Wednesday, November 19, 2008

1408, de Mikael Hafstrom


1408 é o número de um quarto de hotel onde um autor de guias turísticos macabros (“Os 10 Hotéis Mais Assustadores”) se instala por uma noite, com intenções de desmascarar mais um logro. Isto porque não acredita em fantasmas. O maitre do hotel, que tenta dissuadi-lo de se registar nesse quarto, revela-lhe que ninguém conseguiu aguentar mais de uma hora lá dentro. O desafio é aceite.

A história baseia-se num audio-book de Stephen King, ele que já versou sobre hotéis assassinos em The Shining e dedicou metade da vida a brincar com o sobrenatural. Desta vez, o orçamento era demasiado modesto para um hotel inteiro, pelo que se optou por apenas uma suite, composta por quarto, sala e casa de banho. Coloca-se lá o protagonista e coça-se a cabeça a pensar no que se lhe vai fazer. Abanam-se as paredes para confundi-lo, põe-se crianças a chorar do outro lado das paredes, uma janela de guilhotina que lhe cai sobre a mão, água das torneiras que corre por si, portas que não abrem e paredes que abrem rachas e escorrem sangue. Esgotados os lugares-comuns do género, os argumentistas devem ter visto O Dia Depois de Amanhã e decidem subir muito a temperatura do quarto, depois descê-la ao ponto de haver neve no chão e finalmente disparam uma onda de mar no meio de uma tempestade. Algum dos argumentistas terá estado envolvido em Jumanji? No fundo, experimentou-se de tudo para assustar o hóspede, incluindo imensas imagens e situações que saíram da cabeça do próprio, para lhe dar um sentido de paranóia. Mas, afinal, como sabia o quarto desses acontecimentos do seu passado, leu a mente do autor ou investigou-o?

É um filme redundante. Já sabemos que se trata de uma história de fantasmas, porque é da denúncia de quartos de hotel assombrados que vive o herói. E voilá, o tema resume-se a isto. O resto é assustar o hóspede durante uma hora, reciclando o manual do género. E como temos a pena de Stephen King envolvida, há uma filha que morreu de cancro e um pai com alzhaimer, uma família que se separou por causa da mágoa, ideias que funcionavam quando ele as trouxe para as suas histórias nos anos 80, mas que hoje sabem a recauchutamento. Perto do final, há alguns apontamentos dignos de nota, alguma tortura psicológica mais inventiva e inesperada, mas não chegam para equilibrar.

A escolha dos actores era já uma prova de que os produtores não sabiam o tom a dar ao filme. Tirando Identidade Misteriosa (2003), John Cusack habituou-nos à ligeireza e ao constrangimento. Samuel L. Jackson gosta de ouvir a própria voz, e como o filme só lhe dá três cenas, esforça-se demasiado por que lha escutemos. A mera presença de Tony Shaloub devia ser um indício.

O primeiro filme americano deste realizador sueco, Pecado Capital(2005), passara despercebido no meio das suas inconsistências e superficialidade, e 1408 não é um passo na direcção certa. Por vezes bem conseguido visualmente, é o único elogio que pode dar-se a uma história de fantasmas que não perturba nem assusta. Não nos mete a nós dentro do quarto, estamos apenas a ver o que o quarto é capaz de fazer a um céptico até quebrá-lo. E quando, subitamente, o quarto já não é o quarto, mas um sítio qualquer numa realidade paralela ou virtual, podemos tirar os sapatos e recostar-nos. É uma fantochada.

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