Em 2006, dois franceses alcançaram o inesperado. Sem banda sonora e apenas dois actores, David Moreau e Xavier Palud conseguiram manter um suspense irrespirável durante 70 minutos. Eles usava magistralmente pequenos artifícios como pedras lançadas contra vidros, batidas na porta e sombras fugidias, criando uma atmosfera de intimidação inacreditável.
The Strangers é um descarado remake americano de Eles, por um realizador-argumentista aldrabão, que abusivamente atribui a inspiração a eventos reais (sim, os irmãos Cohen disseram o mesmo sobre Fargo) e em entrevista sublinhou os homicídios de Charles Manson e o facto de uma vez em criança ter aberto a porta a um estranho que lhe perguntou por alguém que não morava ali e nessa noite casas das redondezas terem sido assaltadas. Sobre Eles, nem uma palavra.
Na esperança de que poucos americanos tivessem visto o filme francês, Bryan Bertino utilizou exactamente o mesmo estratagema. Uma casa próxima de um pinhal, um casal sozinho e três figuras com os rostos cobertos (gorros no original, máscaras na versão americana) a tentarem amedrontá-los. Pedras contra os vidros, pancadas na porta e sombras fugidias. Até a justificação dos maus para os seus actos, que pode ler-se no próprio cartaz (Porque estavam em casa), é muito próxima da de Eles (Só queríamos brincar). Mas em vez de uma atmosfera de intimidação, lê-se apenas o seguimento de uma fórmula e muito aborrecimento.
Não há desenvolvimento dos personagens. Os protagonistas são tão anónimos como os psicopatas, com a mera diferença de que não usam máscaras e sabemos onde moram. Através de um flashback, é-nos relatado que ele a pediu em casamento nessa noite e ela recusou, mas não sabemos porquê. Quando os sustos começam, agem de modo assustado. Os psicopatas não têm expressão, não só por cobrirem o rosto, como pelo facto de não falarem. Como o filme é americano, eventualmente acabam-se as pedras para atirar às janelas e o armário dos clichés é escancarado à nossa frente (e faz perguntar como é que num filme que se quer baseado em factos reais o psicopata pode estar mesmo atrás da vítima, mas quando esta se vira não está lá ninguém). No final, assiste-se a um curto torture porn, tão introvertido que mete dó.
O filme abre com uma narração que pretende lembrar a da saga Massacre no Texas (1974), mas tão artificial e a querer colar-se ao figurino que se confunde mais com a de Cobra (1986). Liv Tyler foi uma péssima escolha (ela e Scott Speedman formam o casal vítima), não porque não saiba gritar a contento, mas porque se perde demasiado tempo a pensar em como está gorda.
Noutra produção de 2007, também Kate Beckinsale (que faz dupla com Scott Speedman na trilogia Underworld) entrou num filme com contornos semelhantes, O Motel. Brincadeiras Perigosas, de Michael Haneke, um original de 1997 e com remake de 2007, pode considerar-se percursor deste tipo de thriller. Mas, nunca será demais repetir, The Strangers é demasiado baço, especialmente por apenas repetir uma fórmula e respectivos clichés.
Fica a curiosidade de que David Moreau e Xavier Palud, os responsáveis por Eles, rumaram para Hollywood com um convite para realizarem o remake de O Olho (2008) dos irmãos Pang (2002) e não poderiam ter feito pior trabalho.
The Strangers 2008
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