Wednesday, November 19, 2008

A Maldição de Salem, de Tobe Hooper


O realizador George A. Romero abandonou o projecto quando este passou de uma iniciativa cinematográfica para uma mini-série televisiva, mas a Warner Bros preferiu assim, por considerar saturado o mercado, ao serem anunciados para o mesmo ano Draculade John Badham e Nosferatu: Fantasma da Noite de Werner Herzog. Tobe Hooper, já com quatro títulos em carteira, sendo o segundo dos quais o filme de culto Massacre no Texas (1974), tomou o leme. Ao contrário dos macabros Massacre no Texas e Comidos Vivos (1977), Tobe Hooper estava disposto a encarrilar, desta vez, pelo terror psicológico. Despedido da realização de The Dark (1979), um filme dezombies com uma péssima recepção por parte das plateias de teste (o estúdio encarregou outro realizador de dar a volta ao texto), Tobe Hooper queria dar a volta por cima, e nada melhor para consegui-lo do que através de uma adaptação de Stephen King, o mestre do Terror.

A Maldição de Salem foi a segunda adaptação de um romance de Stephen King, mas por essa altura o escritor tinha já quatrobestsellers publicados (Carrie, Salem’s Lot, The Shining e The Stand). O sucesso de Carrie, de Brian DePalma, em 1976, era um bom indicador e a Warner Bros comprou os direitos do segundo livro do autor, publicado em 1975.

A versão transmitida pelo canal CBS em 1979 tinha 184 minutos, mas foi editada em apenas 112 minutos para distribuição europeia, sendo em 1995 lançada em vídeo. Apesar da versão integral ser mais fiel ao livro do que a truncada, Sephen King disse preferir a segunda, considerando-a mais coesa. Contudo, essa montagem deixa inúmeras situações de apoio totalmente soltas.

Considerando-se a edição de 184 minutos como a definitiva (entretanto editada em DVD), as maiores críticas recaem no argumento de Paul Monash. Como o próprio Stephen King teria dito em 1980 à revista Adeline, o livro começou a tomar forma quando mastigou suficiente realidade prosaica que servisse de contraponto à invasão de vampiros. Sem essa crosta de quotidiano, A Maldição de Salem não passaria de um comic book. O argumento de Monash é demasiado superficial e disperso para garantir essa dose de realidade, concentrando-se mais nos pontos directamente ligados ao mistério central. Ignorou em grande medida o passado da casa habitada pelo vampiro, apenas a chamando de íman de maldade, e muitos dos personagens estão lá apenas para servirem de alimento. Para além disso, no livro a derrota dos vampiros é realizada em duas vagas, sendo que os heróis batem em retirada antes de concluída a missão, regressando um ano mais tarde para finalizá-la. No filme, é condensada a acção num único momento, que tem lugar durante um período de sensivelmente uma semana. Ainda assim, a trama mantém inúmeros pontos de interesse, sendo que quando se ouve pela primeira vez a palavra vampiro, já se passaram sensivelmente 100 minutos de película.

Tobe Hooper faz um bom trabalho na lenta criação do suspense, sendo capaz de manter o interesse mesmo quando só tem trivialidades para imprimir. Infelizmente, os efeitos especiais são tão fracos que temos a sensação de que o realizador arrumou as luvas quando viu com o que teria de trabalhar. Apesar de A Guerra das Estrelas ter rasgado a galáxia em 1977 e o Super-homem já voar sem fios (visíveis) desde 1978, a equipa à disposição de Hooper parece ter apenas lentes de contacto, dentes postiços e uma máquina de fumo. Num golpe de inspiração, Hooper filmou a primeira aparição de um vampiro (um menino), a bater à janela do quarto do seu irmão, através de projecção em tela, por trás da janela de estúdio, com a imagem a correr do fim para o início; o efeito do fumo a ser recolhido em vez de ser expelido funciona bem, assim como a maneira estranha da mão do menino a bater na janela. O orçamento para o filme era de 4 milhões de dólares, mas a sua maior parte foi dedicada aos cenários. Muito criticado na época foi o visual do Lorde Vampiro, Barlow, uma recriação do Nosferatu de Murnau, e o facto de este não falar, ao contrário do livro, deixando essa tarefa para o seu serviçal humano, Straker, interpretado pelo distinto James Mason. O produtor Richard Korbitz esclareceu essas opções: o visual deveu-se à tentativa de não embelezamento do vampiro como entidade puramente maligna e o seu mutismo ao receio de que a sua voz tornasse a figura ridícula, por não saber que voz imprimir-lhe.

Com representações sólidas de David Soul, Bonnie Bedelia e especialmente, do já mencionado James Mason, o filme (ou mini-série) de Tobe Hooper é um trabalho criativo e consciente, mas que fracassa onde mais devia ferir: à parte a caricatura do Vampiro Barlow (o actor Reggie Nalder, que no mesmo ano fez de Van Helsing no filme pornográfico Dracula Sucks, com John Holmes), os outros são ridículos na sua postura (Jeffrey Lewis, com a língua de fora entre os dentes pontiagudos, é o pior) e movem-se numa lentidão preocupante. A cena de voo de um vampiro menino através de uma janela é flagrante na falta de meios.

Salem's Lot 1979

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