“A Maldição 2” não é um remake da sequela japonesa. É uma história nova. Takashi Shimizu continua ao leme, sete filmes depois. É uma proeza. Contudo, esta proeza já se rompeu pelas costuras. O mistério da casa de Kayoko já deu o que tinha a dar, sem nunca ter satisfeito realmente.A história é velha como o tempo e a sua simplicidade é aterradora. Talvez por isso, o realizador sempre tenha optado por alterar as peças do puzzle, modificando a linearidade temporal, para confundir. Mas, como acontece com o mexicano Alejandro Inãrritu em “21 Gramas”, é uma opção estilística, sem qualquer mais valia senão camuflar a aridez da história.
A luz verde para esta sequela foi dada três dias após a estreia em 2004 do remake americano. Este é o poder da bilheteira do primeiro fim-de-semana de exibição, nos EUA. É o primeiro fim de semana que dita o sucesso comercial de um filme.
Imediatamente, marcou-se uma reunião de trabalho e as cinco pessoas à volta da mesa lançaram, durante oito horas seguidas, palpites do que gostariam de ver na sequela. Essas pessoas eram o realizador Shimizu, os produtores executivos Raimi e Tapert, o argumentista de “The Ring” Steven Susco e o produtor Taka Ichise.
Juntando este brainstorming à história básica já estafada, “A Maldição 2” não tem ponta por onde se lhe pegue. Subverte as próprias regras do género e da maldição específica. Continua a situar-se no Japão, mas avança até Chicago, nos EUA, onde será mais fácil filmar uma terceira toma americana, caso este filme dê dinheiro.Kayoko continua com o visual idêntico à Sadako do “Ring”, o pirralhito continua a aparecer em cuecas, mas sem a menor relevância para a história; nem ajuda, nem prejudica - e quanto a meter medo, também não.Sarah Michelle Gellar aparece no início, mas teria sido preferível que não, visto que os seus momentos no ecrã ultrapassam o ridículo. O mal emana da casa de Kayoko, mas esta aparece onde lhe apetece – movendo-se como quem acabou de rever o “Thriller” de Michael Jackson – e nem passa pela alfândega (já disse que chegou aos EUA?).Voltamos a ver como a maldição começou (a sequela japonesa reaproveitava 30 minutos de material repescado do original, pelo menos aqui o abuso é menor), com o marido a zangar-se com a mulher e a matá-la com uns tabefes e a afogar o filho na banheira.O recurso aos cabelos de Medusa é outro facto inexplicável pela maldição, não teve nada a ver com a sua morte, é daqueles factores que são porque é giro envolver um quarto ou uma pessoa em cabelo, por alguma razão. Deviam era ter chamado um cabeleireiro!
A ineptidão do filme não evita uma ou duas cenas interessantes, nomeadamente quando Kayoko aparece dentro da sweater de uma personagem e a puxa literalmente para dentro das roupas, ficando a sweater vazia no chão; e quando Kayoko sai de uma tina com líquido revelador de fotografia. Tudo o resto é para esquecer.Amber Tamblin, a protagonista, foi a primeira vítima da versão americana de “The Ring”. Tínhamos sorte de, nesse filme, ela só entrar nos primeiros cinco minutos. Aqui, a sua apatia acompanha-nos o filme inteiro.E o que dizer de ela não falar uma palavra de japonês e necessitar da ajuda de um jovem repórter como intérprete mas, depois de ele morrer, ela ser capaz de sair de Tóquio num transporte público até uma aldeia distante e chegar à casa habitada pela mãe idosa de Kayako, que em nova era exorcista, e que ela queria interrogar. Interrogar, dirão, mas se ela não fala uma palavra de japonês? A resposta é uma surpresa maior do que qualquer susto: a velha de cabelo desgrenhado e ar de louca... fala inglês fluentemente. Não faz sentido? É apenas uma das dezenas de situações nesta amargante sequela a que poderão colocar esse rótulo.
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