisomens. Infelizmente, o filme era absolutamente risível na sua abordagem pouco imaginativa e bizarro na concepção dos lobis, que mais pareciam travestis em tacões “spice girl” e máscaras de pôr na parede (ao lado das de alce e das de elefante). Por essa razão, seria no mínimo duvidoso que este “A Descida”, filme seguinte no percurso como realizador deste antigo editor de montagem e guionista, pudesse sobressair do marasmo e mediocridade que consistiu a sua estreia. Especialmente com um argumento muito parecido com outro desaire de 2005, “A Caverna”, de Bruce Hunt (http://axasteoque.blogspot.com/2005/10/caverna-de-bruce-hunt.html).
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