Thursday, February 14, 2019

Hereditário, de Ari Aster

Escrito e realizado por Ari Aster, Hereditário é a sua ascensão de sete curtas-metragens para o formato longo, naquilo que pode apenas ser descrito como o manual mais detalhado sobre tudo o que não deve ser feito num filme de terror, sob pena de transformar-se numa involuntária anedota de agonizante punchline, com a concretização mais medonha e enfadonha que alguém completamente desconhecedor do género poderia conceber. Para ser mais perfeito, o filme apenas precisava de Nicolas Cage no papel em que Toni Collette canalizou a sua essência.

O realizador disse-se influenciado por O Cozinheiro, o Ladrão, a Mulher Dele e o Amante Dela (1989), mas a única semelhança entre ambos será a construção de todo o interior da casa num armazém, o que permite à câmara acompanhar os actores pelas várias divisões sem cortes; de resto, a obra prima de Peter Greenaway está nos antípodas desta fita inepta, com a impetuosidade da representação de Michael Gambon e a grandiosidade da banda sonora de Michael Nyman a ofuscarem eventuais falhas, ao contrário desta pálida amostra de histeria por parte de Collette e de repulsa por não ter nada para fazer ou dizer de Gabriel Byrne, sem esquecer a convoluta banda sonora do saxofonista Colin Stetson, cujas técnicas de desarmonia obsessiva falham na mescla com as sensibilidades divagantes de Ari Aster em desenvolver uma trama que passe da banalidade à verdadeira tensão, colando episódios de surrealismo bruto com outros de disfuncionalidade familiar, numa básica narrativa sobre possessão demoníaca que não se demarca da engrenagem de fabricar Paranormal ActivitiesInsidious, Annabelles, Freiras e Slender Men, por muito pretensioso que se mostre das suas qualidades e alguns tentem elevar, como fizeram a It Comes At night, de Trey Edward Shults, o ano passado, descredibilizando a indústria por aquilo que destaca. Ari Aster está em tão completo conflito com o género como as maquetes criadas pela protagonista, escultora de miniaturas com um excessivo cuidado pelo pormenor que apenas tem valor para ela e será irrelevante para quem vir, sem contexto, a sua exposição. Não é que o guião não faça sentido, é que nada faz sentido em redor dele. Inadvertidamente risível.

Hereditary 2018

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