Wednesday, November 19, 2008

A Semente de Chucky, de Don Mancini



Não há um único filme da saga Chucky que seja bom. Isto é um ponto assente.
O original de Tom Holland pretendia ser um filme de terror puro e duro, com um serial killer encurralado numa loja de brinquedos que passa a sua alma para um boneco Good Guy; é comprado por uma família, tenta matá-la, fracassa. O segundo filme é o da vingança do boneco, mantendo os sobreviventes do primeiro, mas os seguintes são mera palhaçada. O terceiro passa-se numa escola militar, no quarto Chucky arranjou uma companheira de plástico, Tiffany. Nesta nova comédia, a Semente é um filho, com dentes serrilhados e sotaque britânico, e se dois bonecos de plástico podem ter um filho com dois braços e duas pernas, tudo é possível.

Hollywood está a fazer um filme sobre os crimes de Chucky e Tiffany e usa os bonecos verdadeiros. Quando o filho deles, falso ventríloquo numa feira britânica, foge da sua vida de Pinóquio e se lhes reúne enviando-se numa encomenda para os EUA (não perguntem como o fez, nem como foi parar directamente aos pés dos “pais”), eles recuperam o instinto assassino e os crimes recomeçam, mas o grande plano é Chucky fazer inseminação artificial à actriz Jennifer Tilly, que faz a voz de Tiffany no filme em produção, e quando esta der à luz o filho de Chucky, os três bonecos vão-se tornar humanos através do ritual de transferência de corpos. O parto ocorre em menos de 48 horas (9 meses é só para humanos) e Tilly tem gémeos. O que fazer? É uma sorte o filho ter dupla personalidade.

Se tudo o que ficou dito parece demasiado idiota, ainda há mais: Tiffany mostra literalmente as mamas a Chucky e à plateia, para lhe dar alento à masturbação que virá a fornecer a matéria-prima da inseminação artificial; o filho não tem instinto assassino e além disso não tem sexo (como um Ken da Barbie), pelo que não consegue decidir-se se quer ser rapaz ou rapariga, Glen ou Glenda (referência descarada ao filme de 1953 de Ed Wood, considerado o pior realizador do mundo). E, se falamos em piores realizadores do mundo, John Waters aparece em cena como um jornalista de tablóide e a jovem cantora em rápido declínio Britney Spears tem cinco segundos de tempo de antena.
Com este filme, o realizador (argumentista dos anteriores Chuckys) habilita-se seriamente a roubar o título a Ed Wood.

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