Wednesday, November 19, 2008

Silent Night, Deadly Night Parte 2, de Lee Harry


Há filmes originais, sequelas, remakes e até, recentemente, prequelas. Mas SNDN2 é um caso à parte. Para nos situar na trama, a primeira parte do filme é composta por flashbacks, decalcados de SNDN1, e narrados em grande pormenor pelo irmão do assassino, em formato Entrevista com o Assassino. Só que Ricky, irmão mais novo de Billy, não assistiu a praticamente nada do que relata, o que faz deste artifício algo absolutamente inédito.

Se isto parece anedótico, tenha-se presente que estes flashbacks são compostos pelas próprias cenas recicladas de SNDN1, e que correm durante os primeiros 39 minutos de filme. Os restantes 49 minutos de duração foram filmados apenas 10 dias, com um argumento de 250 mil dólares. E há quatro argumentistas creditados, os quais ainda repescam mais imagens de SNDN1 quando Ricky vai ao cinema com a namorada ver um filme sobre... um assassino vestido de Pai Natal.

As cenas originais incluem um homicídio que haveria de inspirar Frank Miller e a sua Elektra: Ricky atravessa uma vítima com um velho chapéu de chuva, o qual se abre nas suas costas; claro que de seguida começa a chover e é patente tratar-se de chuva de mangueira, visto que não cobre todo o cenário.

Ricky é interpretado por três actores aos 10 anos, aos 15 e aos 18, sem qualquer semelhança entre eles, o que é gritante entre os 15 e os 18. O seu primeiro homicídio, aos 15 anos, consiste em atropelar um homem, passando-lhe por cima diversas vezes, por este ter sido abusivo com a respectiva namorada – esta observa o sucedido e agradece a Ricky, afastando-se ilesa. Apesar destas serem situações novas, continuam a ser contadas em flashback, na mesma entrevista que Ricky dá a um psiquiatra na cadeia. Eric Freeman, o actor que encarna Ricky (aos 18 anos), é um autómato musculado, cuja única expressão é abanar as sobrancelhas malignamente enquanto entoa palavras como “punish” e “naughty” numa evocação ao Terminator.

Nunca sendo claro se Ricky está num hospital psiquiátrico ou numa penitenciária, o que é certo é que se evade desse local (também sem explicações) com o objectivo de matar a antiga madre superiora, que vive sozinha desde o fecho do orfanato. Depois de tantos flashbacksonde se vê claramente a madre superiora, é anedótico que a actriz seja outra (mas, também, num filme em que um personagem aos 15 e aos 18 é representado por actores diferentes...), e não é só isso: é-nos dito que ela sofreu um enfarte, mas nada nos prepara para metade do rosto inexplicavelmente reduzido a cicatrizes, ou ao facto de se encontrar numa cadeira de rodas... no primeiro andar de uma casa cujas escadas não têm qualquer apoio para a cadeira. E o que dizer da senhora morar numa casa com o número de porta 666?

Mas, afinal, o que justifica flashbacks tão extensos que o genérico final apresenta uma longa lista do elenco do SNDN1? Tendo o SNDN1 sido retirado dos cinemas ao cabo de apenas duas semanas de exibição, devido à polémica envolvendo associações de pai inconformados com o fato de Pai Natal ser vestido por um assassino de machado em riste, os produtores queriam apenas que Lee Harry remontasse o original e apresentá-lo como sequela, com apenas um par de cenas novas. Lee Harry tornou-se criativo, mas como o orçamento era limitado... Isso não explica, apesar de tudo, que o apelido dos irmãos assassinos mude de Chapman (SNDN1) para Caldwell (SNDN2).

Silent Night, Deadly Night Part 2 1987

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