Escrito e realizado por Ari Aster, Hereditário é a sua ascensão de sete curtas-metragens para o formato longo, naquilo que pode apenas ser descrito como o manual mais detalhado sobre tudo o que não deve ser feito num filme de terror, sob pena de transformar-se numa involuntária anedota de agonizante punchline, com a concretização mais medonha e enfadonha que alguém completamente desconhecedor do género poderia conceber. Para ser mais perfeito, o filme apenas precisava de Nicolas Cage no papel em que Toni Collette canalizou a sua essência.
O realizador disse-se influenciado por O Cozinheiro, o Ladrão, a Mulher Dele e o Amante Dela (1989), mas a única semelhança entre ambos será a construção de todo o interior da casa num armazém, o que permite à câmara acompanhar os actores pelas várias divisões sem cortes; de resto, a obra prima de Peter Greenaway está nos antípodas desta fita inepta, com a impetuosidade da representação de Michael Gambon e a grandiosidade da banda sonora de Michael Nyman a ofuscarem eventuais falhas, ao contrário desta pálida amostra de histeria por parte de Collette e de repulsa por não ter nada para fazer ou dizer de Gabriel Byrne, sem esquecer a convoluta banda sonora do saxofonista Colin Stetson, cujas técnicas de desarmonia obsessiva falham na mescla com as sensibilidades divagantes de Ari Aster em desenvolver uma trama que passe da banalidade à verdadeira tensão, colando episódios de surrealismo bruto com outros de disfuncionalidade familiar, numa básica narrativa sobre possessão demoníaca que não se demarca da engrenagem de fabricar Paranormal Activities, Insidious, Annabelles, Freiras e Slender Men, por muito pretensioso que se mostre das suas qualidades e alguns tentem elevar, como fizeram a It Comes At night, de Trey Edward Shults, o ano passado, descredibilizando a indústria por aquilo que destaca. Ari Aster está em tão completo conflito com o género como as maquetes criadas pela protagonista, escultora de miniaturas com um excessivo cuidado pelo pormenor que apenas tem valor para ela e será irrelevante para quem vir, sem contexto, a sua exposição. Não é que o guião não faça sentido, é que nada faz sentido em redor dele. Inadvertidamente risível.
Hereditary 2018
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