Há dois mil anos, foi construída uma igreja no meio do deserto do Quénia, a qual ficou enterrada debaixo da areia até aos anos 50. A Igreja Católica ordenou as escavações e uma entidade sem nome pretende que um arqueólogo, outrora padre, obtenha uma escultura do demónio Pazuzu, que acredita estar no seu anterior. Uma vez lá, tem de lidar com as superstições locais e ainda com a memória dos tempos nazis em que um massacre de judeus o fez abdicar do colarinho. Claro que o título do filme exigia um momento de total cretinice e este surge, com efeitos especiais pindéricos e umas cicatrizes a lembrarem as da pequena Linda Blair. Se para recitar duas ou três frases até à exaustão é necessário o padre transportar consigo um compêndio de exorcismos católicos, compreende-se que o filme demore hora e meia sem justificar a sua existência.
William Peter Blatty escreveu o livro O Exorcista e realizou o terceiro tomo do mesmo (baseado no seu livro Legião), com uma sábia mescla de paranóia servida de imagens frias e fazendo tábua rasa da sequela intermédia. O tempo das prequelas chegou e os estúdios atacaram o ground zero de filmes que já contavam com alguma numeração romana. William Wysher (Terminator 2, Judge Dredd, O Último Viking) escreveu o argumento e John Frankenheimer foi contratado para realizar. Contudo, o realizador da velha escolha, responsável por títulos como o Candidato da Verdade (1962), Os Incorruptíveis Contra a Droga II (1975) e Ronin (1998), abandonou o projecto pouco antes de falecer em 2002. o realizador seguinte a tomar conta do projecto, Paul Shrader (Gigolo Americano e A Felina),foi despedido pela produtora Morgan Creeek por desacordo com a orientação seguida e Renny Harlin sentou-se na cadeira desocupada. O finlandês foi responsável por Pesadelo em Elm Street IV e Die Hard II, mas o seu casamento com Geena Davis deitou a carreira de ambos no abismo (A Ilha das Cabeças Cortadas e A Profissional). Mesmo assim, Harlin é conhecido por conseguir obter lucro com os piores projectos (menos em A Ilha das Cabeças Cortadas, que custou 100 milhões de dólares e rendeu 10), e até hoje estreia em média um a dois filmes por ano.
Com pouco mais do que tons ocres, efeitos especiais miseráveis e muito vazio para preencher, Exorcista: O Princípio é uma completa nulidade, e o seu insucesso deu origem a que Paul Shrader tivesse luz verde para concluir a sua ideia inicial, estreada um ano mais tarde com o título Dominion: A prequel to The Exorcist (2005). A banda sonora, a cargo do sul africano Trevor Rabin, ilustrou tanto a versão de Harlin como a de Shrader, mas não sobrevive sem as imagens.
The Exorcist The Beginning 2004
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