A espremer o purgatório desde 2013, a trilogia de James DeMonaco começou por apresentar-se como uma invasão de propriedade durante um período de doze horas em que a Presidência amnistiava todo o tipo de crime interpessoal (The Purge, 2013), focando-se a sequela nesse pano de fundo (The Purge: Anarchy, 2014) e fechando o plano quando, dezoito anos de purga anual mais tarde, os americanos finalmente votaram os Novos Pais Fundadores para fora da Casa Branca (The Purge: Election Year, 2016).
Com a conta bancária a comportar-se como a planta carnívora da Lojinha de Horrores (1986), DeMonaco decidiu lançar em 2018 mais um filme e uma série no mesmo universo paralelo, sendo a longa metragem um reconto da Primeira Purga (2018) e a série passada algures durante a Presidência dos Novos Pais Fundadores. Ao contrário do seu filme Staten Island (2009), em que esse distrito de Nova Iorque era habitado por famílias mafiosas brancas e outros falhados de igual tez, agora a ilha alberga unicamente minorias de cor mais veraneante, que têm de sobreviver ou participar na primeira experiência da Purga, no primeiro ano circunscrita às suas fronteiras naturais.
Superficial, barato e indiferente, A Primeira Purga acaba por ser mais do mesmo, e isso é menos do que deveria ser. O herói é o chefe do crime organizado em redor da venda de narcóticos da ilha, que não a abandona para proteger o que é seu e acaba atacado e a revidar contra grupos de mercenários que os promotores da Purga contrataram para o massacre que os locais se mostraram incapazes de providenciar e, no final, salva a ex-namorada que conhecemos apenas como boa católica e corajosa. Infelizmente, a estratégica de mercado não se reflecte naquilo que leva o público às salas: a narrativa é lenta, seca de medo e ausente de adrenalina. Sem vida, arrasta-se em meia dúzia de cenas centrais e morre na praia. A série, porque há quem apenas faça dieta disto, já teve uma segunda temporada aprovada, apesar da crítica relutante à temporada de estreia.
Marisa Tomei é a única estrela do elenco, à qual se junta a veterana Luna Lauren Velez, daquelas actrizes a quem se reconhece o talento mas o nome não. Y'lan Noel e Lex Scott Davis são o par que chove sem molhar e são bem-vindos em novas produções, apesar da superficialidade deste material e a incapacidade do filme atingir metas razoáveis em suspense, tensão ou morte. Depois de uma trilogia a escrever e realizar, DeMonaco deixou vaga a cadeira da direcção para o afro-americano Gerald McMurray, que apenas tinha no currículo um filme sobre praxes. A primeira purga é um aborrecido drama dos negros de Staten Island que se recusam a ser vítimas de supremacistas brancos com fatiotas de nazis e barretes de ku kluxes, salva o dia o líder do narcotráfico da área, é criminoso mas tem bom coração, pelo menos no que toca à vida da ex-namorada e daqueles que estiverem com ela. No quarto de um dos sobreviventes há um poster do novo Halloween (2018),que se usam máscaras em ambos filmes e o estúdio é o mesmo (Bloomhouse).
Para o ano há mais um filme da franchise com The Purge: Survival (2019), realizado e escrito por duas mulheres (Sara Jimenez e Austin Ellen) e DeMonaco, a figurar apenas como criador (da série, também apenas escreveu três episódios e não realizou nenhum), continua por Staten Island, a escrever e dirigir Once Upon A Time In Staten Island (2019). Por último, duas curiosidades relacionadas: um dos primeiros cartazes de A Primeira Purga ostenta um boné vermelho como aqueles distribuídos pela campanha para a presidência de Donald Trump e, depois de fugir de um atacante, a heroína foge gritandoPussy grabber motherfucker em óbvio add on de pós produção.
The First Purge 2018
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