Monday, December 3, 2012

Sinistro, de Scott Derrickson


Há uma boa razão para não se habitar a casa onde ocorreu um crime violento. Não o faça. Um investigador de casos criminais verdadeiros muda-se para a morada de uma família que foi enforcada em simultâneo no jardim das traseiras, decidido a repetir o sucesso do seu primeiro livro. As pistas vão-lhe sendo oferecidas de bandeja, com os contornos do caso a adequarem-se aos de um serial killer. Quem estará por trás dos terríveis eventos?
 
Sinistro é uma variação ao género found footage. Em vez de pôr a audiência a ver fitas caseiras, põe-na a ver o protagonista a vê-las. Apesar do comentário ser redutor, é mais um filme rendido ao voyeurismo de imagens mal editadas que, no final, não sabe a nada.
 
Numa primeira fase, Sinistro é cativante. O mistério é estabelecido por camadas e o realizador Scott Derrickson sustenta o ambiente tétrico de forma eficiente. A escolha de Ethan Hawke para protagonista é louvável, tendo o actor um daqueles rostos convincentes, a sua expressão torturada galvaniza empatia e não descrédito. Mas, a inquietude vai derretendo em exasperação, conforme se percebe que o inexplicável tem contornos sobrenaturais que vão mesmo ficar inexplicados. A presença na casa é maligna, ancestral e o seu modus operandi é intuído pelo público bem antes que o personagem lhe tome o gosto, ainda que sejamos alimentados ao mesmo tempo, o que não faz respeitar o intelecto do investigador. E o final, ao não lhe dar espaço de manobra, torna-o irrelevante.
 
Em retrospectiva, o filme peca por um guião que não traz nada de novo e morde a própria cauda. Pedia-se, simplesmente, que o protagonista tentasse salvar-se a si e aos seus, conduzindo uma investigação digna, como se verifica, por exemplo, em The Ring (2002). Aqui, vem-lhe tudo à mão, sem sair de casa: fitas caseiras reveladoras e respectivo projector, um ajudante de xerife a quem delega funções vem contar-lhe tudo o que descobre e tem vídeo-conferências com um professor universitário especialista em símbolos teológicos. Apesar de tudo, e não é dizer muito, este é o melhor filme de Scott Derrickson, que não filmava desde O Dia Em Que A Terra Parou (2008) e já tinha filmado o seu guião de O Exercício de Emily Rose (2005). 
Spoiler: Quanto ao modus operandi da entidade antagonista, parece ser apenas um capricho que opte por matá-las quando e apenas após mudarem de casa (assustando-as até lá). Quanto às crianças, que mantém consigo (e que a tradição diz que se alimenta das suas almas), são fantasminhas de maquilhagem negra em redor dos olhos e a criatura ancestral um homem de camisa aberta no colarinho com uma máscara fixa (sem expressão). todas as famílias de vítimas serem compostas por quatro elementos é outra coincidência indigesta.  

Sinister 2012