Wednesday, November 19, 2008

A Criatura, de Bong Joon-ho


O filme mais caro e mais lucrativo da história do cinema sul-coreano, tanto em bilheteira interna como internacional, é o terceiro de Bong Joon-ho, que dispôs de um orçamento de dez milhões de dólares, dos mais elevados na história do país, devido à excelente recepção do seu anterior filme, Memories of Murder.

Um médico legista do exército americano ordena o despejo de dezenas de frascos de formaleído pelo lavatório da base militar, situada no centro de Seul, o qual vai desaguar directamente no Rio Han. Este evento, que está na origem da criatura, é baseado num facto verdadeiro (ocorrido em Fevereiro de 2002), o qual ficou impune aos olhos da lei, revoltando a opinião pública coreana face à inabilidade do governo em condenar um americano no seu próprio solo (solo coreano). Joon-ho destila na medida certa um toque de anti-americanismo e também de crítica ao próprio governo, de tal modo que pela primeira vez um filme sul coreano fez sucesso na Coreia do Norte (de pendor comunista).

Para que todos os pontos do argumento, de co-autoria do realizador, pudessem ter eco no público, era indispensável que a criatura do título fosse convincente. A interactividade entre a filmagem real e os efeitos especiais é impressionante. A Weta (responsável por muitas das maravilhas de O Senhor dos Anéis) e a John Cox's Creature Workshop trataram dos modelos animatrónicos e Orphanage Inc do CGI, injectando um grau de realismo suficiente para que a criatura se apresente em plena luz do dia, e logo aos doze minutos de duração, atacando e devorando vítimas em pânico.

A abordagem ao género é, porém, invulgar e inteligente. Ao contrário de um Godzilla, a criatura não está no centro das atenções, é apenas um elemento despoletador de emoções, uma parte do conjunto à volta de uma família disfuncional (ligada pelo sangue e pouco mais) numa situação extrema, já que a pequena Hyun-seo é raptada pelo monstro e são o seu avô, o pai retardado, o tio e a tia que têm de unir esforços e coragem para persegui-lo, enfrentá-lo e derrotá-lo, no meio de uma onda de pânico a nível nacional, medo de contágio epidémico e outras paranóias disseminadas pela comunicação social. Com humor, suspense e inúmeros twistsinesperados, Bong Joon-ho surpreende em todos os pontos. Não estamos perante um vulgar filme de monstros, nem perante um filme vulgar.

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