Wednesday, November 19, 2008

Saw III: O Legado, de Darren Lynn Bousman


Partindo de uma ideia de James Wan (argumentista – com Leigh Whannell – e realizador do original), encerra-se a trilogia apanhando as pontas. Neste ambiente, deverá esquecer-se o anúncio feito pelos produtores na noite de estreia, de que um Saw IV estrearia no Halloween de 2007.

O primeiro filme da (por enquanto) trilogia surgiu numa altura em que o terror requentava nos cinemas (“The Ring” e “The Grudge”, “Dark Water”), mas conseguiu sobreviver tanto na crítica como nas bilheteiras. Arrecadou, entre nós, o Melhor Argumento do Fantasporto 2005 (e abriu a Competição). Não foi preciso mais do que esse ka-ching para entusiasmar os produtores a avançarem com uma trilogia, com “Saw II” e “Saw III” a serem filmados de seguida (como já ocorrera com os dois últimos tomos de “Matrix” e “O Senhor dos Anéis”).

James Wan já não realizou nem escreveu “Saw II”, mas o co-argumentista Leigh Whannell não largou o osso, trabalhando-o com o realizador das duas sequelas, Darren Lynn Bousman.

Demasiado preocupado em destacar-se na geração MTV, Darren Lynn Bousman aprendeu a regra de ouro de Tony Scott sobre os planos não deverem exceder três segundos e tentou ainda reduzi-los onde possível, nomeadamente nos momentos – atenção às aspas – “mais intensos”. Ele é o maior calcanhar de Aquiles de “Saw”.

Convém referir que a trilogia tem vivido mais do hype criado à sua volta do que da qualidade intrínseca dos filmes. O primeiro saiu com o slogan “o melhor thriller desde Se7en”, o que já de si esticava demasiado a corda. Mas é inegável tratar-se de uma história bem urdida e encenada com paixão. Na sequela, essa paixão é mais cerebral, ditada pelos cifrões, mas ainda assim geria o impacto do primeiro filme, ampliando os jogos (dentro e fora do cenário fechado de jogo propriamente dito) e não poupando na carnificina que o primeiro estipulara como ponto de honra. Os especialistas de efeitos especiais agradeceram a consideração e o público também.

À parte a histeria visual de Darren Lynn Bousman, “Saw III” consegue aguentar-se. A história continua a reciclar-se, e não a repetir-se simplesmente. Não só no que diz respeito aos jogos mortais, mas também pela forma exemplar como completa aqui um círculo perfeito. Para não ser simplesmente mais uma sequela, vai buscar pontos dos anteriores filmes, chegando inclusivamente a refilmá-los para nos dar diferentes perspectivas do que aconteceu, e as peças de dominó dão início ao percurso inevitável.

E o final, inesperado ou não, tem a sua poesia, surpreendendo pelo facto de purificar pelo sangue todos os intervenientes. Em boa verdade, não deveria haver um “Saw IV”.

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