Adeus, Victor Salva. Depois de três arranques apadrinhados por Francis Ford Coppola [Clownhouse (1989), Powder(1995) e Jeepers Creepers (2001)], não foram os constantes boicotes aos seus filmes que lhe arruinaram a carreira, mas os próprios filmes. Salva, pedófilo condenado por registar os abusos perpetrados a um actor de doze anos durante as gravações do filme de estreia, teve em Jeepers Creepers o seu maior, mas também último, sucesso. Se a sequela de 2003 desiludiu e os trabalhos seguintes foram muito piores [Rosewood Lane (2012) e Dark House (2014)], Jeepers Creepers 3 é o último prego no caixão da boa vontade.
Anunciado com constantes avanços e recuos desde 2003, alterações no título e mudanças de estúdio, Jeepers Creepers 3 deixou o guião original (Jeepers Creepers 3: Cathedral passava-se 23 anos depois) na gaveta e aninhou-se, por alguma razão, entre o primeiro e o segundo filme, numa espécie de 1.5, passando-se assim toda a trilogia nos mesmos 23 dias de 2000. Salva experimenta um emaranhado de ideias soltas, mal desossadas e até contraditórias, montadas de forma descoordenada e apresentando um todo de onde parecem faltar partes, como um filme pornográfico sem as cenas de sexo, com um resultado confuso e incoerente.
Assim como o segundo filme, este é mais um episódio para passar o tempo. Na versão exibida pelo canal americano Syfy, pelo menos, há dois personagens que tocam naquilo que é sugerido ser uma mão decapitada do Creeper do massacre de 23 anos antes e têm visões da origem do monstro, mas o público é mantido na ignorância sobre o seu conteúdo, o que as torna inúteis, porque nem ajudam a conhecer aquilo com que lidam nem, aparentemente, uma via para derrotá-lo. Estaria prevista uma cena esclarecedora que o financiamento tornou proibitiva? É a única conclusão lógica.
O final é anti-climático, sem lugar a um confronto entre o monstro e os sobreviventes. No início do filme, um jovem enterra a mão do Creeper, que caiu do céu depois deste capturar uma vítima em voo e, 23 anos depois de também ter caído vítima do Creeper, esse jovem revela à mãe o regresso do monstro e o lugar onde a mãe está enterrada, mas, no final, a mãe apenas devolve a mão ao local de onde a desenterrou, com um cartão em que diz que sabe o que o monstro é. E o Creeper, que tem duas mãos, limita-se a desfazer a mão velha e a berrar ao vento.
O furgão do Creeper, que no primeiro filme rivaliza com o camião de Duel (1972), é agora um adereço quase anedótico, com armadilhas embutidas que incluem duas fileiras de espigões verticais na traseira, que formam uma barreira gradeada (mas onde estão guardados os espigões quando inactivos?), outro espigão horizontal para espetar em quem tenta passar da traseira para o espaço do condutor (e que surpreende o próprio Creeper, noutra cena hilariante em que um olho deste até incha) e um arpão que é disparado pelo cano de escape. A parte exterior do furgão não só é à prova de bala, como faz ricochete das balas que lhe são disparadas, um ricochete tão especial que, independentemente do ângulo dos disparos, devolve sempre a bala na direcção do atirador. Há também umas minas redondas que saem do chassi e têm locomoção própria, podendo perseguir viaturas que se desviem delas.
Em Maio de 2016, o realizador afirmava que o terceiro filme iria responder às questões sobre a identidade, a origem e a motivação do Creeper, mas a única resposta chega na forma de um soundbite na abertura: «De 23 em 23 anos, durante 23 dias, o Creeper acorda para comer». E isso já se sabia. Também dizia que o enredo se situava no vigésimo terceiro dia de festim da Besta, mas afinal foi antecipado para quatro dias antes da narrativa de Jeepers Creepers 2. nem se percebe se o Creeper dá grande importância à mão enterrada, já que tem duas e se entretém a caçar durante dias antes de interessar-se pelo membro amputado. Em tantas vítimas do Creeper, porque é que apenas uma se torna fantasma? Que relevância tem a sobrinha do fantasma, para o Creeper a capturar sem matá-la?
No epílogo, aparece uma irreconhecível Gina Philips (17 anos envelhecem qualquer actriz) a chamar às armas através da internet, presume-se que 23 anos no futuro, ou seja, no presente. É uma espécie de Mark Hammil no final do Star Wars VII (2015) mas, com as dificuldades que a produção de Jeepers Creepers 3 teve, é duvidoso que haja um quarto. Meg Foster, aos 69 anos, continua a ter olhos azuis como água, mas a idade vingou-se-lhe no rosto seco e rugoso.
Jeepers Creepers 3 2017
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