Filme sobre uma mulher que lê um livro, Nocturnal Animals arrasta-se pelos cenários frios, antissépticos e dispendiososde uma moradia de colina quando não transforma as letras na página em poeira da América profunda, onde mergulhanuma história de violação, morte e vingança, por esta ordem de previsibilidade mas, ainda assim, absorvente no seu fascínio por crime e castigo. Com o distanciamento permitido pelo limitado investimento numa trama que se sabe ser ficcional (está num livro) e numa realidade (da leitora) onde pouco acontece, encontra-se nas entrelinhas a verdadeira vingança, a de um ex-marido que usa luva branca para transformar em exclamação o ponto final que a então esposa, anos antes e de maneira assaz dissaborosa, pusera no seu casamento.
Segundo filme de Tom Ford, o homem que vestiu Daniel Craig em Quantum of Solace (2008), director criativo da Gucci e da Yves Saint Laurent antes de, em 2006, criar a marca homónima. Como foi caso de Um Homem Singular (2010), Ford volta a adaptar o argumento e a realizar, trabalhando os enquadramentos e as cores com aprumo, dando espaço aos actores para se revelarem nos seus papeis e conduzindo as linhas até à conclusão apenas intuída, mas concreta ao olhar mais perscrutador.
Amy Adams e Jake Gyllenhall são os protagonistas, ela na sua vida frustrada e ele no seu descarrilar violento, Michael Shannon e Aaron Taylor-Jonhson em lados opostos da lei, Isla Fisher e Armie Hammer cônjuges com destinos diferentes. A vingança do ex-marido consiste em mostrar à ex-mulher que vai ser um escritor de sucesso com o novo trabalho e que ela, depois de o ter traído e duvidado do seu talento, está agora mais sozinha do que nunca.
Nocturnal Animals 2016
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