O argumento volta a confundir aparato com criatividade. Carrega o programa de jogos e só nos cabe acompanhar as subsequentes manifestações de tortura, com sangue e gritos para todos os gostos menos os de quem não gosta de sangue ou gritos. Saw IV peca, logo à cabeça, por não desenvolver os seus personagens. Quem é que se rala com a sorte de figuras planas e desconhecidas, que nos são apresentadas à pior luz e vemos quase unicamente amarradas e a esbracejar de olhos arregalados? Ficamos a saber que houve outro facto traumático na vida de Jigsaw (o actor Tobin Bell é bom demais para ser desaproveitado), mas os flashbacks são apenas formulaicos (e uma das recordações é contada por alguém que não assistiu nem pode ter dela conhecimento – como Jigsaw dispôs do drogado que lhe custou o filho).
O maior calcanhar de Aquiles de Saw IV é a realização. Desde que Darren Lynn Bousman tomou as rédeas deixadas soltas por James Wan, em Saw II, continua a privilegiar o constante recurso a efeitos digitais próximos do videoclip, em detrimento da narrativa. Sucedem-se as rotações a alta velocidade aos cenários de jogo e a montagem frenética delicia-se com artifícios boçais como, por exemplo, as imagens de desespero reproduzirem-se como se fossem uma sucessão de golpes e não uma única acção.
Há geringonças interessantes e outras que não se entendem, e o primeiro desafio, apesar de garantir uma cena graficamente interessante, não tem nada a ver com o método de Jigsaw, porque não há nenhuma gravação a dar indicações aos participantes – um deles tem, inclusivamente, os olhos cosidos, pelo que não sabe sequer o que se passa – e por isso o lema de Jigsaw, que é Salve-se a si próprio ou sofra as consequências, está ausente. Donnie Whalberg está praticamente todo o filme suspenso numa forca, em cima de um gigante cubo de gelo – mas o efeito visual é tão rudimentar que se vê claramente, pelos movimentos do corpo, que está seguro pelo tronco e não unicamente pelo pescoço.
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