Thursday, July 9, 2015

As Vozes, de Marjane Satrapi

Se a história não era promissora, a realização muito menos. Um jovem simpático comete um homicídio acidental e, a partir daí, seguem-se outros para encobrir o primeiro; como desculpa, foi instigado pelos seus animais de estimação. A comédia ligeira, os flashbacks e os crimes tropeçam uns nos outros em vez de fluírem e, esbatida a surpresa inicial, não sobra nada. As limitações de Ryan Reynolds estão à vista e, se todas as vozes dos animais são dele, há que destacar a do gato, que não se adequa nada ao aspecto do bicho. Anna Kendrick e Gemma Arterton são parco rebuçado para tanto desperdício.


The Voices 2014

Área 51, de Oren Peli

O homem por trás de Actividade Paranormal (2007) voltou a meter a câmara ao ombro, mas não sabe fazer mais do que zoom e acender a luz infravermelha. Com produção, realização, cinematografia e co-argumento de Oren Peli, Área 51 é uma brincadeira nos antípodas do enervante Projecto Blair Witch (1999), filme que deu origem ao subgénero da found footage, já usado contra zombies, monstros, fantasmas, o espaço sideral e o quintal das traseiras.
Em produção desde 2009, Área 51 é a experiência em primeira pessoa de um grupo de três amigos que decide infiltrar-se no famoso e remoto aquartelamento da Força Aérea dos EUA onde, diz-se, foi feita a primeira autópsia a um extraterrestre e, portanto, em redor da qual abunda o folclore UFO. É por este factor que a produção do filme terá achado que o mesmo atrairia a curiosidade cinéfila, mas infelizmente nada tem para dar em troca além de actores desconhecidos a correrem de um lado para o outro pelo deserto nocturno, às escuras por armazéns vazios, elevadores, garagens e até uma gruta. Perto do desfecho, é possível avistar um alien de aspecto clássico durante algumas décimas de segundo.
Area 51 2015

It Follows, de David Robert Mitchell

Uma vez que se comece a olhar por cima do ombro, nunca mais se pára. O segundo filme escrito e realizado por David Robert Mitchell é um discreto mas intenso pequeno filme de terror, filmado com sonolência e elegância antes de acelerar a adrenalina e o nervosismo, sendo capaz de absorver integralmente a atenção do cinéfilo.
A premissa reconhece-se facilmente do twist de The Ring (2002), onde uma força maligna não parará por nada até matar a sua vítima, a menos que esta transfira para outra o testemunho, livrando-se do mal e passando-o para a seguinte. A novidade, ainda que sub-reptícia, é digna de antologia: corrompendo os cânones clássicos do sub-género de terror adolescente, em que a virgem sem vícios tem mais hipóteses de sobrevivência, a peçonha é aqui transmitida à heroína sexualmente e esta só pode salvar-se tendo sexo com outro parceiro, transferindo-lhe assim a maldição, com uma nuance suplementar: se essa vítima for morta, a assombração regressará à vítima anterior, e assim sucessivamente. Poderá, neste caso, ser necessário ter mais sexo.
Novamente, não é a originalidade da ideia base que conta, mas o que se faz com ela e David Robert Mitchell sabe o que faz. Com Maika Monroe, que parece irmã de Brie Larson (Keir Gilchrist, que contracenou com Brie Larson em As Taras de Tara, também entra neste), e Jake Weary, que parece irmão de Joshua Jackson. Como defeito que ninguém reparou, algum uso excessivo da maquineta rotativa que permite à câmara um movimento semi-circular, demasiado mecânico e hirto, eventualmente por a constrição orçamental ter obrigado ao recurso de um modelo modesto. O orçamento de 2 milhões de dólares, porém, já foi largamento ultrapassado em bilheteira.  

It Follows 2014

Maggie, de Henry Hobson

Arnold Schwarzenegger num mundo infestado de zombies, a cuidar da filha infectada por uma mordida, num drama melancólico e pastoral, sensível e, dado o contexto, bastante interessante. Ao tratar, até ser demasiado evidente que a filha está a transformar-se numa figura fantasmagórica, o contágio como qualquer outra doença terminal de rápida progressão, Maggie é, na sua essência, a tocante despedida de um pai a uma filha a quem restam apenas alguns dias de vida, os quais ele tenta assegurar-se de que são o mais confortáveis possível, sabendo que, inevitavelmente, chegará o momento em que ambos terão de ser confrontados com a sua própria mortalidade.
Henry Hobson, designer de sequências de abertura e fecho de inúmeras longas metragens e jogos de consola, estreia-se aqui na longa metragem com uma força inacreditável, especialmente pelo facto de a história ser tão esparsa que, ao fim de uma hora, é possível questionar como pode ainda ser preenchida a meia hora restante. Mas Hobson não desilude, evitando sempre cair na banalidade. Ou, sem sair desta, arrancar-lhe uma estranha beleza, elevando o guião de John Scott 3 a uma daquelas fotografias que valem mil palavras, daqueles quadros de museu que se podem admirar durante horas, até as luzes se apagarem e os seguranças ameaçarem chamar a polícia.
É considerado o segundo filme de terror da carreira do Mr. Universo, mas nem este nem Os Dias do Fim (1999) integram esse género, apesar de envolverem criaturas sobrenaturais que normalmente lhe estão associadas. É o segundo filme de zombies de Abigail Breslin, depois de Zombieland (2009). Apesar de Schwarzenegger figurar entre os produtores, parece que o ambíguo nome da produtora Sly Predator Productions nada terá a ver com Sylvester Stallone. A reforçar esta visão, a noção de que os primeiros actores convidados foram Chloe Grace Moretz e Paddy Considine. Por último, referir o contributo da música de David Wingo e a fotografia de Lucas Ettlin.
Maggie 2015

The Atticus Institute, de Chris Sparling

Num estudo científico sobre capacidades neuro-paranormais, um dos pacientes manifesta indícios de possessão demoníaca e são despoletados mecanismos para controlar a ameaça, mas também para aprofundar a investigação. A princípio, a forma documental empregue e o estilo de falsa reportagem servem eficazmente o propósito de estabelecer a premissa, mas rapidamente se passa da tensão à indiferença. 
Dentro do subgénero do terror, The Atticus Institute acaba por ser mais do mesmo: contorções e esgares, distorções vocais e tímidos efeitos especiais enquadrados na modéstia orçamental. As ocorrências são ingénuas e a falta de catarse reforça a desilusão. Vale pela direcção de fotografia e pela montagem de catalogação dos falsos documentos dactilografados confidenciais, entrevistas, fotografias e gravações de vídeo. Escrito e realizado por Chris Sparling, o argumentista do emocionante Enterrado (2010) e da desilusão de ATM (2012). Com William Mapother, primo de Tom Cruise.
The Atticus Institute 2015