New Orleans, uma velha casa junto ao pântano, um sótão que alberga um mistério atrás de uma porta trancada, onde o seu proprietário terá sofrido um esmagador AVC. Uma jovem enfermeira, vinda da “cidade grande” e descrente de “voodoos” e “hoodoos” (esta última palavra, iniciada agora no cinema mainstream, refere-se efectivamente a uma tradição anciã da Costa da Guiné, ligada à magia e ao espiritismo), vem tratar o velho proprietário e começa a desconfiar de que espíritos mal intencionados habitam a casa.
Para se fazer um filme de terror, é preciso acreditar-se no género. o cenário é um elemento secundário, já que o terror funciona em qualquer lugar – situar a acção na pantanosa Nova Orleães, terra propícia porque conhecida pela crendice e superstição, não é por si só sinónimo de nada.
"A Chave” é um filme que baseia o seu misticismo no exotismo do lugar e não oferece mais do que um episódio tipo “Hitchcock Apresenta” demasiado esticado para atingir os 104 minutos de duração. De resto, nenhum dos actores parece especialmente concentrado no projecto. Kate Hudson faz questão de mostrar que recuperou o peso antigo depois da gravidez (teve três meses e meio de treino intensivo, porque queriam que a sua personagem fosse magra) e que continua laroca, mas quanto a preocupações com a personagem é tudo. John Hurt (duas vezes nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário – Midnight Express e O Homem Elefante) treinou ao espelho a sua expressão de rosto paralisado pelo acidente vascular cerebral e limitou-se a mimá-lo sempre que a câmara ameaçava focá-lo. Peter Saagard vai-se repetindo de fita para fita e a Gena Rowlands não passa de uma sombra inchada daquela que foi a diva de John Cassavetes.
E se o cast pouco motivado não fosse suficiente, o enredo risível vem das mãos de Ehren Kruger, argumentista habituado ao género do suspense e do terror, mas que nunca lhe trouxe nada de novo: The Ring e Ring 2, Rings (curta metragem de 16 min que faz a ligação entre as duas longas metragens), Impostor e Raindeer Games. Os créditos do realizador são ainda piores: K-Pax, Hackers e Backbeat. Os fãs de Kate Hudson fariam melhor em escolher uma das suas comédias românticas e os do terror andam sem sorte. Esta chave só devia servir para trancar a bobina num sótão perdido de Nova Orleães.
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