Friday, November 6, 2015

Contos de Halloween, organizado por Axelle Carolyn

Contos de Halloween é um produto derivado de colheita sazonal que, com mais ou menos variação, chafurda na mesma água estagnada do orçamento proporcional à ausência de ideias originais. Na urgência de contar uma história inteira em 10 minutos ou menos, os participantes metem os pés pelas mãos e, sem parecerem entender de terror nem de comédia (até aqueles que já deram provas de melhor), obrigam o espectador a uma inclemente pasmaceira criativa, plágios e homenagens de arrepiar pela falta de imaginação. No final, torna-se confuso distinguir os episódios (são dez histórias separadas, ainda que duas ou três partilhem figurantes) e que tantos tenham feito tão pouco (depois de ver o filme, é impossível adivinhar que episódio corresponde a que realizador). 
O tema musical de abertura é da autoria de Lalo Schifrin (Missão Impossível), mas ninguém diria, de tão genérico (o seu filho Ryan dirige um dos segmentos, pelo que a explicação pode estar aí). Os fãs do género contam com algumas caras conhecidas para apontar orgulhosamente e quem não for pode desistir. Os realizadores de serviço têm Neil Marshall, Lucky McKee e Darren Lynn Bousman como os mais sonantes. Mais vale optar pelo mediano Trick r'Treat (2007), onde Michael Dougherty faz malabarismo com apenas quatro narrativas sucessivas. 
Tales Of Halloween (2015) 

Inferno Canibal, de Eli Roth

Inspirado no Holocausto Canibal (1980) de Roggero Deodato, Eli Roth voltou a dedicar-se às carnes vermelhas, colocando a sua namorada peruana (a entretanto esposa Lorenza Izzo) no epicentro da selva natal, mas o inferno verde que filmou em 2013 só conseguiu distribuição em 2015, eventualmente para acompanhar a onda de Knock Knock (2015), que o realizador fez com a mesma equipa técnica, todos enturmados desde Aftershock (2012).
Um grupo de ingénuos activistas ruma ao Peru para se acorrentarem ao bulldozer de uma construtora que, aparentemente, se prepara para dizimar uma aldeia que nunca conheceu a civilização e acaba a servir de refeição à tribo que foi ajudar. Mesmo reconhecendo-se a ironia anti-ecológica e um ou outro momento mais inspirado, Eli Roth continua a ser um nome a evitar pela sua incapacidade em criar as emoções básicas de um filme de terror. Sim, há um homem desmembrado perante os nossos olhos (com algum jogo de câmara) mas, da mesma forma que os figurantes nativos acharam estar a representar uma comédia, também o cinéfilo civilizado não negará a frustração perante o resultado final. Pôr gente a gritar não chega.
The Green Inferno 2013 (2015)

Downloading Nancy, de Johan Renck

Nancy não está bem. Não é feliz. Precisa de laminar o próprio corpo para deixar a angústia sair, precisa de ser possuída com violência para que o sexo lhe dê prazer, tem necessidade de alguém que a compreenda e o marido de 15 anos ignora as suas premências e rejeita os seus avanços. A psicóloga limita-se aos lugares comuns de falta de «auto-estima» e de «sentido de si». Conhece um homem através da internet que a excita e a faz sentir-se desejada, ele é cruel e bruto como ela gosta e o que ela quer é morrer. Acordam no preço e ela compra um bilhete só de ida. Começa o filme.
Downloading Nancy tem um título curioso, a par de Decoding Annie Parker (2013), mas enganador (em Portugal, adoptou-se o adequado A Libertação de Nancy). É certo que o par sadomasoquista se conheceu através da internet, mas podia ser através de classificados do jornal e cartas de um lado para o outro, porque o que realmente interessa passa-se apenas no mundo real. Nancy desistiu de viver e aguarda o golpe de misericórdia, numa espécie de pedido de eutanásia (suicídio assistido) previsto na lei norte-americana como homicídio consentido. O guião baseia-se no caso real de Sharon Lopatka (1996), torturada e asfixiada em consequência de fantasias partilhadas online e concretizadas fatalmente.
Neste registo, trata-se de uma história perturbadora e sensível, responsabilidade que Maria Bello carrega com realismo, cruzando martírio e esperança, algo que as analepses ajudam a enfatizar. Jason Patric, como o seu carrasco, mantém a máscara de normalidade o quanto pode, o que é compreensível, pois a situação também é estranha para ele. Rufus Sewell, o marido apanhado numa casa vazia, é aquele que tem menos com o que trabalhar, limitando-se a mastigar algumas colheradas de incredulidade. Michael Nyqvist, o sueco que protagonizou a trilogia Millenium em 2009, já falava inglês em 2008. É a primeira longa-metragem de Johan Renck, sueco saído do mundo dos videoclips.
Downloading Nancy 2008

Knock Knock: Tentações Perigosas, de Eli Roth

Sedução, sadismo e dominação, atmosfera e tensão também não. O novo filme de Eli Roth é o remake de Death Game, um trash movie de 1977 sobre duas jovens psicopatas que seduzem um pai de família numa noite de chuva e o torturam no dia seguinte, com propósitos indefinidos para o público, mas eventualmente explícitos para as próprias, apesar do absurdo anticlímax com que o realizador/ argumentista confusamente se desembaraça dos metros de fita que não quis deitar para o lixo. 
Knock Knock é um entediante exercício de soft torture porn (típico de Eli Roth: Hostel 1 e 2, de 2005 e 2007), que não assusta, enoja ou entretém. Uma autêntica pastilha sem sabor, com personagens irritantes e situações trôpegas, mal exploradas e que culminam num desfecho imprevisto, mas cobarde. Para Keanu Reeves, o filme é a oportunidade de interpretar um papel nos antípodas de John Wick (2014), o mesmo acontecendo com a esposa de Roth, a chilena Lorenza Izzo, depois do que passou em The Green Inferno (2013), filmado na sua terra natal e de Ignacia Allamand (faz de esposa de Keanu), Guillermo Amoedo e Nicolás López (argumentistas e produtores), toda uma latina família feliz com diversos projectos prévios em comum.
Ao contrário de Spring Breakers (2012), onde a esposa do realizador Harmony Korine (Rachel Korine) é a única que se despe (as mais conhecidas Vanessa Hudgens, Selena Gomez e Ashley Benson ficam-se pelo biquini), aqui ambas psicopatas (Izzo e Ana de Armas, co-psicopata) têm esse assaz breve privilégio (Eli Roth casou com a menos atraente). É um trio Odemira de más representações, com um Keanu Reeves, amordaçado e aos gritos, a permitir verificar como a sua dentição inferior é desconcertantemente torta, e o resto do tempo lembra, com a ajuda de uma ineficiente cinematografia, o seu trajecto pelos desenhos animados de Richard Linklater. De resto, Knock Knock é um rol de oportunidades perdidas, de entre as quais fica por explicar porque é que ele não é uma vítima casual, já que, aparentemente, e ignorando-se a duração, era espiado pela dupla.
Knock Knock 2015

The Gallows, de Travis Cluff e Chris Lofing

Corria o ano de 1983 quando uma peça de teatro estudantil que envolvia um enforcamento foi interrompida a meio de cena pelo acidental esticanço de pernil do actor que tinha o laço ao pescoço. Este ano, na véspera da repetição da malfadada peça, três estudantes entram no liceu para escavacarem o cenário e impedirem a sua realização. Não estão sozinhos e a noite vai acabar mal. The Gallows é totalmente filmado em POV, mas o tempo da found footage passou e a câmara oscilante e a iluminação inspirada no movimento Dogma 95 já induzem ao bocejo. Ainda assim, e mesmo não justificando o visionamento, o filme lá consegue um ou outro susto melhor encenado. No todo, contudo, é mais um ninho de gritos histéricos e imagem sacudida, a impressionar apenas os mais impressionáveis.
Segundo filme que a dupla Travis Cluff e Chris Lofing escreveu e realizou, com o primeiro a fazer de operador de câmara interactivo, vulgo actor (é o nono papel da sua carreira, curtas-metragens homónimas incluídas). A lenda de Charlie Grimile é ficcional, assim como a peça de teatro de 1983 em que o aluno teria acabado enforcado, apesar da produção ter tentado baralhar os cinéfilos com alguma areia para os olhos em blogs obscuros desenvolvidos para o efeito, onde alicerçaram a base histórica e juntaram o enforcamento de três adolescentes no auditório do mesmo liceu em 2008, supostamente aqueles a braços com o fantasma. Já se fala em sequela e, algo precocemente, em adicioná-lo à galeria de monstros como Michael Myers, Jason Voorhees e Freddy Krueger. Os personagens têm os mesmos nomes próprios que os actores que os representam, eventualmente uma piscadela de olho a Blair Witch Project (1999), globalmente entendido como o precursor do subgénero. 
The Gallows 2015 

Wednesday, October 14, 2015

Cold In July, de Jim Mickle

Tão invulgar como um dia frio em Julho, Cold In July revela-se um extraordinário exercício de suspense, apanhando desprevenida a audiência e puxando-a, com inesperada brusquidão, para uma espiral de círculos infernais cada vez mais intensos, como se abocanhada por um tubarão que a submergisse e o sangue, na antecipação do pior, se lhe gelasse de terror.
Com nítidas influências de John Carpenter e de Sam Peckimpah, Jim Mickle transporta-nos pelo degradante, visceral e grotesco pesadelo suburbano, que desmonta a partir de um evento realista, acompanhando as consequências de uma anónima invasão domiciliária que termina no homicídio do assaltante e onde o lesado desconfia da identificação da vítima mortal pela polícia. Estremunhado mas cada vez mais apreensivo, reage contratando um detective mas, em vez de paz de espírito, a sua intervenção vai descobrir uma realidade paralela que exigirá de todos os envolvidos sangue frio e determinação numa solução que se pretende drástica e, acima de tudo, definitiva. Certa gente não merece viver.
Cold In July precede e bem pode ter inspirado a aclamada primeira temporada de True Detective, com o qual tem pontos tangenciais bastante concretos e facilmente identificáveisBaseado num romance de Joe R. Lansdale, cujo talento se estende pelo conto, comics (Batman e Jona Hex), graphic novels e animação televisiva. Adaptados ao cinema, tem já Bubba-Ho Tep (2002) e Christmas With The Dead (2011), além de integrar antologias directas para vídeo. Transpôr as páginas do livro obrigou o realizador e o co-argumentista Nick Damici a sete anos de constante contorno de dificuldades narrativas e financeiras e mereceu mesmo o contributo de Sam Shepard, autor de Crónicas Americanas e actor no filme, que simplificou uma cena que esteve quase a ser eliminada pela sua complexidade técnica.
As filmagens tiveram início uma semana após desfecho da série Dexter e Michael C. Hall encabeça o elenco, de onde constam também Don Johnson e Vinessa Shaw. A banda sonora, a cargo de Jeff Grace (Meek’s Cutoff, The House of the Devil, The Innkeepers), recorda The Thing (1982) e Drive (2013), mas tem alma própria.
Tenso e violento, Cold In July revela-se uma surpresa constante, com o seu estilo retro, subversivo e, por todas as razões invocáveis, excepcional. Assim como Julho é, por natureza, um mês quente e a descida de temperatura, não só se estranha, como exige mais peças de roupa, este filme começa ameno, mas vai arrefecendo e enegrecendo a cada camada.
Cold In July 2014

Friday, September 18, 2015

Prom Night, de Nelson McCormick

A história é contada em duas penadas ainda o filme vai no adro: professor do liceu é despedido por se mostrar demasiado afectuoso sem consentimento de aluna e mata-lhe a família antes de ser condenado a prisão psiquiátrica, de onde escapa para se vingar da sobrevivente. Eventos ocorrem durante a noite do baile de formatura, que excepcionalmente tem lugar num grandioso hotel e onde os formandos podem hospedar-se.
Terror de pacote tirado do fundo do caixote do lixo e exibido ainda numa bola amarrotada. Personagens de cartão, um assassino de cartilha e bandas de pastilha elástica a empurrarem-se umas às outras para encherem o espaço com demasiados decibéis. Atirada para uma acção simplória e mal construída, a audiência não tem a que se agarrar e por isso até com as mortes se aborrece.
Prom Night é um remake só de título, sendo que, ao contrário do original, nunca se questiona a identidade do homicida, que aqui anda de cara à mostra mas se comporta como um típico mascarado (Freddy ou Myers), aparecendo e desaparecendo conforme lhe apetece. De notar que anda às voltas de um hotel a matar gente com um canivete e nunca se suja.
Brittany Snow e Idris Elba são quem tem mais tempo de antena, mas é possível apontar outros rostos conhecidos: Kellan Lutz, Ming-na Wen (SHIELD), Jessica Stroup (Beverly Hills 90210), Dana Davis (Franklyn & Bash), Joshua Leonard (Blair Witch Project), James Ransone (colega de Idris Alba em The Wire) e Jonhathon Schaech.
Prom Night 2008

Lugares Escuros, de Gilles Paquet-Brenner

Foi com base no testemunho de Libby que o irmão foi condenado por ter morto toda a família. Hoje, graças à insuficiência financeira e ao mecenato de um grupo de investigadores de domingo, acha que a sua memória pode tê-la traído. Se, em Mad Max: Fury Road (2015), Charlize Theron e Nicholas Hoult procuravam um lugar da sua infância onde ela tinha sido feliz, em Dark Places o destino é um tempo que ela tentou esquecer. Lugares Escuros arrasta-se demasiado em contemplações do rosto da actriz e contrabalança tanto a actualidade com flashbacks que nos questionamos como pôde a protagonista confundir situações tão óbvias. Entretanto, anda para lá um serial killer que vende seguros de vida às suas vítimas. Baseado num livro de Gillian Flynn, a autora de Gone Girl, encenada por David Fincher em 2014. 
Dark Places 2015

Crimes Ocultos, de Daniel Espinosa

O pressuposto propagandista é o de que, durante o regime de Estaline, a União Soviética estava proibida de ter crimes, sob pena de abafar todos os processos que apontassem nesse sentido, os quais nem sequer seriam investigados, para não levantar suspeitas de que pudessem existir. O inglês Tom Rob Smith baseou o livro Child 44 no assassino em série ucraniano Andrei Chikatilo, conhecido como o Estripador de Rostov, cujos 56 crimes ocorreram entre 1973 e 1990, mas transferiu-o para o período pós 2ª Guerra Mundial, porque o bigode de Estaline (falecido em 1953) era mais farfalhudo do que o dos seus sucessores. A própria máxima «No paraíso não há crime» é, obviamente, absurda.
Com actores vindos de todo o lado menos da Rússia (ingleses, suecos, australianos, franceses e libaneses) e pronúncias para todos os gostos, o filme é uma papa de sub-enredos arrastados e desinteressantes, parecendo apenas concentrar-se na investigação policial quando nada mais funciona e, por essa altura, nem isso funciona. Subserviente e com a credibilidade de uma produção norte-americana, o filme fracassou na bilheteira, com um orçamento de 50 milhões de dólares e um retorno de apenas 3,3. Tom Hardy, Noomi Rapace, Gary Oldman, Joel Kinnaman, Jason Clarke e Vincent Cassel, numa ou noutra encarnação, já todos contracenaram uns com os outros, mas não deviam desistir dos seus empregos diurnos.
Child 44 2015

O Canal, de Ivan Kavanagh

Cinco anos depois de um casal se ter mudado para a casa onde é feliz, o marido descobre que o imóvel encerra dentro das suas paredes um historial de uxoricídios que remonta ao início do século passado e está o caldo entornado, a esposa adúltera é empurrada para o canal mais próximo. Haverá fantasmas à solta ou só na cabeça do protagonista, que não distingue realidade de folclore e nem a excelente direcção de fotografia evita o fiasco. Hannah Hoekstra e Antonia Campbell-Hughes são os únicos pontos favoráveis deste projecto de terror psicológico irlandês, mas um olho que espreita de uma fenda na parede e uma morta que sai do canal com o cabelo sobre a cara são oportunidades de gritar plágio, Ju-on e Ringu referências demasiado óbvias para o que já não comportava a menor originalidade e volta a carga com a dita guedelhuda a rastejar do estuque na direcção de um homem que grita, a orientar-se certamente pelo que ouve, porque os cabelos, mais uma vez, não a deixam ver.  
The Canal 2014

Cop Car, de John Watts

Duas crianças divertem-se com o carro da polícia que encontraram abandonado, enquanto o sheriff se esforça por reavê-lo. Da bagageira, uma surpresa para todos os envolvidos. Apesar de alguma conveniência no showdown, o desfecho consegue ser electrizante e, ainda que em aberto, concluir a parte persecutória com uma providencial vaca no caminho. Boas presenças, enquadramentos felizes e Kevin Bacon sempre de parabéns por entremear papeis heróicos e viciosos.
Cop Car 2015

A Noite Fatal (Meia-Noite Fatal), de Paul Lynch

Uma brincadeira cruel de quatro crianças de dez anos conduz à morte de outra, acidente transformado em crime pelo consequente pacto de omissão de auxílio. Seis anos mais tarde, a data coincide com o baile de formatura de liceu onde estudam os perpetradores, os dois irmãos da vítima e o pai destes é director. Aparentemente, está também uma boa noite para vingança.
Prom Night despoletou três sequelas (1987, 1990 e 1992) e um remake (2008), todos irrelacionados para além da efeméride, mas não passa de um tímido e económico slasher que marca o único ano em que, a par de The Fog e Terrror Train, Jamie Lee Curtis foi tri-scream queen (entre Halloween, 1978 e Halloween II, 1981). Para os fãs que tiveram de aguardar mais três anos pela sua nudez de cortar a respiração (Trading Places Love Letters, 1983), já Jamie era hipnótica. E ainda oferece uma bem executada coreografia completa na pista de dança, de envergonhar qualquer John Tavolta com a febre de sábado à noite (1978).  
Apesar do suspense de gestão modesta e tarefeira, o guião não deixa de apresentar vários suspeitos com que distrair da atonia: há um contínuo que dizem que espreita as alunas nos balneários, um violador esquizofrénico e desfigurado que se evadiu do hospício (seis anos antes foi internado sob acusação de ter morto a menina do episódio de abertura) e ainda (ou isto sou só eu) a curiosidade do nome de Leslie Nielsen aparecer à frente do elenco, quando o seu papel é bastante secundário; sendo certo que o actor já tinha carreira desde 1950 e a idade é um posto, Jamie Lee Curtis é a incontestável protagonista. A ajudar à suspeita, o assassino usa uma balaclava e, nessa tarde, uma foi confiscada a um estudante e deixada no gabinete do director (Nielsen). Cabe aqui lugar a um grande spoiler, apenas porque historicamente relevante, mas a evitar por quem pretender assistir à película: num invulgar twist de argumento, 1980 é o ano em que dois slashers têm uma mulher de meia-idade como assassina, em ambos a vingar-se da morte de um rebento (o outro é Sexta Feira 13). Sem querer lançar falsos testemunhos, Prom Night estava concluído muito antes de Sexta Feira 13, tendo inclusivamente sido contactada a mesma distribuidora, mas que acabou preterida porque outra ofereceu mais salas onde estrear Prom Night.
O cenário do baile de formatura não é novo, com Carrie (1976) a precedê-lo e, ao menos, a ter uma maldade suficientemente elaborada; aqui, a má da fita (a tinhosa que convenceu os outros a guardarem segredo) congemina apenas substituir, no último instante antes da nomeação do rei e rainha da noite (estranhamente pré-seleccionados), o rei (que é seu ex-namorado) pelo bully da escola, com a mera finalidade de estragar o momento. 
Como de costume, as actrizes que fazem de alunas de liceu já têm idade para estar a terminar um curso superior e, pior do que isso, vestem-se como senhoras de idade. A polícia olha para o cadáver de uma menina de 10 anos completamente vestida e que nitidamente caiu de um primeiro andar e presume imediatamente poder tratar-se de uma vítima de acto sexual perverso. A brincadeira que a vitima parece um vulgar jogo de escondidas que termina com uma criança a procurar as outras enquanto grita kill kill kill, não se percebe como é que isto pode assustar alguém ao ponto de cair de uma janela nem porque é que, se a vítima já sabia que não gostavam dela, decidiu juntar-se-lhes. O assassino (para quem tiver saltado o spoiler) utiliza primeiro um estilhaço de vidro que retirou do espelho da casa de banho das meninas, que partiu durante a tarde, depois uma faca e por fim um machado (tendo acesso aos dois últimos ítems, quem é que andaria a transportar um frágil pedaço de espelho durante horas?).
Prom Night 1980

Ex Machina, de Alex Garland

Após o seu romance A Praia ter sido adaptado (por John Hodge) para Danny Boyle (2000), o escritor e o realizador colaboraram em 28 Dias Depois (2002) e em Sunshine (2007). Seguiram-se os guiões de Never Let Me Go (2010) e Dredd (2012) antes de Ex Machina, estreia de Alex Garland atrás das câmaras. É a aventura de um jovem programador convidado a avaliar o comportamento da mais recente aposta em inteligência artificial do seu patrão, um cientista milionário, e as consequências da semana de contacto com a mais bela criação humana, que tanto poderá ser uma criança curiosa em corpo de mulher como uma manipuladora prisioneira de aparência angelical.
Infelizmente, a concretização proposta por Garland é unidimensional, previsível e tarefeira, deixando uma indelével, flagrante e desencorajadora sensação de déjà vu. Em poucos dias, não só o virginal avaliador de cabelo de cenoura se deixa seduzir pelo andróide, como se questiona se não será ele a máquina testada. No final, atropelam-se noções de simbiose e futilidade feminil em sede da necessidade de liberdade ou objectivo básico de fuga.
Ex Machina reduz-se a uma sonolenta variação do que parece um episódio da Quinta Dimensão e remonta, afinal, à terceira temporada de Star Trek (1969), apostando tudo no encanto de Alicia Vikander e numa vulgar estética de esterilidade. Os membros translúcidos da figura mecânica são interessantes, mas esgotam-se depressa. Constantes citações e referências à alegoria da caverna de Platão, ao Prometeus de Mary Shelley e a Openheimer e à sua bomba atómica são absolutamente redundantes.
Ex Machina 2015

Quarentine 2 Terminal, de John Pogue

Para evitar paralelismo com Serpentes a Bordo, a sequela de Quarentena não se intitula Zombies a Bordo e aterra em menos de meia hora, para se situar onde foi buscar o subtítulo: um terminal de carga ou hangar, em que um grupo de baratas tontas vai sendo mordida e zombificada. Sem meios, nem vontade, não se faz nada e este é um claro exemplo de incapacidade de esticar os valores de produção.
Quarentena (2008) é o apressado remake norte-americano do espanhol Rec (2007), filme de terror que se demarcou pela utilização de POV e conta já com três sequelas em terra de nuestros hermanosQuarentena 2 tem trama diversa, com John Pogue, guionista de fracassos como U.S. Marshalls (1998), Rollerball (2002) e Ghost Ship (2002), a reunir as incompetências de realizador e argumentista e a dispensar o recurso ao POV. Em sua defesa, Quarentena, de John Erick Dowdle, já era mau.
Mercedes Mason, a protagonista, não tem estado parada desde então: a integrar actualmente o elenco do spin off de The Walking Dead (imaginativamente intitulado Fear The Walking Dead, 2015), passeou-se por diversas outras séries e foi titular em The Finder e 666 Park Avenue. Josh Cooke é outro que tem feito pela vida: Dexter e Hart of Dixie são dois créditos a seu favor. Para a posteridade, fica a cena em que uma hospedeira de bordo é mordida na boca mas a passageira estudante de medicina de serviço (que até já trabalhou para o exército, como vem a calhar mais adiante) envolve-lhe a cara toda com uma toalha e amarra-lha à cabeça com um cachecol (para quê cobrir-lhe o rosto, impedindo-a de ver e de respirar, se a ferida se cingia à área maxilar?).
Quarentine 2 The Terminal 2011