Wednesday, November 19, 2008

Invisível, de David S. Goyer


Num objecto híbrido e de equilíbrio difícil, que começa como um pequeno thriller estudantil e se estende por campos de culpa & castigo que transcendem a imediatismo do género de consumo rápido, David S. Goyer consegue o impensável: demonstra que até um mau realizador merece uma oportunidade.

É certo que Goyer não tem aqui a originalidade de criar e estender a massa com que vai fazer a piza, mas pelo menos cuida dos ingredientes e do tempero com dedicação e cuidado, não se descuidando sequer na temperatura e tempo de forno. A massa, essa, provém de um filme sueco de 2002, Den Osynlige, e do livro que lhe deu origem.

David S. Goyer é um estranho caso de muito trabalho e pouco mérito. Já escreveu argumentos para filmes de artes marciais e de terror, é apreciado como revisor de guiões alheios ou criação de primeiros esboços para outros argumentistas, foi produtor executivo tanto de cinema como de televisão, e elaborou inúmeros argumentos para cinema sobre personagens da Marvel, apenas alguns dos quais tendo sido produzidos até à data (Nick Fury, a trilogia Blade e Ghost Rider, fez polimento ao script de Batman Begins e é responsável pelo esboço de Batman The Dark Knight, que será trabalhado pelos manos Nolan e estreará em 2008).

Como realizador, Goyer soma três fracassos de bilheteira. Zig Zag(2002), Blade III (2004) não cobriu os custos (a série televisiva sobre o mesmo personagem (2006) foi igualmente um fracasso e descontinuada ao fim da primeira temporada e Threshold (2005), outra série produzida por si, nem isso) e Invisível (2007) teve uma fraca recepção nas bilheteiras, que disputou com Paranóia.

Invisível é uma história de fantasmas. Devido a um mal entendido, um jovem é morto de pancada e reaparece como espírito, mas ninguém o consegue ver ou ouvir. A sua intenção inicial é que os culpados sejam condenados, mas uma súbita descoberta torna ainda mais importante que o seu corpo seja encontrado... antes que morra de facto. No meio deste clima de mistério e thriller, há ainda tempo para desenvolver os personagens e dar-lhes algum calor. Apesar de ser um remake e fortemente baseado no original, David S. Goyer trouxe uma estranha empatia no meio da frieza das cores e dos cenários carregados de frio e chuva. O final foi bastante retocado, amenizado e americanizado para o público a que se dirige (alguns discursos são demasiado lamechas).

Marcia Gay Harden é o único nome conceituado da produção (Oscar de Actriz Secundária em Pollock, 2001) e não é desta que Justin Chatwin (Os Amigos de Dean) consegue evidenciar-se. Mas fica a perceber-se claramente porque foi escolhido para filho de Tom Cruise em A Guerra dos Mundos: tem a mesma estrutura óssea de Cruise, é baixo, tem uma cabeça grande, ombros estreitos e membros curtos. Por outro lado, o rosto de Margarita Levieva é um facho de luz neste filme soturno e triste, sobre pessoas desiludidas e revoltadas.

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