Nos parques de algumas grandes metrópoles do nordeste americano, as pessoas começam a suicidar-se em massa. Dá-se o êxodo dos sobreviventes para zonas rurais e desabitadas e é avançada a conclusão de que as plantas estão a produzir uma toxina que inibe a hormona humana de auto-preservação – mas desde quando a inibição do sentido de sobrevivência conduziria em poucos minutos à imperatividade do suicídio (uma pessoa feliz, por exemplo, por muito que possa suicidar-se, não o fará só porque pode fazê-lo)? A segunda assunção é a de que o número de pessoas concentradas no mesmo local é que faz despoletar a toxina, sendo esta a reacção das plantas à ameaça da presença humana; teria mais sorte um grupo pequeno do que um grande... mas é igual o número de tripulantes de um jipe, dentro de uma cidade, que é afectado e colide contra uma árvore (mal pensado por parte da árvore) e o grupo do protagonista, a pé em pleno campo – estando rodeados de verdura por todos os lados, não seria mais óbvio o êxodo dar-se para as cidades e serem os ambientes pastorais armadilhas imediatas? Aparentemente, não; mesmo em pleno campo, há grupos de pessoas a morrerem a poucos quilómetros de distância de outros que sobrevivem (claramente, nem toda a vegetação está orientada para o extermínio da raça humana).
Na cena climática, envolvendo uma senhora que vive isolada do mundo exterior (a maior parte das frases absurdas desta personagem pertencem de certeza a outro filme), o herói vê-a ser afectada pela toxina a curta distância e barrica-se no interior da casa. A mulher parte duas janelas com o rosto como forma de suicídio e o herói continua a sentir-se seguro, apesar da toxina ser transportada pelo ar e as janelas estarem agora partidas. Já depois disto ocorrer, ele grita à sua esposa, que está noutra casa a pouca distância, que feche a porta e as janelas, o que ela faz de seguida. Mas, uma vez mais, se a toxina é transportada pelo ar e eles se encontram na mesma área de influência que já afectou a proprietária da quinta, fechar as portas e janelas nessa altura já deveria ser tarde demais, não? Pois, aparentemente não.
Mark Wahlberg é absolutamente pedestre como o protagonista, recorrendo a inflexões de voz artificiais, que dão a sensação de que está a declamar e lhe roubam qualquer naturalidade, e Zooey Deschanel (irmã da protagonista da série Ossos) parece autista e anorética. A pequena Ashley Sanchez (que faz de filha de Rosely Sanchez, na série Sem Rasto) é muito bonita, mas ainda está por determinar se sabe representar.
Enfim, O Acontecimento é um filme verdadeiramente mau, carregado de peripécias banais, diálogos pobres e inconsistências a perder de vista. Uma toxina libertada pelas plantas não seria mais letal no campo do que nas cidades? E se é exalada pela flora e dispersa no ar, não deveria afectar indiscriminadamente em vez de ser cirúrgica?Sinais (2002) e A Vila (2004) mais não eram do que episódios da Quinta Dimensão esticados em longas-metragens e Senhora da Água(2006) é uma confusão de elementos misturados ao calhas. O Acontecimento é uma história sobre o fim do mundo, mas pode muito bem ser o fim da carreira de M. Night Shyamalan.
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