Depois do tiro ao lado de Tusk (2014), agora a bala sai pela culatra, não se imaginando sequer como irá Kevin Smith enterrar a carreira com Moose Jaws, o filme com que pretende encerrar o que chama a sua trilogia do Norte Verdadeiro (Canadá). Se Tusk começava como um curioso thriller antes de ir ribanceira abaixo, Yoga Hosers começa no fundo e ainda pede uma pá.
Hoser é um termo canadiano relativo ao hockey que se traduz como idiota ou falhado, não se percebendo porque é que as protagonistas, empregadas de loja de conveniência e duas únicas alunas de uma academia de ioga pouco ambiciosa, recebem a alcunha, por parte de toda a gente, quando apenas marginalmente se dedicam à meditação assistida. Aliás, Hoser é um termo depreciativo mais usado por estrangeiros do que por canadianos, pelo que ainda se entende menos a referência.
Para além do trio de amigos que apareceram em Tusk e aqui têm um minuto para acrescentarem aos currículos (Justin Long, Genesis Rodriguez e Haley Joel Osment), Kevin Smith volta a trazer Johnny Depp com uma maquilhagem cheia de verrugas e acrescenta-lhe a sua ex-companheira Vanessa Paradis com uma diastema real que dava para fumar sem usar as mãos (mil vezes Tom Cruise com um dente no meio do que a Vanessa com um espaço que dava para lá ter um dente) e Stan Lee também acedeu a um cameo, apesar de não haver super-heróis no filme. Rose-Lily Depp e Harley Quinn Smith, filhas de Johnny Depp e de Kevin Smith, protagonizam, e Jennifer Schwalbach, mãe de Harley Quinn e esposa de Smith, também cumprimenta.
As duas empregadas de balcão (ou clerks, título do primeiro filme de Smith, sobre o qual o amigo podcaster Christopher Downie fez um documentário em 2016) entretêm-se a entediar e as peripécias atiradas para a misturadora nãoprovocam mais do que rolares de olhos. É o cúmulo da auto-indulgência de Kevin Smith, aqui como realizador, argumentista, cameo (na ficha técnica escreveu actor) mas não produtor, porque não pôs um centavo neste completo falhanço. Nazis em miniatura aparecem na loja das miúdas precisamente no dia em que estas descobrem, nas aulas, que houve um partido nazi no Canadá. Parecem salsichas gordas vestidas de nazis e explodem em forma de batatas fritas. O líder mete-os todos dentro da escultura oca de um jogador de hockey infernal e manda-os matar críticos (sim, críticos, que o personagem de Johnny Depp comenta que nem sequer são pessoas verdadeiras), mas este monstro de Frankenstein tripulado não sai sequer da cave onde foi construído, porque o orçamento de cinco milhões já se tinha esgotado em jantaradas. Há também um par de estudantes satânicos, mas é-lhes dada tanta importância como a tudo o resto (curiosamente, são interpretados por Austin Butler e Tyler Posey, heartthrobs das séries juvenis As Crónicas de Shannara e Teen Wolf). Yoga Hosers é uma anedota daquelas que envergonham os autores e ofendem, de todos os países, o Canadá.
Yoga Hosers 2016
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