Wednesday, April 11, 2012

Temos de Falar Sobre Kevin, de Lynne Ramsey


O manifesto tiroteio no liceu de Columbine, no Colorado, ocorreu a 20 de Abril de 1999, e desde então disparou a exploração ao tema. A sétima arte não ficou de fora, tanto mais que há quem diga que até o despoletou, na forma de Basketball Diaries (1995), onde um ainda jovem problemático Leonardo Di Caprio irrompia, em idílio, pela respectiva sala de aulas, de sobretudo preto e caçadeira, e corria professor e colegas a tiro.
Como hienas em redor de uma carcaça, filmes, livros e peças de teatro apressaram-se a devorar o tema com a mesma avidez que a restante mediaBowling for Columbine (2002), do contestatário Michael Moore, tentou compreender porque apresentam os EUA uma taxa de eventos relacionados com armas de fogo muito superior a qualquer outro país democrático e Elephant (2003) de Gus van Sant, ficou-se pelo carácter indiscriminado do massacre estudantil, seguindo aleatoriamente estudantes de um liceu através dos corredores, auditórios e jardins. Não foram casos únicos, podendo acrescentar-se-lhes títulos como The Life Before Her Eyes (2007), com Uma Thurman, e outros menos conhecidos: Bang Bang You’re Dead (2002)Duck! The Carbine High Massacre (2000), Zero Day(2003), Home Room (2003), Dawn Anna (2004), April Showers (2009) e Reunion (2009).
Temos de Falar Sobre Kevin serve-se de um artifício desonesto, para chegar ao mesmo ponto que os anteriores mencionados. Há vidas que começam de trás para a frente (O Estranho Caso de Benjamin Button, 2008), outras que acabam antes de começarem (BZ: Viagem Alucinante, 1990) e aquelas que se desenrolam sem que se dê pelos seus intervenientes (O Barbeiro, 2001). Temos de Falar Sobre Kevinlimita-se a baralhar a ordem das cenas, transformando-se num puzzle que cultiva a confusão, durante uma fase inicial, e reserva o fio condutor para mais tarde. Infelizmente, por culpa combinada entre realização e montagem, a primeira meia hora é composta de peças irrelevantes, resultando em impaciência e descrédito para o espectador. E o resto, apesar de alguns componentes interessantes, não chega para compensar.
Se Lynne Ramsey (A Viagem de Morvern Callar, 2002) não se tivesse empenhado tanto no ardil e dispusesse a trama de forma cronológica, talvez se salvasse uma longa-metragem em vez de alguns farrapos. Lionel Shriver, a autora do livro homónimo, fez avançar a narrativa através de cartas endereçadas pela mãe de Kevin ao marido ausente, onde expunha dezasseis anos de relacionamento familiar, em busca de uma justificação para o massacre que o filho conduzira no liceu e pelo qual fora encarcerado. A realizadora evitou o recurso a uma narração (que substituísse as cartas) e preferiu a fragmentação da história em constantes avanços e recuos, muitos deles inconsistentes em si mesmos, precisamente aqueles que ficaram para o intróito.
Num filme que peca pela abusiva manipulação da disponibilidade do espectador e por uma excessiva simplificação da história (afinal, não há tempo para tudo e Lynne Ramsey gasta-o com palha), encontram-se alguns dos pontos-chave do livro: será a falta de amor de uma mãe por um filho capaz de criar um sociopata ou essa carência de ligação com os outros seres vivos é inata? Haverá forma de contornar tal vazio empático através do amor dos pais ou este é invariavelmente fatal? De fora fica a dualidade de comportamento para com a filha mais nova e uma pormenorização e enquadramento do massacre, patentes no livro.
Tilda Swinton nunca interpretou um papel dito normal, pelo que o de Eva se integra naquilo a que já habituou o público. Ezra Miller, como Kevin, é um bom contraponto e a banda sonora foi composta por Jonny Greenwood, dos Radiohead. Pergunto eu: haverá justificação para que uma mãe mate os seus rebentos ao intuir neles algo que, de tão maligno, poderá determinar a vida ou a morte de terceiros, no futuro? Por exemplo, teria o holocausto sido evitado se a mãe de Hitler o tivesse afogado em criança?
We Have To Talk About Kevin 2011

O Violoncelo, de Woo-cheol Lee


Com uma estreia deste calibre, não admira que, sete anos volvidos, mais ninguém tenha colocado uma câmara nas mãos do sul-coreano Woo-cheol Lee, realizador e argumentista de O Violoncelo. O próprio título é quase circunstancial, de tal modo enche a película de todos os clichés de que se lembrou: cassetes de música que metem medo, o telefone desligado que continua a tocar, o álbum de fotografias com um rosto cortado, o carro que tenta atropelar e pára a alguns metros a apreciar, a criada muda que parece um fantasma, a aluna que jura vingança e a filha com autismo ou outro atraso mental não especificado.
Uma professora de violoncelo é assombrada por uma situação do passado, que estranhas ocorrências obrigam a reviver. O filme demora demasiado a revelar que situação é essa, chegando a dar versões diferentes do ocorrido, entretanto misturando apontamentos que se querem perturbadores, mas são apenas entediantes. No final, o twist é o da ameaça de repetição, o que realmente é assustador, porque perder tempo uma vez já chegou. Fica a nota de que todas as actrizes do filme são anorécticas, encabeçadas pela protagonista Seong Hyeon-ah.
Chello hongmijoo ilga salinsagan 2005