Wednesday, November 19, 2008

O Orfanato, de Juan Antonio Bayona


O tema é clássico. Uma grande casa gótica, cheia de sombras, que foi outrora um orfanato. Um menino com amigos imaginários. Crianças com ar inocente ou com máscaras a cobrir-lhes as expressões. Um filho que desaparece. Uma mãe que não desiste de o procurar. Uma medium. Um jogo infantil.

A história não é original, mas o realizador J. A. Bayona sabe filmá-la. De resto, este é mais um filme de ambiente do que de enredo. O medo está no poder de sugestão das imagens. Desde o início que a construção do suspense é subtil, mas evidente. O filme não marca passo. Engonha durante algum tempo com a presença de uma medium e o seu aparato audiovisual de captura de fantasmas, mas talvez a história precisasse de passar por esse interlúdio para finalmente chegar à entrega da protagonista. Além de que a medium fornece uma pista muito esclarecedora, mas que ainda assim custa a engolir, dado o evidente desconhecimento da polícia ou dos media sobre esse evento. E quanto à velha que se apresenta como assistente social, a sua tentativa de resgatar algo/alguém do casebre a meio da noite é ridícula, tanto mais que depois de tanto barulho, acordando inclusivamente a protagonista a um jardim de distância, terá deixado tudo intocado.

O Orfanato exige que não se pense muito na apreciação das provas. Deixe-se essa tarefa para um momento posterior. Aceite-se o que é dado e embrenhe-se nos seus recantos. Pelo menos, a intriga principal é esclarecida a contento e o final faz perfeito sentido. A fotografia é magnífica, os enquadramentos são cuidados, e a envolvência da banda sonora em bicos de pés é total. Belén Rueda, a protagonista, carrega admiravelmente o filme às costas, fazendo-nos viver a sua dor e respeitar as suas convicções.

Para quem achar que tudo faz sentido no final, aqui fica um ponto para digestão: se os jornais referiram pormenorizadamente o evento que conduziu à morte de Tomás, como é que o destino das restantes crianças nunca veio a lume? Que a mãe de Tomás foi responsável pelo que lhes sucedeu é evidente, mas como é que o assunto pôde ser abafado?

El Orfanato 2007

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