Começa como um mau filme de Tarantino (Uma Thurman ajuda à ilusão) e prossegue como um filme mau de pleno direito. Von Trier sem tripé, com a objectiva a acompanhá-lo para onde quer que se vire, a colar com cuspo episódios soltos da vida de um assassino em série anónimo e polvilhando-os de diálogos em voice over entre o protagonista e uma voz na sua cabeça (na voz inconfundível de Bruno Ganz).
Apesar das notas de imprensa postularem que se trata da narrativa do muito inteligente e auto-intitulado Sr. Sofisticação em transformar cada homicídio numa obra de arte, aquilo que fica para a posteridade é uma fita extremamente aborrecida na sua estrutura contrita e cujas dissertações apenas revelam a estreiteza de raciocínio de um simplório com a mania de grandeza. Há diversos elogios ao Terceiro Reich, seja pela sua astúcia na criação de caças da Força Aérea ou na engenharia de construção de monumentos, um instante de auto-bajulação em que compila excertos dos seus filmes anteriores, faz referências a martelo, como a do vídeo Subterranean Homesick Blues de Bob Dylan ou ao Inferno de Dante, no mais simplório cop out de que há memória para despachar o filme sem se comprometer (fica até a ideia de que o protagonista é conduzido ao Inferno sem sequer ter morrido primeiro, como se fosse uma excursão só de ida).
Outrora polémico e controverso, Lars von Trier é aqui apenas vulgar no seu aproveitamento, intitulando o filme A Casa Que Jack Construiu, uma famosa rima infantil que associa ao protagonista engenheiro, decidido a construir uma casa mas que demole ainda nos alicerces, insatisfeito tanto com a estrutura em cimento como em madeira e destruindo alguns modelos em miniatura, vamos é ouvir Glenn Gould ou David Bowie, o primeiro com imagens de arquivo e o segundo só com o volume no máximo (no final, à pressa, empilham-se uns cadáveres e diz-se que a casa está pronta e é muito original, vamos descer aos esgotos e chamar-lhes Inferno, mal iluminado é tudo o mesmo). Também um dos incidentes se limita a plagiar o conto de Ray Bradbury The Fruit at the Bottom of the Bowl (1948), no qual o assassino revela uma compulsão obsessiva em limpar impressões digitais e demais provas da cena do crime, já superiormente interpretado por Michael Ironside na série Hitchcock Apresenta. Riley Keough, filha de Elvis Presley, prossegue na sua carreira de olhar no vazio enquanto a filmam, aqui descobrindo os seios para que Matt Dillon possa apertar alguma coisa enquanto debita um dos piores textos do guião.
The House That Jack Built 2018
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