Wednesday, November 19, 2008

Uma Chamada Perdida, de Eric Valette


Para quem ainda não percebeu que a imaginação desapareceu de Hollywood, chega mais um remake do horror asiático. O original de Takashi Miike (2003) já chegava depois de RinguJu-On e O Olhoterem dispersado sequelas a eito, mas o cineasta de Anjo ou Demónio (1999) e Ichi –O Assassino (2001) sempre foi demasiado persistente para não se lançar ao barco já depois de este ter largado o ancoradouro.

As cassetes de vídeo assassinas já tinham perdido a frescura com o advento do DVD e a internet também já tinha sido açambarcada porKairo (2003), mas os telemóveis ainda não tinham dono. A história de Chakushin Ari era estúpida e cheia de buracos, mas nada travaria Takashi Miike, disposto a assustar com qualquer barro que lhe pusessem à frente. E é por isso que o filme, de certa forma, escapa da total abnegação: Miike tem um controlo total sobre a mise-en-scène que mantém o cinéfilo na ponta do assento, atento e interessado, mesmo quando se torce o nariz à falta de lógica. Em 2005, o Japão produziria uma sequela de Chakushin Ari, mas realizada por um tarefeiro e directamente para o mercado de vídeo.

remake de Uma Chamada Perdida surge após os de Ring, Dark Water (ambos de Hideo Nakata), Kairo (Pulse em inglês), Ju-on – A Maldição e O Olho, tendo Ring, Ju-on e O Olho sequelas (e Ringu até tem uma prequela) asiáticas. Excluindo a versão de Gore Verbinski de Ring, que é melhor do que o original por uma gestão gráfica eficiente e por o amante da protagonista ser um homem normal, ao contrário de um médium como no original (o que provocou alguns facilitismos no descortinar do mistério em Ringu). Dito isto, fica claro que remake de Uma Chamada Perdida não merece grandes elogios. E não os merece porque Eric Valette não é Takashi Miike, e na verdade não é ninguém. Importado de França com um curioso filme sobrenatural passado quase integralmente dentro de uma cela prisional (Maléfique, 2002) e algum trabalho televisivo na valise, era duvidoso que a falta de ideias de Uma Chamada Perdida fosse compensada por um contraponto visualmente claustrofóbico e aterrorizador. Não foi.

Basicamente, o enredo de Uma Chamada Perdida segue um conjunto de vítimas que são avisadas da sua própria morte iminente através de uma mensagem de voz no seu telemóvel, em que ficam a saber o momento exacto em que vão morrer. A heroína tem de descobrir como livrar-se da maldição antes chegue a sua vez, auxiliada por um polícia cuja irmã foi vítima da mesma entidade. No final, muita coisa fica por explicar. Se (spoiler alert – salte para o parágrafo de baixo) a assassina era a filha fantasma e não a mãe como inicialmente pensado, quem contactava por voicemail era a mãe, a avisar as vítimas seguintes, e não a assassina. O que não se percebe é a razão do modus operandi da filha – se escolhesse vítimas sem telemóvel, a mãe não poderia avisá-las. E se a filha morreu em casa, com asma, qual a relação com o incêndio no hospital onde a mãe faleceu?

Uma Chamada Perdida não tem um único momento arrepiante. Atira imagens soltas de pessoas distorcidas por CGI de baixa qualidade contra a tela e apresenta um elenco desadequadíssimo. Shannyn Sossamon passava por estudante universitária em As Regras da Atracção e em 40 Dias e 40 Noites, ambos de 2002, mas seis anos mais tarde já estava a tempo de ter-se licenciado, tanto mais que tem trinta anos. Edward Burns tem precisamente quarenta anos, o que torna descabida a sugestão no final do filme de que ele e a estudante universitária (personagem por regra à volta dos dezoito/vinte anos) poderão vir a namorar.

Eric Valette afirmou não ter visto Chakushin Ari e ter pedido aos actores para o imitarem – mas, quando se faz um remake, este deve ser o passo mais estúpido que um realizador pode dar. Para não repetir possíveis erros do original e poder melhorar as cenas que vai recriar. Enfim, Eric Valette encontrou inúmeros erros novos para cometer. E cometeu-os todos.

One Missed Call 2008

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