O Sinal é um filme de terror. Sangrento, demolidor, de coração na boca. É também uma história de amor. Projecto conceptualmente inovador, faz escolhas arriscadas e brinca com os sentimentos do público com perícia e minúcia, avançando e retrocedendo num bailado que lhe permite estar sempre um passo à frente.
Sem efectivamente fazer qualquer referência directa à sociedade consumista dos nossos dias, pode ler-se nas entrelinhas, com uma claridade que só é possível ao nível subliminar, como a televisão, a rádio e os telemóveis são meios de controlo e alteração da personalidade, mascarando paranóia com necessidade. E essa crítica é tão mais eficaz quando silenciosa.
Escrito e realizado por David Bruckner, Jacob Gentry e Dan Bush, o filme é de tal modo preciso na sua concepção e acabamento que as três perspectivas ou abordagens se lêem num objecto coeso, complexo e urgente. São películas brilhantes como esta que põem a nu como George A. Romero e os seus zombies já deram tudo o que tinham para dar. O 28 Dias Depois (2002) de Danny Boyle continuará a ser uma referência incontornável, mas O Sinal é mais um passo em frente, e um passo de gigante. O seu trabalho de baralhar e voltar a dar encontra ainda laivos do humor negro britânico de Guy Ritchie e do descaramento imaturo da primeira obra de Peter Jackson, Carne Humana Precisa-se (1987).
O Sinal é um autêntico diamante em bruto, a não confundir com Cell, filme para 2009 de Eli Roth (valha-nos Deus), a partir do romance de 2006 de Stephen King, sobre um sinal emitido pelos telemóveis que transformam as pessoas em zombies. De salientar que O Sinal foi concluído a tempo de ser exibido no Festival de Sundance em Fevereiro de 2007, e está por determinar se os seus responsáveis sabiam do projecto Triângulo, desenvolvido na segunda metade de 2006 pelos cineastas de Hong Kong Tsui Hark, Ringo Lam e Johnny To, com uma história também fatiada em três partes, cada uma delas atribuída a um realizador e argumentistas diferentes, e com a particularidade de não intervenção dos restantes no pedaço que coube a cada um.
A sequência de abertura de O Sinal é um excerto da curta metragemThe Hap Hapgood Story, do co-realizador Jacob Gentry, integrado no 48 Hour Film Project de 2003 (com a condição de os filmes a concurso serem filmados em 48 horas). Gentry é o único dos três realizadores que já dirigira (duas) longas-metragens antes desta incursão a três mãos.
Por último, há que salientar o profissionalismo dos actores Anessa Ramsey, Justin Welborn e AJ Bowen, que embarcam de cabeça nesta louvável aventura.
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