Saturday, March 14, 2009

Sexta Feira 13, de Marcus Nispel

Decidida a reinventar os maiores ícones do cinema de Terror, a produtora de Michael Bay deu início a esse processo com Massacre no Texas (2003). Em equipa vencedora não se mexe e chega agora a recriação de Sexta Feira 13, com o mesmo realizador ao leme.

Marcus Nispel vem do mundo dos videoclips musicais e não podia ter-se estreado de modo mais airoso. Massacre no Texas estava carregado de suspense genuíno e de adrenalina em quantidades sustentadas, capitalizando na actriz Jessica Biel e num argumento potenciado por ligeiras alterações face ao original de Tobe Hooper em 1973. Após uma acidentada incursão televisiva no universo de Frankenstein (numa encarnação de Dean Koontz e não Mary Shelley), Nispel ataca o seu terceiro monstro sagrado: Jason Voorhees.

Sean Cunningham, em 1980, realizou Sexta-Feira 13 com a corda ao pescoço e o resultado foi, para além de evitar a falência da sua produtora, uma saga que conta, hoje, com 13 filmes e rios de sangue… verdinho. A ideia era simples: colocar um grupo de jovens num local isolado (um campo de férias perto de um lago) e matá-los um a um. No final, a surpresa da inesperada identidade do assassino. Nesse primeiro filme, era a Srª Voorhees, que vingava o afogamento do filho pelo desleixo dos instrutores do campo. Na sequela, o filho desfigurado prossegue a missão homicida, com um saco enfiado na cabeça e um único olho à mostra. No terceiro filme, Jason usa pela primeira vez a máscara de hóquei que o tornaria famoso.

A nova versão não quis perder a máscara de hóquei e por isso surge como um remake, não do filme original, mas de uma espécie de amálgama dos três filmes. Começa com a decapitação da mãe e assistimos a Jason-saco-de-batatas tornar-se Jason-máscara-de-hóquei. Convencidos de que o público de há 30 anos é o mesmo da actualidade, os argumentistas decidiram não inovar em nada. A carne para canhão continua a ser constituída por jovens que só pensam em sexo e drogas e as meninas atinadas duram mais tempo; três cenas de topless para ser fiel ao espírito dos anos 80 e remar contra a actual maré politicamente correcta; o resto é mocada da grossa.

O novo Jason move-se bastante mais depressa do que o zombie dos tomos mais recentes, mas falha em imaginação. As mortes são discretas e pouco originais, ainda que efectivas e não desmereçam. É uma opção pelo realismo que já fora tomada em Massacre no Texas, mas num filme com uma história tão etérea, bem podia ter-se debruçado mais na criatividade homicida. A acção é rápida, não perde tempo a apresentar os personagens nem a liquidá-los. Aliás, para conseguir realizar treze homicídios em hora e meia, não há tempo a perder. Os protagonistas são reconhecíveis da televisão, com Jared Padalecki (Sobrenatural), Danielle Panabaker (Shark) e Amanda Righetti (Reunion) a darem o seu melhor em correrias e gritinhos. No cômputo geral, Sexta Feira 13 desilude, porque não arrisca. Limita-se a baralhar e a voltar a dar. Sem brilho, sem originalidade, sem energia.

Friday The 13th 2009

Refém do Espírito, de Eric Red

Eric Red é um realizador-argumentista com um período de talento ilusório de apenas dois anos (1986 e 1987), quando assinou os guiões de Terror na Auto-estrada e Depois do Anoitecer. Contudo, é aos realizadores Robert Harmon e Kathryn Bigelow, respectivamente, que temos de agradecer pela qualidade desses filmes. Quando o próprio Eric Red se senta atrás das câmaras, até os seus guiões parecem baços. Cohen & Tate, Undertow e Bad Moon são prova disso. Refém do Espírito também.

Após uma primeira cena cativante, em que os dois personagens principais são apresentados faseadamente, e de uma premissa provavelmente interessante, somos castigados com uma medíocre e incongruente história de casa assombrada.

Uma mariticida é sentenciada a uma pena de um ano em prisão domiciliária, com pulseira electrónica, na casa onde matou o marido. Onde ele ainda está como fantasma, e mais agressivo do que em vida. Infelizmente, o desenvolvimento da história não podia ser mais laxativo. Rapidamente se cai na dormência de velas que se apagam e reacendem, ruídos numa casa vazia e objectos na cozinha que são atirados pelo ar. Após a tentativa frustrada de exorcizar a casa da presença maligna, a solução final não faz o menor sentido. Se a alma penada já por várias vezes colocara no dedo da viúva o seu anel de noivado, porque haveria o resultado de ser diferente por ela lho atirar? Especialmente quando ele o intercepta com a mesma mão que lho enfiara no dedo antes.

Famke Janssen especializou-se em papeis de mulher frágil e não destoa; infelizmente, não se percebem algumas flutuações de humor, em que passa de mulher de armas a menina assustada, e o realizador gosta de atirá-la pelo ar contra a parede e mobiliário avulso, sem que ela apresente mais do que hematomas, quando claramente um bom quiropracta ou um molde de gesso deveriam entrar no menu. Bobby Cannavale é outro que, usualmente, consegue dar credibilidade ao seu papel, mas aqui está completamente à nora. Primeiro encara a protagonista como a horrível homicida do seu parceiro no corpo policial, ora se convence que ela está a encobrir o verdadeiro homicida. Passa os dias enfiado no carro, à porta dela, à espera que viole a sentença e a devolva à prisão, mas como é possível que tenha tanto tempo livre? Não há crimes em Nova Iorque que exijam a sua presença? Ou está de férias? Michael Paré, outrora um nome de fugaz relevo, é o fantasma.

Em conclusão, Refém do Espírito desbarata uma premissa interessante e não apresenta uma sombra de medo ou suspense, característica indispensável neste ramo. O desfecho é de tal modo improvável que se torna estúpido sequer considerá-lo. (spoiler:) A casa arde com um cadáver lá dentro e o polícia diz à protagonista que fuja, o que ela faz. É então veiculada a informação de que ela morreu no incêndio. Mas o cadáver é de um adolescente que vive com os pais (amante da protagonista) e, mesmo que nada sobre dos escombros do que um esqueleto, é bom de ver que o esqueleto de um homem não se confunde com o de uma mulher, e a altura do rapaz não confere com o dela. A família do rapaz não exigirá uma investigação ao desaparecimento? E porque há-de a protagonista aceitar viver como fugitiva (sem documentos e dada como morta), agora que fantasma se esfumou e poderia mudar-se para outro apartamento? Prisão domiciliária só obriga a não sair de casa, mas não impede que se mude de morada.

100 Feet 2008

Vizinhos, de Pål Sletaune

Escrito e realizado por Pål Sletaune (Junk Mail, 1997), Naboer é um thriller norueguês sobre a perda de controlo, o desejo e a obsessão. Perturbador e labiríntico, dotado de uma mise en scéne que transforma os cenários em personagens e de uma inquietante banda sonora de Simon Boswell, o suspense é primoroso e a intensidade com que penetra a nossa curiosidade é avassaladora.
Munido de uma frieza implacável e a capitalizar na paranóia mais feroz, Naboer aproveita bem os elevados valores de uma produção conjunta da Noruega, Dinamarca e Suécia.
A história desenvolve-se lentamente, permitindo-se respirar como um bom vinho, e cada gole é néctar que se recomenda. Pelas surpresas, pela mestria da direcção, pela qualidade da fotografia, pelo arrojo gráfico da violência sexual que choca pela sua não gratuitidade. Como único defeito, uma duração demasiado curta (aproximadamente de 70 minutos).
Kristoffer Joner (Vinterkyss) aguenta o protagonismo com uma vulnerabilidade notável, a deixar-se envolver num confuso mundo de sedução que não compreende. Cecilie Moslie e Julia Schacht são o rosto sensual desse mundo que tem tanto de real como de onírico.
Naboer 2005