Antes de ser adaptado para o universo americano (2002), o livro de Kôji Suzuki já tinha sido adaptado pelos japoneses Hideo Nakata (Ringu, 1998) e Jôji Iida (Rasen, 1998) – ambos estreados na mesma data – e pelo sul-coreano Dong-bin Kim (Ring Virus, 1999), tinha tido uma sequela (Ringu 2, 1999) e uma prequela (Ringu 0, 2000). Nakata realizou a sequela japonesa e a americana (Ring 2, 2005) e Dark Water (2002), outra história de fantasmas do mesmo escritor, também com remake americano (Dark Water, 2005). Entretanto, o fenómeno de popularidade decresceu, apesar das tentativas de revitalização em forma de curta metragem (Ring Whispers, 2015) e pelo recurso aos novos meios digitais, nomeadamente a exibição em 3D e a comunicação do fantasma transitar do telefone para a internet (Sadako 3D, 2012, sequela de Rasen e não de Ringu).
O terror de qualquer cabeleireira está de volta e tem o mesmo título (Rings) de uma curta-metragem que foi incluída nos blu-rays de Ring e Ring 2, mas uma história diferente. Pouco promissor desde o início, coloca Samara, a rapariga-fantasma, num avião que se despenha de seguida; não se percebe se toda a gente a viu, se ela atacou indiscriminadamente ou apenas o passageiro em contagem decrescente, nem se houve falha técnica. Uma vez no chão, o enredo não melhora.
Um professor universitário teve acesso à cassete fatal e iniciou um estudo secreto que ocupa um andar da universidade com acesso condicionado. Não se sabe como é que sobreviveu à maldição ou conseguiu financiamento e autorização para o estudo, nem sequer se lhe entende a metodologia, já que utiliza alunos voluntários como cobaias, mas parece querer protegê-los, perpetuando o ciclo de transmissão. Pode mesmo perguntar-se em que assenta o dito estudo, pois salvar os voluntários previne que Samara se materialize e priva-o do seu objecto. Para além das implicações morais, há que referir a responsabilidade penal do professor e do estabelecimento de ensino, se os colegas começarem a morrer e os sobreviventes denunciarem a actividade extra-curricular.
Três argumentistas e foi isto que se conseguiu. Rings abandona toda a premissa do estudo universitário assim que a namorada de um voluntário passa a vítima, vendo a fita e sendo conduzida pelas pistas (o conteúdo é diferente das gravações anteriores, para gaudio do professor) à localidade onde Samara foi enterrada. Como o filme entra na dimensão do tédio, dá tempo para a audiência se questionar sobre Samara ter voz de criança, mas corpo de adulta; o que faz ela durante o sete dias entre o telefonema e a visita televisiva; se duas cópias do filme forem vistas simultaneamente por duas pessoas diferentes, em dois cantos opostos do mundo, divide-se Samara em duas para matar? E se a futura vítima não tiver telefone quando vê o filme ou televisão quando passa o prazo? Qual é a utilidade das imagens do vídeo, se não servem para alterar o destino de quem o viu? O estudo do professor podia ter explicado tudo isto, mas não.
O realizador F. Javier Gutiérrez tem apenas um filme no currículo (3 Dias, de 2008) e dois são mais do que suficientes para o seu talento. Por fim, e já que se questionou a ausência de um emissor de audiovisual aquando no fim do prazo (sete dias, ao minuto), como é que o cego sabia que a falta de visão iria protegê-lo?
Rings 2017
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