Tuesday, November 12, 2013

No One Lives, de Ryûhei Kitamura

Esta produção WWE/Pathé tem uma única finalidade e cumpre-a: capitalizar no carisma de Luke Evans; e, sim, percebe-se perfeitamente porque é que os produtores de Furious 6 (2013) acharam que ele era um adversário à altura da dupla Diesel & Rock, mesmo sem a imponência física dos citados. De resto, temos o argumento de Breakdown (1997) com um twist (e se a vítima indefesa for um psicopata cheio de recursos), America Olivo a tomar duche de bóias, Lee Tergesen no papel errado e Adelaide Clemens de saída para Silent Hill (Revelação, 2012). A história podia ter dado para muito mais, mas ficamo-nos pelo mero serial killer mata em série; pelo menos, não é aborrecido. Ryûhei Kitamura, realizador de Versus (2000), Azumi (2003) e Midnight Meat Train (2008), não faz mais do que a sua obrigação.


No One Lives 2012

Guerra Mundial Z, de Marc Forster

Se George Romero popularizou o fenómeno dos Mortos Vivos como comentário social, a actualização destes seres esqueléticos que aumentam de número exponencialmente só poderá representar as hostes de desempregados que os patrões, geneticamente avessos à solidariedade, gostariam de eliminar sumariamente, depois de explorados até ao tutano. Aparentemente, o filme baseia-se no título de um romance apocalíptico de Max Brooks, publicado em 2006, que este fizera seguir ao satírico Guia de Sobrevivência Anti-zombi, de 2003. Enquanto que o livro documenta, através de relatos, a experiência de dez anos de combate à pandemia Zombie, o filme prefere ser uma espécie de Contágio (2011), com um investigador das Nações Unidas a tentar determinar a origem e a cura para o primeiro surto.
Depois de fazer um James Bond com história a mais e acção a menos (Quantum of Solace, 2008), aquilo que Marc Forster aprendeu foi a eliminar a história. O muito elogiado guião de J. Michael Straczynski (Babylon 5 e Rising Stars) foi eliminado e rescrito por Matthew Michael Carnahan (The Kingdom, 2007, Lions For Lambs, 2007 e State of Play, 2009), transformando a narrativa num policial com ataques avulsos de zombies anárquicos. Foi a empresa de Brad Pitt a adquirir os direitos de adaptação, pelo que é o seu personagem que vai seguindo as migalhas e enfrentando o que, no livro, eram lentos desmiolados sem capacidade de organização e, no filme, correm tanto como os de 28 Dias Depois (2002), tão rápidos que até lhe roubam o hino composto por John Murphy (a banda sonora de World War Z é de Marco Beltrami). Contudo, em vez de aterrorizarem como no filme de Danny Boyle, estes malucos fazem lembrar a imprudência da equipa de Jackass, a saltarem para o abismo por não medirem consequências.
Brad Pitt passa o tempo a correr e a afastar dos olhos um penteado que não o favorece, o papel de Matthew Fox foi transformado num cameo sem falas (o seu papel incluía seduzir a mulher do protagonista, mas acabou a seduzir o chão da sala de montagem), David Morse arranca os dentes sem anestesia e James Badge Dale andava esquecido desde a terceira temporada de 24 e, subitamente, também entra em Homem de Ferro 3 e O Mascarilha (2013). Entre as ilações que o protagonista parece tirar da cartola e o facto das desgraças só acontecerem quando está por perto, o filme não serve entretenimento nem inteligência, arrastando-se na medida inversa à velocidade dos zombies.
World War Z 2013

Maníaco, de Frank Khalfoun

Transportando o espectador consigo por ruas viciosas até às suas próprias vítimas, onde executa jogos de assédio, perseguição e escalpelamento, Maníaco é um tour de force para o realizador Frank Khalfoun ou, mais propriamente, para o director de fotografia Maxime Alexandre, que eleva o conceito de POV a um novo patamar. Se isto, em si, não é novo, uma vez que o filme original (Maníaco, 1980), abria precisamente com uma longa cena utilizando esse método (inspirada na aproximação furtiva dO Tubarão, 1975), o remake estende a técnica a toda a película.
 
Joe Spinell era um actor com um sonho e, inspirado no sucesso de Sylvester Stallone (de cujo filho foi padrinho), levou o seu guião a um realizador, com a condição de ser ele a representar o protagonista. Não era a história de um boxeur (Spinell contracenou com Sly em Rocky, 1976), mas de um psicopata violento, e William Lustig podia ser inventivo, mas o seu currículo era pornográfico. Entre ambos e dois investidores (um dos quais colocou a condição da esposa ser a heroína), juntaram dinheiro suficiente e conseguiram chocar o público e a crítica, nomeadamente através da explosão de um modelo de silicone da cabeça de Tom Savini (responsável pelos económicos efeitos especiais). Spinell tentou até à sua morte financiar uma sequela, enquanto Lustig aproveitou o empurrão para enveredar pelo género, dirigindo a trilogia Polícia Maníaco (1988-93) antes de trocar a realização pelo restauro de clássicos pouco conhecidos para o mercado de vídeo. 
A dupla de argumentistas Alexandre Aja e Grégory Levasseur, que assinaram Alta Tensão (2003) em França e rumaram aos EUA para um curto reinado com o remake de The Hills Have Eyes (2006) e Mirrors (2008). Escreveram P2 (2007) para Frank Khalfoun, que foi actor em Alta Tensão e agora bisa atrás das câmaras. Excepcionalmente, é um remake que não envergonha os envolvidos. Se algo não funcionava em Maníaco (1980) era a história, como se Spinell tivesse trabalhado o personagem e esquecido o resto. Centrava-se num indivíduo que matava mulheres e conversava com os manequins de loja que tinha em casa, depois de lhes agrafar os escalpes das vítimas, mãe morta que estais no céu e me alucinas na Terra. A meio da película, porém, o introvertido conhecia uma fotógrafa de moda, com a qual saía algumas vezes, antes de decidir mostrar-lhe a campa da mãe, tentar matá-la, ser agredido e ir a falar sozinho até casa, onde os manequins o desmembravam e a polícia o encontrava não se sabe porquê. Literalmente. E, tendo em conta o aspecto ranhoso de Spinell e o cosmopolita de Caroline Munro (a esposa do produtor que mais contribuiu), o interesse manifestado nele soava improvável. A nova equipa lima as arestas de forma coerente, tanto em respeito aos manequins como à fotógrafa e dá um rosto ao maníaco que é menos conspícuo. É certo que o pequeno Elijah Wood podia fazer a barba e não vestir blusões de tropa, mas, ainda assim, não é um brutamontes com a cara cheia de bexigas.
Por falar no actor, o resultado final de Maníaco (2013) está tão dependente da sua interacção com a câmara que é assustador. Devido à arriscada escolha de rodar o filme através do olhar do assassino, o rosto de Elijah Wood encontra-se ausente da tela durante 70% do tempo, mas a sua presença foi constante por trás do operador de câmara, fornecendo a altura e os ângulos certos para o posicionamento da objectiva e as mãos que seguram os objectos são as suas (quando foram precisas duas mãos, a esquerda é de um duplo, pois era impossível chegar ao enquadramento com ambas). A sua locução sobre a imagem é outro contributo de peso para nos colocar na mente do protagonista mas, o momento mais bem sucedido do filme é quando, após uma extensa e claustrofóbica sequência de caça, que começa com a sinalização de uma vítima num bailado e termina com a sua morte num parque de estacionamento, a câmara subitamente abandona o corpo do maníaco e o observa de fora, como se fosse possível separar o culpado do inocente, o que se é do que se faz. E, nesse quadro implacável, há esperança. Tal sequência daria uma curta-metragem perfeita. 

Maníaco (2013) é, definitivamente, interessante do ponto de vista técnico, não só pelo POV, mas pela efectiva transformação das ruas da cidade num pátio para predadores urbanos. A narrativa é, também, muito mais fluída do que no original. A nudez, ingrediente constante dos sleazy slashers dos anos 1970 e 1980, é servida por Megan Duffy e Genevieve Alexandra, com Nora Arnezeder a desiludir pela castidade, mas a surpreender na representação, corrigida a inexpressividade que a caracterizava em Detenção de Risco (2012) e As Palavras (2012).
 
Maniac 2013