Thursday, February 14, 2019

12 Feet Deep, de Matt Eskandari

Duas irmãs fechadas numa piscina municipal, durante a noite, por baixo da capa protectora que as impede de sair da água. Sabes que vai ser uma desilusão, mas insistes. Uma é diabética e pode entrar em choque hipoglicémico a qualquer instante e a outra sofre de depressão clínica, mas a esperança é a última a morrer. Claro que há um trauma subjacente que as duas vão ter de resolver enquanto dão aos pés. E ao fim de meia hora aparece alguém.

12 Feet Deep mete demasiada água para cumprir o seu objectivo. Passa-se muito pouco para ser um thriller, o terror foi secar-se, torture porn só se largar cloro numa piscina enorme for perigo imediato e também não é um jogo de gato e rato porque o rato não sai do sítio.

A raiar uns míseros 80 minutos, o guião é tão parco de ideias que, ao final de uma hora, ainda tenta o artifício trôpego de (SPOILER!) dar as duas por salvas para, de seguida mostrar que se tratou de uma alucinação da diabética, algo que ainda se torna mais óbvio, para a inépcia de Matt Eskandari (argumentista e realizador), se tivermos em conta que uma das protagonistas é Nora-Jane Noone, que há mais de dez anos participou em A Descida (2005), um filme de verdadeiro terror de Neil Marshall, onde esse twist foi utilizado como verdadeira mais-valia.

Não menosprezando a dedicação das actrizes Alexandra Park, Nora-Jane Noone e Diane Farr, cabe salientar que Tobin Bell, o omnipresente marionetista da saga Saw, não tem mais do que cinco minutos de tempo de antena no início da película e nenhuma relevância para o desfecho, mas não deixa de ser uma boa jogada da direcção de elenco. Agora, as pontas soltas: as capas de protecção de piscina costumam ser de lona ou poliester com PVC, mas esta é estranhamente de placas de fibra de vidro aparafusadas a uma estrutura sólida, o que é pouco credível, porque a sua recolha exigiria muito espaço de armazenamento e uma força bruta (neste caso mecânica, portanto com custos de electricidade e manutenção) para movimentar (nem encontrei na internet referência a capas de fibra de vidro para piscinas – o que há, sim, são piscinas feitas de fibra de vidro). Quanto ao anel de noivado, ainda supus que serviria para cortar a placa de protecção, aquela ideia de que o diamante é capaz de cortar tudo; claro que seria uma falácia, porque a cola que segura o diamante ao anel partir-se-ia facilmente, mas o filme não é poupado em incongruências. Outra é que a diabética se queixa de glucose baixa e, por isso, diz, precisa de uma injecção de insulina, quando o oposto é verdadeiro: quando a glucose está alta, usa-se insulina, quando está baixa, açúcar. Não só a insulina agravaria o seu estado, como o glucómetro, horas antes, mostrava índices normais de glucose. Por fim, o pânico com a libertação de cloro na água; dadas as dimensões da piscina, seriam precisas muitas horas de contínua adição de cloro para este ser realmente prejudicial e as duas prisioneiras nem sequer tentam afastar-se dos bicos de emissão de cloro, nomeadamente irem para o lado oposto do tanque, antes filmando-se a cena como se estivessem presas num jacuzzi.

Por fim, mencionar que há algo em 12 Feet Deep que recorda Gerald's Game, o livro de Stephen King sobre uma mulher algemada a uma cama e que é visitada por uma figura humanóide. Em ambos casos, há mulheres que têm de libertar-se de uma prisão para fugir à morte, achando-se sozinhas durante parte do tempo. A adaptação de Gerald's Game chega ainda este ano (2017), pelas mãos de Mike Flanagan.

12 Feet Deep 2016

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