Tuesday, November 15, 2011

Dead Silence, de James Wan

James Wan e Leigh Whannell adormeceram a ver Achmed – The Dead Terrorist, o sketch de stand up de Jeff Dunham, e acordaram comBilly, o fantoche de triciclo de Saw (2004), na memória. Não sendo conhecidos pelo sentido de humor, optaram por um ventríloquo mudo e, para que fizesse sentido que o cartaz contivesse o slogan “Dos criadores de Saw”, assassino.

Sem saberem como abordar o tema de forma original, começaram pelo seu design, uma mistura de Pee Wee Herman e de Robert Blake (qual deles o mais assustador), e entretiveram-se a resumir contos de fantasmas de Sheridan Le Fanu e de M. R. James.

Um casal recebe um boneco de ventríloquo, sem remetente, e este agradece a hospitalidade matando o elemento feminino do casal. O viúvo inicia uma investigação, que o conduz à sua cidade natal, praticamente uma sombra desde que a fábrica local fechou. O polícia encarregue do inquérito ao homicídio da esposa vai atrás dele. Por trás do mistério está uma ventríloqua do início do século XX, acusada de raptar um menino que duvidou das capacidades dela em palco, e que foi morta pela populaça. Como na cartilha mafiosa, os fantasmas não descansam enquanto não se vingarem de todos os descendentes daqueles que os prejudicaram. Se parece O Pesadelo Em Elm Street(1984) com um boneco na mão em vez de lâminas, nem a cantilena de conjuração escapa à mediocridade.

Assim como Saw, Dead Silence é um pequeno conto do imprevisto esticado à duração de longa-metragem, que ganha com uma lindíssima direcção de fotografia, mas perde em tudo o resto. Otwist final, então, dá para rir, especialmente no que toca ao tubo por onde passa a sopa. Reencontro com o compositor Charlie Clouser (de toda a saga Saw) e com Donnie Wahlberg, também polícia em Saw IIe III.

Dead Silence 2007


Fear X, de Nicolas Winding Refn

Fear X baseia-se num dos poucos guiões para cinema escritos pelo novelista Hubert Selby Jr., autor de Última Saída Para Brooklyn eRequiem Para Um Sonho, ambos adaptados ao cinema. O fracasso de bilheteira do filme conduziu a companhia do realizador Nicolas Winding Refn à falência. Cabe analisar o fiasco.

Duas pessoas são assassinadas no parque de estacionamento de um centro comercial e o viúvo de uma delas, obcecado em desvendar o mistério por trás do atentado, assiste a dezenas de horas de gravações de vigilância, cataloga e documenta suspeitos. Tudo indica que a esposa estaria no sítio errado à hora errada, mas nada o demove da sua investigação. Até aqui, tudo bem. Num estilo próximo de David Lynch, Nicolas Winding Refn revela-se exímio na execução dos planos, com um rigor e planeamento que não descura um único detalhe. O mistério adensa de forma lenta, cativando o espectador pelo olhar pesado de John Torturro, pela frieza dos cenários e pelo minimalismo da banda sonora assente em ruídos.

Uma pista nova conduz o viúvo para fora do seu elemento, e aqui é introduzido um novo personagem, ao ponto de o original se perder no papel de parede. Esta cisão é tão drástica que se levanta a hipótese de o projecto ter sido rasgado em dois e cada metade entregue a uma equipa diferente, sem que o primeiro saiba como a história vai acabar ou o segundo como começou. Abandonado neste limbo, o espectador acaba por assistir à solução do mistério, mas de uma forma tão desconcertante que apetece deixar o filme a meio.

O dinamarquês Nicolas Winding Refn estreou-se na terra natal comPusher (1996) e foi precisamente o fracasso de Fear X que o obrigou a regressar ao tema e a dirigir mais dois capítulos de Pusher, de modo a salvar a sua produtora da bancarrota. Em 2011, venceria o Prémio de Melhor Realizador em Cannes de 2011, com Drive, masDestino de Sangue (2009) é a sua obra-prima até ao momento.

Spoiler Alert: Porque haveria o assassino de alugar a casa em frente da da vítima, se a morte desta não passou de um acidente, o facto de ter surgido em cena exactamente quando ele executava um agente da DEA corrupto?

Fear X 2003


Attack The Block, de Joe Cornish

Para um filme com miúdos a enfrentarem aliens, o verão de 2011 não vai ficar marcado por Super 8, o blockbuster de J.J. Abrams e a Steven Spielberg, mas por um pequeno filme britânico intituladoAttack The Block. Muito mais original e empolgante, a estreia de Joe Cornish na sétima arte é marcada por algumas escolhas arriscadas, a começar pelos heróis. Com acção situada na zona sul de Londres, um grupo de adolescentes encapuçados assalta ameaçadoramente uma mulher e, a seguir, movidos pela sua natureza violenta, matam à pancada o primeiro alien que encontram pela frente. Como se compreende, não é fácil encará-los com empatia, porque o primeiro impacto perante a sua atitude não pode ser senão o mais vigoroso desprezo. Eventualmente, porém, o inacreditável acontece: o humor e a acção levam a melhor sobre a audiência e torna-se involuntário torcer pelos rapazes, afinal vítimas das circunstâncias sociais.

Joe Cornish, que co-escreveu para Spielberg o guião de Tintin - O Segredo do Licorne (2011) e está a trabalhar actualmente no doHomem-Formiga para a Marvel, é primordialmente um comediante, nomeadamente no programa Adam and Joe, que teve quatro temporadas. Cornish tem trabalhado para a BBC como apresentador de rádio e sentou-se atrás das câmaras nas séries Modern Toss eBlunder (e um teledisco de Charlotte Hatherley), mas nada que preparasse para Attack The Block. O filme estreou em Maio na Grã-Bretanha, sem interessados pela distribuição norte-americana, mas o êxito inesperado reverteu a situação. Compreensivelmente.

Joe Cornish é amigo de Edgar Wright, realizador e argumentista deShaun of the Dead (2004) e Hot Fuzz (2007), e contribuiu para os DVDs de ambos com makinf ofs. Nesses dois filmes e em Attack The Block entra Nick Frost, que em 2011 não se cansa de extraterrestres, tendo rumado aos EUA para fazer dupla com Simon Pegg em Paul, onde acompanham o alien de Roswell numa caravana, em fuga ao FBI. Edgar Wright é outro co-argumentista de Tintin - O Segredo do Licorne (2011) .

Attack The Block é uma estreia de respeito. Tem suspense, aventura, uma história intrigante e bem humorada e efeitos especiais que mostram que a simplicidade e a economia podem andar de mãos dadas com a excelência. A presença dos aliens cinge-se ao mínimo, mas estes estão omnipresentes, através de um equilíbrio matreiro de sons e movimentos de câmara. Os efeitos especiais estiveram a cargo do estúdio holandês Fido, que incorporou CGI por cima dos homens em fatos peludos que compuseram os aliens junto dos actores. O pêlo dos fatos foi corrigido para parecer espicaçado e os dentes afiados são fosforescentes; não têm olhos. Parabéns pelo conceito, concretização e tudo o mais.

Attack The Block 2011


Grave Encounters, de Vicious Brothers

Grave Encounters é o primeiro filme de Colin Minihan e Stuart Ortiz, auto-denominados Vicious Brothers, irmãos apenas na escrita, realização e montagem deste filme de estreia. Mistura de Blair Witch Project (1999), [Rec] (2007) e Actividade Paranormal (2007), Grave Encounters acompanha uma equipa de filmagens de um reality showdedicado ao sobrenatural, que desaparece durante a rodagem de um episódio passado num hospital psiquiátrico encerrado há várias décadas. À cabeça, é explicado que o filme consiste na montagem de imagens reais, recuperadas do local mas, curiosamente, a recepção deste texto entretanto banalizado pelo tempo é mais calorosa por ser veiculada por um rosto humano, supostamente do produtor da série.

É uma película de baixo orçamento, filmada ao ombro e com câmaras de segurança aparafusadas em sítios altos, mas cabe dizer que, para algo que não traz nada de novo, não é mau de todo. Antes de mais, o cenário está bem aproveitado. A fachada do hospital psiquiátrico é imponente e o seu interior, decrépito e mal afamado, ideal para uma história de fantasmas. O uso de lanternas de bolso torna o espaço ainda mais inquietante, por causa dos jogos de sombras que o ponto morto, ao centro, provoca. Os actores cumprem o seu papel ao ponto de acreditarmos na sua crescente perturbação e há reviravoltas suficientes no argumento para manter a audiência em suspenso.

Claro que é improvável assustar com um artifício desta natureza mas, pelo menos, a humanização dos personagens funciona como catalisador para a preocupação com a sua sobrevivência. Se for possível aguentar viva a credulidade, Grave Encounters consegue ser intrigante. E tem detalhes curiosos, como a situação de noite eterna, os corredores intermináveis, o átrio a dada altura deixar de sê-lo e tabuletas como Saída e Acesso Ao Telhado não conduzirem ao que prometem.

Nem tudo são rosas. Entre uma extensa fase introdutória e muitas correrias precipitadas e mal filmadas, assiste-se a alguns tempos mortos porque a lógica assim ordena, por muito que seja inconveniente ao ritmo, e o desfecho revela desespero de causa e pouca imaginação, com influências de House On Haunted Hill. Ainda de torcer o nariz, a duração interminável das baterias das câmaras de filmar. Por fim, especial nota à cena da ratazana morta à cacetada e comida com gusto, com atenção ao disclaimer de que nenhum rato foi comido durante a rodagem. Em conclusão, Grave Encounters aguenta a fasquia, sendo subtil a marinar o suspense e a saber quando promover a escalada, mas a falta de originalidade que tem por base dificulta-lhe a tarefa.

Grave Encounters 2011


Os Indesejados, de The Guard Brothers

Um filme de terror aborrecido é um crime que merece a morte e a sentença cumpre-se em Hollywood. Charles e Thomas Guard, dois irmãos britânicos que aqui se estreiam e, com alguma sorte, por aqui se ficam, realizaram este remake de A Tale of Two Sisters, um filme de terror sul-coreano de 2003, que pouco tem a ver com o original.

À mediocridade e tédio soma-se uma previsibilidade tal que, a não se confirmar no final, ainda piora a situação. Sim, porque afinal não é um thriller lógico onde convém juntar as peças nem uma história de fantasmas à moda antiga, mas um imbecil psycho alucinatório, ondeall bets are off porque afinal is all in her head. Se a acção se desenvolvesse de forma interessante, nada do que se disse seria realmente prejudicial, porque o terror radica no clima de tensão e medo que é capaz de instilar no cinéfilo, independentemente de todas as peças virem a encaixar no final.

A história? A mãe morre num incêndio que pode não ter sido acidental, se as pistas dos fantasmas que visitam a filha forem de confiança. A enfermeira da mãe, entretanto promovida a namorada do pai, é a culpada mais provável e o véu vai sendo levantado. Afinal, estava a levantar-se o véu errado mas, pelo menos, percebe-se porque é que a irmã nunca se encontra presente nos momentos fulcrais (seja para ameaçar a madrasta ou para a denunciá-la ao pai) e porque é que o pai não acredita na versão da filha. No epílogo, um nome numa porta dá lugar à reviravolta mais escusada. Se oflashback explicativo até dava alguma paz de espírito, passou-se à nulidade total.

Emily Browning, entre a menina de Lemony Snicket’s Uma Série de Desgraças (2004) e a moça de Sucker Punch – Mundo Virtual (2011), protagoniza, mas não passa de uma esquisitita de olhos grandes e é Arielle Kebbel, a fazer de irmã, quem se queria ver mais. Elizabeth Banks, que nos tem habituado a comédias mesmo quando faz filmes porno (Zach e Miri Fazem um Porno, 2008), não desmerece. David Strathairn está a perder cabelo e ideias para camuflá-lo.

The Uninvited 2009